CONCURSOS:
Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia? Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.
Elogio da Morte
Morrer é ser iniciado.
Anthologia Grega.
I
Altas horas da noite, o Inconsciente
Sacode-me com força, e accórdo em susto.
Como se o esmagassem de repente,
Assim me pára o coração robusto.
Não que de larvas me povôe a mente
Esse vacuo nocturno, mudo e augusto,
Ou forceje a razão por que afugente
Algum remorso, com que encara a custo...
Nem phantasmas nocturnos visionarios,
Nem desfilar de espectros mortuarios,
Nem dentro de mim terror de Deus ou Sorte...
Nada! o fundo dum poço, humido e morno,
Um muro de silencio e treva em torno,
E ao longe os passos sepulcraes da Morte.
II
Na floresta dos sonhos, dia a dia,
Se interna meu dorido pensamento.
Nas regiões do vago esquecimento
Me conduz, passo a passo, a phantasia.
Atravesso, no escuro, a nevoa fria
D'um mundo estranho, que povôa o vento,
E meu queixoso e incerto sentimento
Só das visões da noite se confia.
Que mysticos desejos me enlouquecem?
Do Nirvâna os abysmos apparecem,
A meus olhos, na muda immensidade!
N'esta viagem pelo ermo espaço,
Só busco o teu encontro e o teu abraço,
Morte! irman do Amor e da Verdade!
III
Eu não sei quem tu és — mas não procuro
(Tal é minha confiança) devassal-o.
Basta sentir-te ao pé de mim, no escuro,
Entre as fórmas da noite, com quem falo.
Atravez do silencio frio e obscuro
Teus passos vou seguindo, e, sem abalo,
No cairel dos abysmos do Futuro
Me inclino á tua voz, para sondal-o.
Por ti me engolfo no nocturno mundo
Das visões da região innominada,
A ver se fixo o teu olhar profundo...
Fixal-o, comprehendel-o, basta uma hora,
Funerea Beatriz de mão gelada...
Mas unica Beatriz consoladora!
IV
Longo tempo ignorei (mas que cegueira
Me trazia este espirito ennublado!)
Quem fosses tu, que andavas a meu lado,
Noite e dia, impassivel companheira...
Muitas vezes, é certo, na canceira,
No tedio extremo d'um viver maguado,
Para ti levantei o olhar turbado,
Invocando-te, amiga derradeira...
Mas não te amava então nem conhecia:
Meu pensamento inerte nada lia
Sobre essa muda fronte, austera e calma.
Luz intima, afinal, alumiou-me...
Filha do mesmo pae, já sei teu nome,
Morte, irman coeterna da minha alma!
V
Que nome te darei, austera imagem,
Que avisto já n'um angulo da estrada,
Quando me desmaiava a alma prostrada
Do cançaço e do tedio da viagem?
Em teus olhos vê a turba uma voragem,
Cobre o rosto e recúa apavorada...
Mas eu confio em ti, sombra velada,
E cuido perceber tua linguagem...
Mais claros vejo, a cada passo, escritos,
Filha da noite, os lemmas do Ideal,
Nos teus olhos profundos sempre fitos...
Dormirei no teu seio inalteravel,
Na communhão da paz universal,
Morte libertadora e inviolavel!
VI
Só quem teme o Não-ser é que se assusta
Com teu vasto silencio mortuario,
Noite sem fim, espaço solitario,
Noite da Morte, tenebrosa e augusta...
Eu não: minh'alma humilde mas robusta
Entra crente em teu atrio funerario:
Para os mais és um vacuo cinerario,
A mim sorri-me a tua face adusta.
A mim seduz-me a paz santa e ineffavel
E o silencio sem par do Inalteravel,
Que envolve o eterno amor no eterno luto.
Talvez seja peccado procurar-te,
Mas não sonhar comtigo e adorar-te,
Não-ser, que és o Ser unico absoluto.
Submited by
Poesia Consagrada :
- Se logue para poder enviar comentários
- 591 leituras
other contents of AnterodeQuental
Tópico | Título | Respostas | Views |
Last Post![]() |
Língua | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia Consagrada/Soneto | Na capela | 0 | 594 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Velut Umbra | 0 | 713 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Mea culpa | 0 | 496 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | O Palácio da Ventura | 0 | 525 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Jura | 0 | 510 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Ideal | 0 | 837 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Enquanto outros combatem | 0 | 1.092 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Despondency | 0 | 861 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Das Unnennbare | 0 | 792 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Metempsicose | 0 | 765 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Não busco n'esta vida glória ou fama | 0 | 860 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Ad amicos | 0 | 686 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | A um crucifixo | 0 | 596 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Desesperança | 0 | 771 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Beatriz (Humberto de Campos) | 0 | 750 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Amor vivo | 0 | 869 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Visita | 0 | 558 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Pequenina | 0 | 449 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | A Sulamisa | 0 | 851 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Sonho oriental | 0 | 513 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Quinze anos | 0 | 408 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Idílio | 0 | 987 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Noturno | 0 | 723 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Sonho | 0 | 480 | 11/19/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia Consagrada/Soneto | Amaritudo | 0 | 835 | 11/19/2010 - 15:51 | Português |
Add comment