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Victor Hugo: Os trabalhadores do Mar – Primeira Parte: O Senhor Clubin : Livro Quarto: “O Bagpipe” - Capítulo V : Fortuna dos Náufragos Encontrando a Chalupa

Cedo anuncia-se o equinócio na Mancha. É um mar estreito, tolhe o vento e irrita-o. Desde fevereiro começam ali os ventos do oeste sacudindo as águas em todos os sentidos. A navegação torna-se inquieta; a gente da costa contempla o mastro de sinal; a todos preocupam os navios que podem estar em perigo. O mar aparece como uma emboscada; invisível clarim troa para uma estranha guerra. Longas e furiosas lufadas abalam o horizonte; é terrível o vento. A sombra silva e sopra. Na profundeza das nuvens o rosto negro da tempestade entumece as bochechas.

O vento é um perigo; o nevoeiro outro.

Os nevoeiros causam sempre medo aos navegadores. Há nevoeiros que trazem suspensos prismas microscópicos de gelo, aos quais Mariotti atribui as auréolas, os parélios e os paraselenes. Os nevoeiros tempestuosos são compósitos; vapores diversos de peso específico desigual combinam-se com o vapor da água e surperpõem-se em uma ordem que divide a bruma em zonas e faz do nevoeiro uma verdadeira formação.

Embaixo fica o iodo, acima do iodo o enxofre, acima do enxofre o bromo, acima do bromo o fósforo.

Isto, em certa proporção, deduzindo a tensão elétrica e magnética, explica muitos fenômenos, o santelmo de Colombo e de Magalh ães, as estrelas volantes de que fala Seneca, as duas chamas, Castor e Pólux, de que fala Plutarco, a legião romana que a César pareceu ver arderem os dardos, a lança do castelo do Duino no Frioul, que a sentinela acendia tocando com o ferro da sua lança, e talvez mesmo as fulgurações que os antigos chamavam relâmpagos terrestres de Satumo.

No equador, imensa bruma permanente parece cingir o globo, é o Cloud-ring, anel de nuvens.

O Cloud-ring resfria o trópico, do mesmo modo que o Gulf Stream aquece o pólo. Debaixo do Cloud-ring o nevoeiro é fatal. São essas as latitudes dos cavalos, Horse latitude; os navegadores dos últimos séculos, quando passavam ali, atiravam os cavalos ao mar, em ocasião de temporal para alijar o navio, em tempo de calma para economizar a água.

Dizia Colombo: Nube abajo és muerte. (Nuvem baixa, morte certa.

) Os etruscos, que são para a meteorologia o que os caldeus são para a astronomia, tinham dois pontificados - o pontificado do trovão e o pontificado da nuvem: uns observavam o relâmpago, outros o nevoeiro. O colégio dos átigures de Tarqüínia era consultado pelos tírios, fenícios e pelágicos, e de todos os navegadores primitivos do antigo Marinterno. O modo de geração das tempestades era entrevisto; ligava-se intimamente ao modo de geração dos nevoeiros, e, a bem dizer, é o mesmo fenômeno. Existem no mesmo oceano três regiões de brumas, uma equatorial, duas polares; os marinheiros dão-lhe um só nome - le pot au noir.

Em todas as paragens, e sobretudo na Mancha, os nevoeiros de equinócio são mui perigosos. Fazem anoitecer de súbito. Um dos perigos do nevoeiro, mesmo quando não é muito cerrado, é impedir que se reconheça a mudança de fundo pela mudança da cor da água; resulta daqui ficarem dissimulados os cachopos e parcéis. O navegador aproxima-se de um escolho sem ser advertido.

Muitas vezes os nevoeiros não deixam ao navio em marcha outro recurso que não seja por-se à capa ou ancorar. Há tantos naufrágios causados pelo nevoeiro como pelo vento.

Entretanto, após uma violentíssima borrasca que sucedeu a um dia de nevoeiro, a chalupa Cashemere chegou perfeitamente da Inglaterra.

Entrou em Saint-Pierre-Port aos primeiros raios do dia, no momento em que o Castelo Comet salvava o sol com um tiro.

Iluminava-se o horizonte. A chalupa Cashemere era esperada como devendo trazer o novo cura de Saint-Sampson. Pouco depois de chegar a chalupa, espalhou-se o boato de que encontrara à noite no mar outra chalUpa com uma equipagem. naufragada.

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domingo, maio 24, 2009 - 16:31

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