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ELOGIOS VIII
8
(Dramatico)
A ESTANCIA DO FADO
Para celebrar o dia natalicio da Serenissima Princeza D. Maria Thereza
(Representado no Theatro de S. Carlos, em 29 de Abril de 1797)
Actores: O FADO — O (GENIO LUSITANO — LYSIA
A scena se figura na estancia do Fado
SCE NA I
O Fado e o Genio Lusitano
GENIO
Oh tu, que já severo, e já benigno
Ou prostras, ou mantens, ou dás, ou tiras,
Despotico senhor da Natureza,
Ente, de cujas leis é tudo escravo,
Hoje desenrugada a fronte augusta
Affavel te promette ás preces minhas.
Ministro pontual dos teus decretos,
Eu, que ha tantas edades vélo, oh Fado,
Na gloria, no esplendor da egregia Lysia,
De brilhantes heróes origem pura,
Eu por ella te invoco: alto interesse
A dirige, a conduz ante o supremo
Throno, onde reinas, adoravel throno,
Escorado na immensa eternidade.
Dá que a teu gran poder curvando a fronte,
Honrada ha muito de apollinea rama,
Lysia teus dons beneficos implore.
De tudo quanto abrange a longa terra
Nada tão digno de encarar seu solio.
FADO
Magnanima, fiel, constante, invicta,
Lysia, qual a formei, dá lustre ao mundo;
Ante o seu gosto minhas leis se torcem:
Tens influxo, oh Virtude, até no Fado.
Venha, merece olhar-me,.ouvir merece
A voz, que ao proprio Jove o throno abala;
Tóque a vedada, sempiterna Estancia
Por onde em turbilhões mysterios fervem:
Gloria, aos mortaes defesa, a Lysia cabe.
(O Genio rae conduzir Lysia).
SCENA II
Lysia e os mesmos
LYSIA
Fado, prole immortal da eternidade !
Numen, de cujas mãos está pendente
Cadêa em que os fuzís são bens, e males,
A desgraça, a ventura, a morte, a vida;
Dos Tempos movedor infatigavel,
Que de ledas, pasmosas, tristes scenas,
De espectaculos mil sempre matizas
A curva superficie ao terreo globo !
Se desde que assomei luzi no mundo,
Se a tua protecção, commigo estavel,
Das mais claras nações me fez modelo;
Se, escudada por ti, dei ser, dei pasto
A' bella emulação, e á fêa inveja;
Se de illustres acções dourei a historia;
Se a firme tradição c'roei de assombros;
Se meu brado esparzi de clima em clima
Nas férreas tubas da volatil Fama,
Atando em aureo nó Virtude, e Gloria;
Se em fim, qual sempre foste, és inda, oh nume,
Para os desejos meus benigno, facil,
Summa razão, que os move, os felicite.
FADO
O passado, o presente, o que inda ignoto
E' aos cegos mortaes, perante o Fado
Tão claros, n'um só ponto, resplandecem
Como rutila o sol no aereo cume.
Deves, Lysia, porém, gosar o indulto
De livremente expôr teus sãos desejos.
Ao que Lysia appetece o Fado annúe.
LYSIA
A promessa immutavel, que te escuto,
Affectos mil no coração me agita,
De altas idéas me povôa a mente.
Destinada por ti ao grande objecto
De honrar o mundo, e propagar portentos,
Mãe fecunda de heróes, teus fins cumprindo,
Sementes espalhei, de que brotaram
Candidas flôres, generosos fructos.
Desvelada, incansavel, conduzindo
Por entre abrolhos, precipicios, transes
A minha prole audaz, a lusa gente,
Com ella commetti, pizei com ella
O quasi inaccessivel monte ameno,
Onde reside a perennal Memoria.
Com arrojado pé fomos subindo
Os marmóreos degraus do ethereo templo,
E, os estreitos vestibulos entrando,
Vida sem fim, moral eternidade
Corremos a colher nas aras de ouro.
Á turba dos heróes que ali brilhavam,
Luzeiros immortaes de Grecia, e Roma,
Extranheza não fez a nossa entrada:
Curvas as crespas, laureadas frontes,
Com sorriso amigavel nos saúdaram.
Do bafo empestador, que sáe dos vicios,
Jámais os fructos meus crestados foram:
Salvos da corrupção, a edade os traga;
Puros, formosos, como vivem morrem.
