CONCURSOS:
Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia? Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.
Antes de tud’o mais ...
Antes de tud’o mais …
Antes que tudo, desfaço a minha barba com a Gillette, a mais perfeita e bem-feita do mundo e depois de levantar de manhã-cedo, o leito ainda aquecido e marcado pela fixa posição corporal; como uma praxe, faço a cama quando sou o último a levantar, ponho as “orelhas dos lençóis num ápice por cima das almofadas” , a chávena de leite amornado no micro-ondas com a substancial aveia e antes de qualquer outra coisa do dia e no princípio de tudo, de todos os acontecimentos que não serão cerimoniais tanto quanto os da manhã e do café, além de trabalhar das oito e pouco- às sete e tal, olhar na rua o escasso movimento habitual, a apatia dos transeuntes e a simpatia do vizinho da frente que comparece na loja a horas e minutos fixos e certeiros para dizer bom dia, comentar o jornal da véspera e os acontecimentos da periferia, além disso traz por vezes ameixas ou damascos para o lanche ou melancia da quinta que cultiva nem sei onde.
A meio da manhã com a vinda do carteiro, as facturas da luz e da água forçando-nos a pensar que só pode ser assim, a realidade a deixar-se fazer sentir.
Música por “background”, “Dark Blues” ou “Motown Jazz” sempre igual a sempre, assim também a falta de respeito habitual quando pedalo pra cá e pra lá de bicicleta, pela berma da estrada como manda a segurança; faço todos os dias uma silenciosa digressão para a urbe com os carros colando em mim como um estranho “chiclete” de banana com maracujá, uns pegando a outros, como peste; a minha indignação sempre presente, a título de “karma” ocidental e pungente, quase como uma bofetada a frio de “dia-a-dia” é o que acontece quando dou por mim na cidade das más vontades quotidianas, do massacre e da ignomínia, dos cidadãos sem honra nem tino apesar da pressa de alguns; parecendo ser abastados a julgar pelas máscaras fechadas e imponentes e no que diz respeito a carros e a cigarrilhas de saquetas douradas dobradas amarrotadas, atirados com desleixo e ainda com morrão aceso, com ou sem intento, (suponho que não), para a berma mesmo que esta esteja seca, restolho de pirotecnia, incêndio; ruidosas procissões de gentes escravas de uma missão que não entendem e as transcende deixando elas próprias de fazer sentido …
Antes de tudo, Sou um ser indignado por defeito embora o meu feitio seja feito de boas vontades saudáveis e intrínsecas como o salmão e o seu óleo qua tanta falta faz a uma boa, equilibrada dieta, excepto o óleo da batata frita embrulhada, que na ausência me não faz pesaroso ou triste, excepto a um “Mc Donalds” rico, untuoso, obeso e prejudicial, meu rival de peso no que diz respeito ao colesterol que não controlo nem consigo controlar apesar do esforço e da intenção.
Ainda assim e antes de tudo respeito o “laissez-faire” dos outros, além as parcas boas vontades de um sistema global e globalizante, castrador da firmeza individual, legível até na escolha gastronómica das filas diárias e intermináveis de consumidores, nem firmes nem filiformes, em veículos perfilados, cada um com o som do rádio mais irritante que do outro da frente ou no detrás, do sofisticado look de marca nos óculos, da arrogância egocêntrica e automobilística de enfileirado de um e de outro lado nos “drive-ins”, como se fosse aquele o melhor petisco e manjar da Terra e do céu juntos na mesma receita, lado a lado, pão com pão, carne com carne, ambos de duvidosa origem, mercado pra’ apáticas bocas, fácil digestão, chiclete-gástrica.
Antes de tud’o mais, cometo a ignomínia de me regalar com as palavras-minhas desde que chego ao trabalho até que me escapo e quando posso, por vezes parece uma manta de retalhos o que s’crevo ou um labirinto sem saída, sei isso e sinto mas o fio quando se parte da meada numa mais é fio contínuo e os nós se enredam dando uma sensação de trama mal acabada, mal alinhavada, como se fosse um pintor chinês pintando paisagens da Holanda de Gogh em aguarela.
Compõe-se a linha da beleza artística de uma fina camada de sensações das mais longínquas proveniências e até no fazer da barba se define o que será o dia e a semana e a emulsão analgésica do creme de barbear prepara-me a face e o espirito, absorve-me e observo no espelho a consciência separando-se como uma espécie de publica instituição física e intuição profética e poética profunda, criadora.
A missão é não desejar, não triunfar, embora o quisera eu interiormente; em privado ainda assim triunfo, liberto-me de ser escravo embora na realidade não deixe de o ser, natural é o que sempre fui e sou desde que faço a barba de manhã cedo, arrasto os lençóis da cama sobre as almofadas e persuado-me de que tudo é uma narrativa que estico sem o menor esforço. A calçar e descalçar é que experimento o melhor sapato, o que faz menor peso ou melhor passo.
