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Dolorosa dor

Dolorosa dor

Naquele momento neural ela percebia toda a dor que lhe afligia. Seu corpo doia em cada milimétrico espaço. Era como se as articulações de seu corpo estivessem desconectadas, como um boneco que fora montado todo desconforme. As bolsas sinoviais altamente desgastadas não lhe amorteciam os impactos.
Mas também seus músculos gritavam em uma fibromialgia grave. A serotonina tão diminuta e incapaz de livrar-lhe. A depressão, angustia e cansaço a tomavam com seus mantos tétricos de forma que só escuridão enxergava.
Era ela uma mulher de meia idade, abandonada pelo marido, com filhos crescidos e casados, cada qual com vida própria, distante de si.
Decidira abandonar a vida ativa e entregar-se ao medo e a indolência. Desapegada do modelo de perfeição feminina que fora um dia, tornara distantes os hábitos mais básicos. Transformou-se em figura repugnante.
Enquanto ela estava ali a caminho da morte passavam-se os dias. Em muitos deles ela sequer comia, em outros caçava nos armários algo embolorado e introduzia boca adentro de forma a não desfalecer por completo. Um copo de água mesmo que da torneira e pronto. Os únicos banhos que tomara foram os de assento a cada vez que ia ao banheiro. Era inverno então não suava muito e era suportável viver assim. Se bem que o suportável para ela com certeza não o seria para ninguém...
A campainha tocou e a vontade insuportável de urinar fez com que ela levantasse e olhasse pela janela para ver quem era.
Nossa e agora? Pensou ela. De súbito seu cérebro se ativou, ela passou de seu estado depressivo de total inércia para um estado de alerta, quase eufórico. Era Otávio, um ex-namorado de tantos e tantos anos, eles se amaram perdidamente e depois se perderam no tempo, após uma briga que começara por uma razão que ela sequer se lembrava. Como jovens dão valor a futilidades e se deixam levar por ela. pensou.
Como a descobrira ali, trancafiada? Morando em outra cidade desde que casara, havia perdido o contato com ele totalmente. Enquanto sua menta fazia inúmeros questionamentos e conjecturas, seu corpo se agitava, em um estado de excitação extrema tentando decidir o que fazer. Recebe-lo? Como? Naquele estado horrível. E a casa toda desorganizada e suja. Seus cabelos oleosos ao ponto de fazer uma fritura com eles (bah que nojo!), cheios de nós por não penteá-los há dias. Olheiras profundas, mau hálito....com aquele pijama velho, talvez mais velho que aquele amor de outrora, já rasgado e totalmente amassado. Mas não deixa-lo ir também... Se que percebesse colocou novamente o rosto na janela, apresentando-se horrenda como estava.
- Otávio? É você mesmo? Falou antes que pudesse impedir que suas palavras se projetassem até ele.
- Sandraaaaaaaaaaaaaaaaaa? Fala ele indignado com o que vira. Mas procurar lembrar-se da sua amada tal qual era e imagina-la ali linda e vislumbrante naquela janela, ocultando então a imagem de agora.
Ao perceber o espanto de Otávio ela abaixa-se com o rosto entre as pernas que imediatamente foram contornadas pelos braços como forma de esconder-se ou proteger-se. Permaneceu ali parada até que ele pudesse perceber que ela não tinha ido abrir a porta ou coisa assim. Então ele a chama mais uma vez:
- Sandra, abra a porta, por favor. Precisamos conversar.
- NÃO POSSO? Grita ela sem se movimentar. Seu corpo todo está tenso, trêmulo, o suor agora lhe escorre pela face e ela começa chorar compulsivamente, em total desespero. E ele insiste:
- SANDRA! Grita ele e procegue falando em tom menor. Por favor, pare com isto. Viajei muito para vê-la, não seja infantil. E ela retruca irritada:
- Não estou sendo infantil, estou horrível, não posso recebê-lo assim. Fala de forma incisiva, mas ao mesmo tempo apavorada pela possibilidade de perdê-lo mais uma vez.
- OTÁVIO! Grita ela mais uma vez.
- Sim, estou aqui aguardando. Diz ele aliviado.
- VOLTE EM DUAS HORAS E CONVERSAREMOS. Sandra grita mais uma vez, temendo que ele discorde.
- Ok, voltarei, mas prometa que vamos conversar com adultos que somos. Diz ele em tom um tanto aborrecido.
- Sim prometo. Diz Sandra e sem esperar a resposta se levanta. De forma eletrizante começa a pegar as roupas espalhadas pela casa e joga-las na Lavanderia dizendo às mesmas como se lhe pudessem ouvir.
- PARA FORA. PARA FORA E PARA FORA. CHEGA DE TANTA IMUNDICE....
Em uma seqüência ininterrupta de voraz vai organizando cada cômodo, limpando, lavando, trocando as camas com as roupas limpas esquecidas nas gavetas. As mais belas peças que há anos não tocava, algumas das quais sequer se lembrava. Lençóis de linho o edredom ainda na embalagem que o filho mais velho lhe dera há quatro anos no Dia das Mães. Nos banheiros coloca os jogos que haviam ficado perdidos no maleiro do guarda-roupa, com lindos bordados e detalhes. Após lavar as panelas, pratos, copos, talheres e copos que estavam sobre a pia por dias, guarda cada um em seu devido lugar. Corre a apanhar o lustra móveis depois de passar o pano e aspirar a sala. Com certeza se ela dissesse ser capaz de fazer toda aquela organização em menos de uma hora. Exatamente, sessenta parcos minutos, ninguém acreditaria. A casa estava um brinco, ela olha cômodo a cômodo para ver se não se esqueceu nenhum detalhe e satisfeita vai ao espelho.