Mas dos ramos d'esta arvore, que alcança
Os hemispherios dous co'a vasta sombra,
Tão viçoso nenhum, nenhum tão digno
Do amor da terra, da attenção do Fado
Como o que eu distingui de mil, que nutro,
E' de Bragança o ramo, o ramo annoso.
De raras producções sempre adornado,
Este, cuja grandeza anhélo, adoro.
Em uma, em outra edade o viste, oh nume,
Ao bravo repellão de horríveis Euros,
De procellas fataes illéso, immovel;
Viste-o dar leis a si, dar leis a tantos,
Unir ao mando augusto augusto exemplo,
Assombrosos heróes crear co'a vista.
Por esta de mortaes quasi divinos
Abalisada estirpe, a ti recorro
N'este dia entre os meus de um sol mais puro,
Maria, o tenro, o candido renovo
Da planta que idolatro, eximio fructo,
Dôces primicias, e penhor sagrado
De caro, insigne par, João, Carlota,
Dos lusos corações idolo, e gloria:
Maria hoje raiou no alegre inundo.
Hoje na rubra nuvem scintillante,
De rosas, e jasmins bordando os ares,
Aurora appareceu co'um riso novo;
Hoje o suave, cristalino orvalho
Mais alvo, e mais subtil caíu nas flôres;
O ledo rouxinol, prazer dos bosques,
Novos sons estudou para este dia;
Tornou-se mais formosa a Natureza;
Nas montanhas vestiu, vestiu nos prados
Mais lustroso matiz a primavera;
E agora que renasce este almo instante
As nuvens despe o céo, e o pégo as ondas:
Qual outr'hora exultára o mundo exulta.
A seus, e a meus transportes sê propicio,
Satisfaze os mortaes; ordena, oh Fado,
Que Phebo vezes mil no plaustro de ouro
Com dia tão feliz prospére a terra;
Ordena que mil vezes se renovem
Annos brilhantes na vergontea bella,
Na régia producção de tronco excelso.
Franquêa aos olhos meus, franquêa, oh nume.
O tropel de recônditos mysterios,
Sumido em negros véos, eternas sombras;
Aclara, desenvolve a meus desejos
Altos futuros da gentil princeza.
GENIO
Ás preces que te envia eu uno as minhas.
Amor, Virtude, Gratidão te imploram.
FADO
Eis o mais amplo dom, que póde o Fado
Para vós extrair de seu thesouros.
Silencio, que eu desligo, eu desentranho
Da noute do vindouro os bens supremos
Que á princeza immortal propicio guardo.
Fulgentes como a luz que resplandece
Na pura habitação da eternidade,
Seus destinos vereis, vereis seus dias,
Da generosa avó, do pae sublime,
Da idolatrada mãe retrato egregio,
Virtudes, perfeições em si juntando,
Por mil raros espíritos dispersas,
A mimosa, gentil, real Maria
Dará novo esplendor, á digna patria.
Como o formoso irmão no avito imperio
Dará sagradas leis em clima extranho,
Leis, amigas do céo, do mundo amigas.
Ligada em aureo nó, com fausto agouro,
A regio, claro heroe, credor de obtêl-a,
Fará que a seu louvor não baste a fama,
E cance de espalhar-lhe as maravilhas.
Seus thesouros serão, será seu throno
Asylo maternal dos malfadados,
Almo refugio da virtude oppressa,
Dar sã Justiça, da innocencia amavel:
Tristes que a virem ficarão contentes.
Merito, e galardão, delicto, e pena
Debaixo do seu jugo hão de enlaçar-se;
Por muito, e muito que a Fortuna a brinde,
Mais ha de conferir-lhe a Natureza.
Tantas vezes o sol trará seu dia,
Seu dia, pelas Graças enfeitado,
Que antes que cesse de guial-o ao mundo
Com tanto resplendor, qual hoje o doura,
Hão de esparzir-se nos cerúleos ares
Rotas as rédeas dos Ethontes fulvos.
Vai, Lysia, volve aos teus; co'a face augusta
Regosija os mortaes, de ti saudosos.
O Fado o proferiu: mil bens te esperam.
LYSIA
Graças, numen clemente! Eu corro, eu corro
A derramar na terra o grande annuncio.
GENIO
Lysia, Lysia feliz ! Commigo exulta:
Tudo se cumprirá; não mente o Fado,
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