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William Shakespeare : A Comédia dos Erros – Ato IV - Cena IV

Cena IV

(Uma rua. Entram Antífolo de Éfeso e um oficial de justiça.)

Antífolo de Éfeso
Nada temas, amigo, que eu não fujo. Antes de te deixar dar-te-ei a soma justa da minha fiança. Minha esposa desde hoje está de gênio insuportável. Certamente não deu crédito fácil ao mensageiro que levou a notícia de que eu me achava em Éfeso detido. Semelhante notícia - é o que vos digo - lhe há de ter parecido muito estranha.

(Entra Drômio de Éfeso com uma corda.)

Meu criado vem vindo. Com certeza traz o dinheiro. Então, senhor, trouxestes a encomenda de que eu vos incumbira?

Drômio de Éfeso
Aqui está o com que dar a eles todos o troco suficiente.

Antífolo de Éfeso
E o meu dinheiro?

Drômio de Éfeso
Ora, senhor, gastei-o nesta corda.

Antífolo de Éfeso
Quatrocentos ducados pela corda?

Drômio de Éfeso
Com isso, quatrocentas vos comprara.

Antífolo de Éfeso
Que foi que eu te mandei buscar em casa?

Drômio de Éfeso
Uma corda, senhor; eis-me de volta.

Antífolo de Éfeso
Recebe, então, de volta este presente.

(Bate-lhe.)

Oficial de Justiça
Senhor, tende paciência.

Drômio de Éfeso
Paciência preciso eu, que estou apanhando.

Oficial de Justiça
Filho, detém a língua.

Drômio de Éfeso
Mandai, então, que ele detenha o braço.

Antífolo de Éfeso
Descarado! Vilão insensível!

Drômio de Éfeso
Desejara ser insensível, senhor, para não sentir vossas pancadas.

Antífolo de Éfeso
Só és sensível à pancada, tal qual um asno.

Drômio de Éfeso
Sou um asno, realmente; e a prova são estas orelhas compridas. Eu o servi desde o dia de meu nascimento até hoje, não tendo recebido em pagamento senão pancada. Quando estou com frio, ele me aquece com pancada; quando estou quente, ele me esfria com pancada; se durmo, é com pancada que ele me esperta; se me sento, com pancada me faz levantar; quando saio à rua, é com pancada que ele me faz atravessar a porta sendo, também, com pancada que me dá as boas-vindas. Carrego as pancadas nos ombros, como os mendigos os seus fedelhos, e estou certo de que, quando ele me deixar aleijado, terei de mendigar com elas de porta em porta.

Antífolo de Éfeso
Vamos saindo daqui, que minha mulher já chega.

(Entram Adriana, Luciana, a cortesã e Pinch.)

Drômio de Éfeso
Senhora, respice finem, atenção ao fim! Ou melhor, como diz o profeta e o papagaio: Cuidado com o fim da corda!

Antífolo de Éfeso
Ainda te pões a falar?

(Bate-lhe.)

Cortesã
E agora, que dizeis? Não está louco?

Adriana
É o que faz crer a sua grosseria. Meu caro Doutor Pinch, sois exorcista; restituí-lhe a razão, é o que vos peço, e obtereis de mim tudo o que quiserdes.

Luciana
Oh, como ele olha furibundo e firme!

Cortesã
Vede como a loucura o deixa trêmulo.

Pinch
Quero sentir o pulso; dai-me a mão.

Antífolo de Éfeso
Aqui está a mão; senti no ouvido o pulso.

(Bate-lhe.)

Pinch
Satã que habitas este corpo, intimo-te a obedecer às minhas santas preces e voltar sem demora para as trevas. Pelos santos do céu, eu te conjuro!

Antífolo de Éfeso
Cala-te, feiticeiro impertinente! Não estou louco.

Adriana
Ah! quem nos dera mesmo, pobre alma atribulada!

Antífolo de Éfeso
Então, faceira, todos estes são vossos habituados? Este tipo de cara de açafrão jantou hoje convosco em minha casa, enquanto entrada nela me negavam as criminosas portas?

Adriana
Oh, marido! Deus sabe que hoje tu jantaste em casa. Se houvesses lá ficado, ora estarias livre do opróbrio e de tão grande escândalo.

Antífolo de Éfeso
Jantei em casa? Biltre, que respondes?

Drômio de Éfeso
Senhor, para ser franco, não jantastes.

Antífolo de Éfeso
Não nos foi impedida a entrada? A porta não estava trancada?

Drômio de Éfeso
Justamente; fechada a porta, e vós deixado fora.

Antífolo de Éfeso
E ela, não me atirou baixos insultos?

Drômio de Éfeso;
Sans fable, vos lançou baixos insultos.

Antífolo de Éfeso
De mim não riu a sua cozinheira, não me insultou, não me cobriu de chulas?

Drômio de Éfeso
Certes, tudo isso fez a vestal cuca.

Antífolo de Éfeso
E não me retirei de lá, furioso?

Drômio de Éfeso
Isso mesmo; comprovam-no meus ossos, que as marcas ainda têm de vossa fúria.

Adriana
Será prudente concordar com ele?

Pinch
Não há mal; o velhaco tem consciência do estado do patrão, e, concordando com ele, contribui para acalmá-lo.

Antífolo de Éfeso
O ourives subornastes e fui preso.

