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Ótica canina

'Que lindo!' ...
como poderia chamá-lo,
alegre transeunte canino...

Bastou o chamado espontãneo
e um olhar de emoção,
para que chegasse perto,
brincando, displicente, no chão.

gracioso, forte e peludo,
o 'vira' vai ligeiro aos seus pés,
travando os dentes na canela
que embaraço, teve ela!

- Ei, gracinha, onde vc vai? ... espere,
tá me mordendo, quer brincar, não é?

Que patas frenéticas a arranhar,
cabeça enterrada entre as pernas
puxando a calça jeans,
com força de não mais soltar
até que se rendesse a com ele brincar

Alerta! Embocadura certa!

'Mas o que é isso, "menino",
tenho que ir embora, tchauzinho,
larga meu pezinho...
não posso brincar agora,
tenho que ir embora,
Vou pra lá e você pra cá, tá!'

Um verdadeiro cão
nunca larga o seu osso,
nem que fosse o da canela
de um dono que o quisesse
como adotivo ou endosso !

Hilariante! espectadores na rua,
presenciando a cena,
quase a calça a se rasgar,
da insistência do canino
a lhe querer render
a vontade de brincar

Qual impasse infinito,
alguém lhe chama a atenção
ali, na banca ambulante,
o abano de um espanador
distrai os olhos carentes
do canino observador

cão sem dono nem carinho,
sem amigo, nem abrigo.

Ah, que grande chance de escapar!
Vai com pesar se despedindo,
para seu trajeto continuar
'Adeus, cãzinho', vai embora, a pensar

A rotina toma-lhe as horas
do trabalho até a volta,
novamente pela rua,
nenhum canino mais a esperar

Hora de voltar !

Do outro lado uma voz,
'olha a segurança'
um menino a exclamar,
na irônica esperança
de atenção encontrar
de alguns homens distintos
da fina porta de hotel,
é seu retrato diário,
sonhando com um pedaço de céu.

Cruzando-lhe na calçada o olhar,
Sorri com um alegre ' Oiiii ! '

Tão 'alegre' oi ...
a saudação do menino,
sujo, transeunte,
sobrenome 'abandono',
carente, sem teto, sem dono.

Quem o distrairia, no meio do caminho,
quem lhe daria carinho...
e para onde iria?

Angustiante! espectadores da vida,
cena de um simples menino,
ocupando o mesmo lugar
de um cãozinho perdido.

ALERTA ! Menino perdido na rua, vida incerta !

Um verdadeiro homem,
nunca larga seu filho
sem estudo, sem esperança, sem lar
sem um amiguinho para brincar !

Que a ótica da vida seja, diante do criador,
mais humana, mais justa, mais solidária.

Que seja tão prosa e poética, que
faça sorrir um semblante de paz
para com o semelhante.

Com a graça de Deus !

 

 

 

 

 

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domingo, março 13, 2011 - 22:32

Ministério da Poesia :

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espuletah

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