CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

O Ciúme

Agora, que ninguém vos interrompe,
Lágrimas tristes, inundai-me o rosto,
Mais do que nunca assim o quer meu Fado.
Enquanto o gume de mortal desgosto
Me não retalha os amargosos dias,
Debaixo destas árvores sombrias
Grite meu coração desesperado,

Meu coração cativo,
Que só tem nos seus ais seu lenitivo.
Alterosas, frutíferas palmeiras,
Vós, que na glória equivaleis aos louros,
Vós, que sois dos heróis mais cobiçadas
Que áureos diademas, que reais tesouros,
Escutai meus tormentos, meus queixumes,
Meus venerosos, infernais ciúmes,
Ouvi mil penas, por Amor forjadas,
Mil suspiros, mais tristes
Que todos esses, que até'qui me ouvistes.

Aqueles campos, aprazíveis campos,
Que além verdejam, de meu mal souberam
A desgraçada mas suave origem;
Ali de uns olhos os meus ais nasceram,
Ali de um meigo, encantador sorriso,
Que arremeda o sereno paraíso,
Brotaram mil infernos, que me afligem,
Que as entranhas me abrasam,
Que meus olhos de lágrimas arrasam;

Ali de uns lábios, onde as Graças brincam,
Ouvi suspiros, granjeei favores,
Ali me disse Anarda o que eu não digo;
Ali, volvendo os ninhos dos Amores,
Cravou nesta alma, para sempre acesa,
As perigosas frechas da beleza;
Ali do próprio mal me fez amigo,
Ali banhou meu rosto
Parte do coração, desfeita em gosto,

Novas campinas testemunhas foram
De nova glória, de maior ventura,
Tal, que julguei, logrando-a, que sonhava.
Entre as doces prisões da formosura,
Entre os cândidos braços deleitosos,
Meus crestados desejos amorosos
No alvo rosto, que o pejo afogueava,
No néctar... Ah! Que eu morro,
Se em vós, furtivos êxtases, discorro.

Amor! Amor! Teus júbilos excedem
Da loira abelha os engenhosos favos,
Mais gratos são, que as flores, teus sorrisos.
Gostei todos os bens que aos teus escravos
Fazem tão leve a rígida cadeia,
Tão doce a chama, que no peito ondeia;
Mas oh! Cruéis teus dons, cruéis teus risos,
Princípio do tormento,
Que já me tem delido o sofrimento.

Miserável de mim! Qual o piloto,
Que lera nos azuis, filtrados ares
Indícios de uma sólida bonança,
E eis que vê de repente inchar os mares,
Vestir-se o céu de nuvens, donde chove
O fogo vingador, que vibra Jove,
Tal eu, quando supus mais segurança
No meu contentamento,
O vi fugir nas asas de um momento.

Anarda, Anarda pérfida, teus olhos,
Onde Amor traz escrita a minha Sorte,
Teus mimos por mim só não são gozados!
Oh desesperação, pior que a morte!
Oh danados espíritos funestos,
De hórridos vultos, de terríveis gestos,
Moderai vossa queixa, e vossos brados,
Que as penas do profundo
Também, também se encontram cá no mundo.

Ver outro disputar-me o caro objecto,
Em cujas lindas mãos pus alma e vida,
Não me arranca suspiros: o tormento,
Que no peito me faz mortal ferida,
O maior dos tormentos, ó perjura,
É ver que de outrem sofres a ternura,
É ver que dás calor, que dás alento
A seus mimos e amores
C'um riso, percursor de mil favores.

Tu não foges de mim, tu não te esquivas
Destes olhos, que em ti cativos andam;
Delícias, onde pasma o pensamento,
Doces instantes meu ciúme abrandam;
Mas ah! Não é só minha esta ventura,
Meu vaidoso rival a tem segura.
Que indigna variedade! Em um momento
Teus olhos inconstantes
Acarinham sem pejo a dois amantes.

Honra, virtude, agravo e desengano
Me gritam n'alma que sacuda os laços,
Que tanto sofrimento é já vileza.
Oiço-os, protesto desdenhar teus braços,
Protesto, ingrata, converter meus cultos
Em mil desprezos, irrisões e insultos;
Mas ah protestos vãos! Baldada empresa!
Sou a amar-te obrigado:
Não é loucura o meu amor, é Fado.

Canção, vai suspirar de Anarda aos Lares;
Mas se não lhe firmares
O instável coração, deixa a perjura,
E iremos sossegar na sepultura.

Bocage

Submited by

sexta-feira, abril 10, 2009 - 00:30

Poesia Consagrada :

No votes yet

Bocage

imagem de Bocage
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 13 anos 32 semanas
Membro desde: 10/12/2008
Conteúdos:
Pontos: 1162

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of Bocage

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS LIII 0 415 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS LIV 0 589 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XXX 0 2.151 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XXXI 0 428 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XXXII 0 753 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XXXIII 0 788 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XXXIV 0 525 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XXXV 0 746 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XXXVI 0 732 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XXXVII 0 790 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XXXVIII 0 439 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XXXIX 0 896 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XL 0 754 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XLI 0 457 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XLII 0 1.230 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XVI 0 943 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XVII 0 1.007 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XVIII 0 879 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XIX 0 571 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XX 0 590 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XXI 0 761 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XXII 0 556 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XXIII 0 684 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XXIV 0 827 11/19/2010 - 16:55 Português
Poesia Consagrada/Geral GLOSAS XXV 0 462 11/19/2010 - 16:55 Português