Adriana
Oh, Deus do céu! Para livrar-te logo, mandei por Drômio quanto me pediste, quando, a correr, buscar foi ele a bolsa.

Drômio de Éfeso
Por mim? Dinheiro? Só se foi em sonho. Certamente pensastes em fazê-lo; mas nem um real, um real sequer me destes.

Antífolo de Éfeso
Não foste procurá-la, porque a bolsa de ducados te desse?

Adriana
Foi a casa, e logo eu lha entreguei.

Luciana
Sou testemunha de que é verdade o que ela está dizendo.

Drômio de Éfeso
Deus e o cordeiro sejam testemunhas de que eu tive a incumbência, tão-somente, de ir comprar uma corda.

Pinch
Estão possessos ambos, minha senhora: o amo e o criado. Na palidez do rosto o reconheço, na maneira de olhar. Será preciso amarrá-los e os pôr em quarto escuro.

Antífolo de Éfeso
Fala: por que hoje me trancaste a porta? Por que não me trouxeste o saco de ouro?

Adriana
Eu não te deixei fora, caro esposo.

Drômio de Éfeso
E a mim, caro patrão, não deram nada; mas concordo em que vós ficastes fora.

Adriana
Mentes, vilão dissimulado, tanto num caso como no outro.

Antífolo de Éfeso
Prostituta dissimulada, és falsa em todos eles. Estás mancomunada com este bando de desclassificados, para objeto me fazeres de opróbrio. Mas com as unhas vou arrancar-te os olhos mentirosos, que com minha vergonha se divertem.

Adriana
Oh, amarrai-o! Não deixeis que o faça!

Pinch
Venha mais gente! O diabo é multo forte.

Luciana
Que olhar! Como está pálido o coitado!

(Entram três ou quatro homens e amarram Antífolo de Éfeso.)

Antífolo de Éfeso
Ireis assassinar-me? Carcereiro, deténs-me e ora permites que me amarrem?

Oficial de Justiça
Mestres, deixai-o livre; ele se encontra sob minha guarda; não podeis prendê-lo.

Pinch
Atai também o criado; está maluco.

(Amarram Drômio de Éfeso.)

Adriana
Oficial insensato, que pretendes? Tens alegria à vista de um coitado que a si mesmo se ultraja e faz violência?

Oficial de Justiça
Ele é meu prisioneiro; se o levardes, de mim exigirão quanto ele deve.

Adriana
Antes de ir, desobrigo-te de tudo. Leva-me ao seu credor, para que eu saiba quanto ele deve e a dívida resgate. Meu bom mestre doutor, levai-o a casa com toda a segurança. Oh dia infame!

Antífolo de Éfeso
Oh prostituta infame!

Drômio de Éfeso
Mestre, por vós me vejo agora preso.

Antífolo de Éfeso
Cala-te, biltre, que me deixas louco.

Drômio de Éfeso
Quereis que vos amarrem sem motivo? Ficai louco e gritai: Aqui, diabo!

Luciana
Quanta tolice esses coitados dizem!

Adriana
Levai-os logo. Irmã, vinde comigo.

(Saem Pinch, os criados, Antífolo de Éfeso e Drômio de Éfeso.)

Dizei: à ordem de quem foi ele preso?

Oficial de Justiça
De um tal Ângelo, ourives. Conhecei-lo?

Adriana
Conheço, sim; e a quanto monta a dívida?

Oficial de Justiça
A duzentos ducados.

Adriana
De que compra?

Oficial de Justiça
De uma cadeia que lhe encomendara vosso marido.

Adriana
Soube que ele havia feito a encomenda para mim; contudo, nunca vi a cadeia.

Cortesã
Pouco tempo depois de entrar, furioso, em minha casa vosso marido e arrebatar-me a jóia - a mesma que lhe vi no dedo há pouco - com uma cadeia ao colo o vi de novo.

Adriana
É bem possível; porém nunca a vi. Ao ourives levai-me, carcereiro; quero ficar a par de tudo o que houve.

(Entram Antífolo de Siracusa e Drômio de Siracusa, com espadas desembainhadas.)

Luciana
Deus nos acuda! Estão de novo soltos!

Adriana
E de espadas na mão! Chamai mais gente, para os prender.

Oficial de Justiça
Vão nos matar; fujamos.

(Saem Adriana, Luciana e o oficial de justiça.)

Antífolo de Siracusa
Pelo que vejo, as duas feiticeiras a espada as amedronta.

Drômio de Siracusa
A que queria ser vossa esposa, agora vos evita.

Antífolo de Siracusa
Vai ao Centauro e tira as nossas coisas. Não vejo a hora de entrarmos no navio.

Drômio de Siracusa
Ora, senhor, ficai mais esta noite; não nos farão nenhum mal. Bem vedes que nos dirigem palavras amáveis, dão-nos dinheiro... Parece tratar-se de uma nação muito amável; se não fosse a tal montanha de carne louca, que me reclama para esposo, não importaria de viver aqui e virar bruxo.

Antífolo de Siracusa
Nem por toda a cidade eu passo a noite. neste lugar. Por isso, não demores: vai logo pôr a bordo nossas coisas.

(Saem.)

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quinta-feira, maio 7, 2009 - 22:23

Poesia Consagrada :

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