CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Arte Poética - Capítulo XXV

Como se deve apresentar o que é falso

Sem dúvida, Homero é por muitas razões digno de elogio; e a principal delas é o fato dele ser, entre os poetas, o único que faz as coisas como elas devem ser feitas.

2. O poeta deve dialogar com o leitor o menos possível, pois não é procedendo assim que ele é imitador. Os poetas que não Homero, pelo contrário, ao longo do poema procedem como atores em cena, imitam pouco e raramente; ao passo que Homero, após curto preâmbulo, introduz imediatamente um homem, uma mulher ou outro personagem, e nenhum carece de caráter, e de cada um são estudados os costumes.

3. Nas tragédias, é necessária a presença do maravilhoso, mas na epopéia pode-se ir além e avançar até o irracional, através do qual se obtém este maravilhoso no grau mais elevado, porque na epopéia nossos olhos não contemplam espetáculo algum.

4. A perseguição de Heitor, levada à cena, mostrar-se-ia inteiramente ridícula: "uns imóveis e que não perseguem, e o outro (Aquiles) que lhes acena com a cabeça negativamente". Numa narrativa, esses detalhes estranhos passam desapercebidos.

5. Ora, o maravilhoso agrada, e a prova está em que todos quantos narram alguma coisa acrescentam pormenores imaginários, com intuito de agradar.

6. Homero foi também quem ensinou os outros poetas como convém apresentar as coisas falsas. Refiro-me ao paralogismo. Eis como os homens pensam: quando uma coisa é, e outra coisa também é, ou, produzindo-se tal fato, tal outro igualmente se produz, se o segundo é real, o primeiro também é real, ou se torna real. Ora, isto é falso. Daí se imagina que, se o antecedente é falso, mas mesmo assim a coisa existe ou vem a se produzir, estabelece-se uma ligação entre antecedente e conseqüente: sabendo que o segundo caso é verdadeiro, nosso espírito tira a conclusão falsa de que o primeiro também o seja. Disso temos exemplo no episódio do Banho.

7. É preferível escolher o impossível verossímil do que o possível incrível,

8. e os assuntos poéticos não devem ser constituídos de elementos irracionais, neles não deve entrar nada de contrário à razão, salvo se for alheio à peça, como no caso de Édipo ignorante das circunstâncias da morte de Laio; e nunca dentro do próprio drama, como na Electra, onde se fala nos Jogos Píticos<1> e nos Mísios, onde um personagem vem de Tegéia até Mísia, sem proferir palavra.

9. Seria ridículo pretender que a fábula não se sustentaria sem isso. Antes de mais nada, não se deveriam compor fábulas desse gênero; mas, se há poetas que as fazem e de maneira que pareçam ser razoáveis, pode-se introduzir nelas o absurdo, pois o passo inverossímil da Odisséia, que trata do desembarque (de Ulisses pelos feaces), não seria tolerável, se fosse redigido por um mau poeta. Mas, em nosso caso, o poeta dispõe de outros méritos que lhe possibilitam mascarar o absurdo por meio de subterfúgios.

11. Quanto à elocução, deve ser muito acurada só nas partes de ação com menos movimento, que não ostentam nem estudos de caracteres, nem pensamentos; um estilo demasiado fulgurante, exibido em toda a peça, deixaria na sombra os caracteres e o pensamento.

Notas

1. ↑ Os Jogos Píticos eram celebrados em Delfos, em honra de Apolo, de quatro em quatro anos. Mas não exitiam ainda, no tempo em que Electra viveu.

Submited by

domingo, abril 12, 2009 - 00:27

Poesia Consagrada :

No votes yet

Aristoteles

imagem de Aristoteles
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 13 anos 19 semanas
Membro desde: 04/11/2009
Conteúdos:
Pontos: 243

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of Aristoteles

Tópico Título Respostasícone de ordenação Views Last Post Língua
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo I 0 614 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo II 0 748 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo III 0 481 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo IV 0 637 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo V 0 620 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo VI 0 597 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo VII 0 604 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo VIII 0 663 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo IX 0 816 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética -Capítulo X 0 512 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo XI 0 1.324 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo XII 0 1.309 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo XIII 0 1.154 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo XIV 0 1.282 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo XV 0 1.384 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo XVI 0 1.064 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo XVII 0 1.592 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo XVIII 0 1.328 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo XIX 0 1.182 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo XX 0 1.410 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo XXI 0 1.331 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo XXII 0 1.385 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo XXIII 0 1.358 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo XXIV 0 1.288 11/19/2010 - 15:52 Português
Poesia Consagrada/Filosofia Arte Poética - Capítulo XXV 0 1.454 11/19/2010 - 15:52 Português