Antes de tud’o mais seduz-me o que é reduzível ao absurdo, a interpretação dos sonhos, a apreciação das acções dos outros e o modo de exprimir que se desenrola do meu polegar erecto à expressividade côncava do que tenho pra dizer na palma da outra mão, astucia ou dom de camada fina.
Antes que tudo, desfaço a minha barba com a Gillette, depois vem tudo o que consegui ser, a repetição dos movimentos da mão destra, nem estrelas mestras nem cometas, o universo inteiro para mim é uma brecha sem conteúdo flui pela minha vontade sem que agarre senão a sensação inútil de repetir os mesmos gestos na orla onde as estrelas começam, a floresta escura.
A missão não é desejar puro, sublime e sem corpo, nem a imaginação se mede na pele dos outros, aos palmos,nos pulsos ou com um termómetro, a única maneira é reconstruir tudo, algo novo, um mundo, pra admitirem que temos isótopos do dom que é sonhar como uma medida real, escudo pra tudo e até contra o tempo, a fluência é um mito urbano, o desapego um medicamento contra nós mesmos, acção pode ser desencanto como a emoção é analgésico, a emulsão do creme de barbear prepara-me a face e o espirito como substancia especial que reage ao exterior e ao submundo, o oculto.
Profetas são os que observam na sonolência dos outros o mistério do sono absoluto, supremo e simbólico, deles próprios assim como a emulsão dum creme de barbear, na pele do rosto…
Joel matos 07/2018
http://joel-matos.blogspot.com
Submited by
Ministério da Poesia :
- Se logue para poder enviar comentários
- 2149 leituras
Add comment
other contents of Joel
Tópico | Título | Respostas | Views | Last Post | Língua | |
---|---|---|---|---|---|---|
Ministério da Poesia/Geral | O Cavaleiro da Dinamarca. | 780 | 3.803 | 04/14/2019 - 19:52 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | Trago em mim dentro | 771 | 4.953 | 04/10/2019 - 10:53 | Português | |
Poesia/Geral | Tesoureiros da luz, | 677 | 11.480 | 05/09/2019 - 10:59 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | Sofro por não ter falta , | 612 | 4.979 | 04/13/2019 - 11:39 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | Difícil é sair de mim, eu mesmo... | 557 | 2.951 | 03/30/2019 - 13:19 | Português | |
Poesia/Geral | A ilusão do Salmão ... | 544 | 3.582 | 04/14/2019 - 19:45 | Português | |
Poesia/Geral | Ou eu me não chame de Antônio ... | 543 | 2.501 | 03/30/2019 - 17:01 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | V de Vitória - Revolução - | 537 | 4.430 | 04/03/2019 - 16:43 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | Ridículo q.b. | 509 | 3.861 | 04/12/2019 - 16:22 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | Minha alma é um lego | 506 | 4.658 | 03/30/2019 - 17:19 | Português | |
Poesia/Geral | Morto vivo eu já sou … | 496 | 3.714 | 05/09/2019 - 11:06 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | Convenço, convencei, convençai… | 491 | 3.620 | 04/09/2019 - 12:00 | Português | |
Poesia/Geral | Como terra me quero, descalço e baixo ... | 480 | 2.124 | 04/09/2019 - 11:52 | Português | |
Poesia/Geral | O erro de Descartes | 479 | 2.822 | 04/09/2019 - 11:49 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | "Je ne dis rien, tu m'écoutes" | 468 | 4.182 | 03/30/2019 - 17:13 | Português | |
Poesia/Geral | (Vive la France) | 465 | 4.380 | 04/14/2019 - 19:48 | Português | |
Poesia/Geral | Sobre conceitos | 436 | 6.002 | 03/30/2019 - 16:59 | Português | |
Poesia/Geral | Último Poema | 435 | 3.820 | 04/10/2019 - 10:50 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | Colossal o Oceano, | 434 | 3.760 | 04/10/2019 - 10:49 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | Eu sou tudo aquilo por onde me perco… | 420 | 4.274 | 03/30/2019 - 17:17 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | Governador de mim… | 416 | 4.006 | 05/16/2019 - 15:46 | Português | |
Poesia/Geral | Certidão de procedência | 406 | 3.145 | 04/09/2019 - 11:58 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | O Gebo e o Sonho. | 404 | 3.935 | 04/10/2019 - 10:48 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | Qual viagem… | 390 | 3.339 | 05/11/2019 - 16:37 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | Tão livre quanto prisioneiro… | 388 | 2.652 | 05/22/2019 - 09:03 | Português |
Comentários
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.