CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

EPISODIOS TRADUZIDOS III

Latino e seus filhos

(Episodio da «Jerusalem» de Tasso, Canto IX)

Entre os heróes christãos, que pelo esforço
Ante Jerusalem mais se afamaram
Na do feroz Soldão nocturna guerra,
Latino reluziu, nascido em Roma.
Das lidas marciaes, da longa edade
Inda gastas as forças não sentia:
Com cinco filhos, quasi eguaes, ao lado
Nas horridas pelejas sempre andava.
Elles, anticipando ao tempo a fama,
De férreo pezo as frontes opprimiam,
E os membros juvenis, inda crescentes:
Pelo paterno exemplo estimulados,
Amolavam no sangue o ferro, as iras.
«Vamos (o pae lhes diz) lá onde um impio
Co'a fuga dos christãos se ensoberbece:
O horror, o estrago, aa mortes, que fulmina,
Em vós o innato ardor não diminuam:
E' gloria trivial, se a gloria, oh filhos,
De algum passado trance não se adorna.»
Assim brava leôa os filhos bravos,
A quem do collo a juba inda não desce,
A quem das mãos crueis, da horrenda bôca
Inda as terriveis armas não cresceram,
Leva comsigo ás presas, aos combates,
E os vae com torvo exemplo encarniçando
No caçador, que os bosques lhe perturba,
E as feras menos fortes affugenta.
Seguem o pae sublime os cinco incautos,
O enorme Solimão saltêam, cingem,
E n'um só ponto um só arbitrio, e quasi
Um espirito só, seis lanças vibra.
Mas, cegamente affouto, o de mais annos
Sacode a sua ao chão, c'o turco cerra,
E tenta em vão co'a penetrante espada
Derribar-lhe sem vida o gran ginete.
Porém qual monte exposto ás tempestades,
Qual monte sobranceiro ao mar que o fere,
Supporta, firme em si, trovões, e raios,
Os indignados céos, ondas, e ventos;
Assim o audaz Soldão a altiva fronte
Tem fixa contra os ferros, contra as hastes,
E áquelle que o ginete lhe golpêa,
Entre as faces, e os olhos fende o rosto.
Aramante ao irmão, que vae caindo,
Piedoso estende o braço em que o sustenta:
Piedade louca, e vã, que ao damno alheio
Une tragicamente o proprio damno.
O pagão contra o braço o ferro inclina,
E o que a elle se atêm com elle aterra:
Cáem ambos, um sobre outro desfallecem,
E misturam, morrendo, os ais, e o sangue.
Eis, de Sabino a lança espedaçando,
Com que o moço gentil de longe o infesta,
Lhe arremessa o cavallo, e de arte o colhe,
Que por terra, tremendo, o deita, o piza.
Do delicado corpo adolescente
Sáe a alma a grande custo, e deixa triste
Da vida as auras placidas, os dias
Ledos, e ornados de mimosa idade.
Vivos Pico, e Laurente inda restavam,
Com que um só parto os paes enriquecera,
Par florescente, egual, que tantas vezes
Origem fôra de suave engano !
Mas se os fez natureza indistinguiveis,
Já diff'rentes os faz a hostil braveza:
Oh dura distincção ! Em um divide
Do busto o collo, ao outro o peito rasga,
O pae (ah já não pae!... Ah sorte injusta,
Que n'um ponto o privou de tantos filhos!)
A sua morte vê nas cinco mortes,
Na progenie infeliz, de todo extincta :
Nem sei como a velhice é tão constante,
Tão forte, e tão vivaz na extrema angustia,
Que inda respire, que peleje ainda !
Mas as tristes acções, as faces tristes
Não viu talvez dos moribundos filhos,
E do acerbo espectaculo a seus olhos
Parte as amigas trevas encobriram.
Com tudo, não perdendo a infausta vida,
Nada lhe era o vencer. Do proprio sangue
Prodigo freme, e soffrego do alheio:
Nem se conhece bem qual mais deseja
Se morrer, se matar. «Tão desprezivel,
Tão fraca é esta mão (grita ao contrario)
Que de tantos esforços nenhum póde
Contra mim provocar-te a negra sanha !»
Cala, e golpe mortal despede ao fero,
Que, rôto o rijo arnez lhe rompe o lado,
E por larga abertura o sangue ferve.

Ao grito, ao golpe contra o velho ancioso
O barbaro volveu a espada, as furias.
A loriga lhe abriu depois do escudo,
Que vezes septe duro couro envolve,
E o ferro lhe embebeu pelas entranhas.
Eis Latino infeliz soluça, expira,
E com vomito alterno ora lhe salta
O sangue da ferida, ora da bôca.

Qual no Apenino vigorosa planta,
Que as iras desdenhou de Áquilo, e de Euro,
Se tufão desusado em fim a arranca,
Co'a quéda em torno as arvores derruba:
Tal cáe o heróe, e o seu furor é tanto,
Que leva apoz de si mais d'um que afferra,
E de homem tão feroz é fim bem digno
Fazer, até morrendo, altas ruinas.

Submited by

domingo, novembro 1, 2009 - 18:39

Poesia Consagrada :

No votes yet

Bocage

imagem de Bocage
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 14 anos 13 semanas
Membro desde: 10/12/2008
Conteúdos:
Pontos: 1162

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of Bocage

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Poesia Consagrada/Soneto Soneto da Cópula Canina 0 1.776 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Soneto Soneto da Dama Cagando 0 2.357 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Soneto Soneto da Mocetona Pudibunda 0 2.000 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Soneto Soneto da Beata Esperta 0 1.138 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Soneto Soneto da Cagada 0 1.733 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Soneto Soneto da Cópula Esculpida 0 1.266 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Soneto Soneto da Donzela Ansiosa 0 2.104 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Soneto Soneto da Escultura Escandalosa 0 1.621 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Soneto Soneto da Puta Novata 0 6.044 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Soneto Soneto do Caralho Potente 0 1.895 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Soneto Soneto do Corno Choroso 0 2.195 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Soneto Soneto do Corno Interesseiro 0 2.447 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Soneto Soneto do Diálogo Conjugal 0 1.642 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Soneto Soneto do Epitáfio 0 1.816 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Soneto Soneto do Membro Monstruoso 0 1.777 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Geral Chorosos versos meus desentoados 0 1.629 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Geral Convite a Marília 0 1.611 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Geral De cerúleo gabão não bem coberto 0 1.709 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Aforismo Epitáfio — Se estiver nos meus fados a próxima extinção de meus dias 0 3.776 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Geral Incultas produções da mocidade 0 1.339 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Geral O Ciúme 0 2.162 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Geral Outro Soneto ao França 0 822 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Geral Outro Soneto do Prazer Efêmero 0 1.475 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Soneto Soneto Anticlerical 0 1.713 11/19/2010 - 15:49 Português
Poesia Consagrada/Soneto Soneto ao Árcade França 0 1.831 11/19/2010 - 15:49 Português