- Parabéns Sandra você se superou. Diz a si mesma, com um leve sorriso nos lábios. Mas seus olhos observam os fios brancos que nascem na raiz dos cabelos e diz:
- Minha nossa preciso corrigir isto. Imediatamente procura no gabinete do banheiro o resto de tintura que sobrou da última vez, nada. Provavelmente ela deve ter jogado fora. E agora? Pensa ela preocupada. Já sei fala como se com alguém. Vai ao armário apanha o seu melhor jeans, a blusa de lã lilás e o sobretudo jeans um tom mais escuro que a calça. Separa as botas de cano alto e o exarpe com tons lilás. Corre para o banho,um banho rápido porém energizante. Não havia tempo para depilação a cera, então dá-lhe gilete. Como de praxe corta-se na altura do tornozelo direito. Assim que termina enxuga-se e começa um processo de untar-se com olhos e cremes. Procura o esmalte que melhor combine com o que vai vestir, como se tudo precisasse ter o mesmo tom, nem sabe como consegue pintar todas as unhas do pé e da mão sem borrar. Um secante e pronto, vai em busca de uma bela lingerie. Lembra-se do conjunto lilás que comprara antes de separar-se e que sequer teve tempo de estréia-lo. Encontra-o no fundo da gaveta dobrado e ensacado como chegara da loja. Pega seu perfume Chanel 5 e veste-se com rapidez.
Oh Senhor onde coloquei meu secador! Diz e ao mesmo tempo continua sua busca desenfreada. Mal o encontra liga-o a tomada e pegando a escova com rapidez começa a secar e fazer cachos em seus cabelos longos. Em seguida apanha o exarpe, colocando-o de modo a amarrá-lo do lado direito deixando as pontas caídas, uma para frente e outra para traz. Abre a gaveta de maquiagem e com um corretor procura esconder as manchas e imperfeições de seu rosto. Base, blush, sombra, delineador, lápis e.
Blim blom, toca a campainha. Blim blom, mais uma vez. Duas horas se passaram, mas ainda faltava o batom e o gloss para os lábios. Passa-o freneticamente e limpa o excesso quando houve.
- SANDRAAAAA! NÃO VAI ME ATENDER. Grita Otávio já imaginando ter voltado em vão. Quando pensa em desistir, a porta se abra e aquela visão anterior é totalmente apagada pela imagem de Sandra agora lindamente produzida e feliz. Ela tem um ar de tranqüilidade e sensualidade que fazem as pernas de Otávio bambear.
- Olá Otávio, perdoe-me por não tê-lo atendido antes. Entre, Diz Sandra com um sorriso amistoso e convidativo.
- Sandra, você está lindíssima. Quanta saudade diz ele e a abraça, ficando assim por alguns instantes, como que querendo recuperar o tempo perdido. Ela o pega pelas mãos, ele sente a maciez daquela pela que há tanto tempo não tocava.
- Obrigada, entre, por favor. Diz ela.
- Como é bom reencontra-la depois de tantos anos Sandra. Você não imagina como me fez falta. Ele fala delicadamente, sentando-se na namoradeira vermelha que tem logo na entrada. Sem soltar a mão de Sandra a puxa para que se sente ao lado e a fita os olhos de forma apaixonada.
- Diga-me Otávio, como me encontrou depois de todos estes anos. Soube que você casou-se com uma fazendeira de Goiás e que tido administrar as terras dela.
- Sim diz ele. Casei-me e fiquei casado até ela falecer de um câncer há oito meses. Conta ele sem tirar seus olhos dos olhos de Sandra.
- Você deve ter sofrido muito com a morte de sua esposa. Diz Sandra retirando suas mãos das mãos de Otávio, enciumada.
- Sim sofri porque Andréa era uma mulher muito boa, compreensiva que sempre soube me amar mesmo sabendo não ser amada... Antes que Otávio prosseguisse Sandra o inquire.
- Não a amava, como assim? Nunca a esqueci Sandra, você foi e é meu único, grande e verdadeiro amor. Os olhos de Sandra brilham esfuziantes e Otávio prossegue.
- Até hoje não compreendo porque brigamos.
- Nem eu me lembro a razão. Diz Sandra.
- Lembro-me apenas que após uma discussão tola qualquer você endureceu seu coração e me abandonou, por mais que eu pedisse perdão e implorasse, mesmo sem saber pelo que fazia você não voltou atrás de sua decisão de terminamos tudo. Eu passei anos de desespero. Você começou namorar e casou-se para minha angústia e desesperança, foi quando conheci Ana Rita e me casei mesmo sem amor na tentativa de esquecer você. Pensei que me casando, mudando para outro estado eu conseguiria, mas qual nada.
Sandra está olhando para Otávio atenta a cada palavra e lembrando-se que Mirela, amiga comum, lhe dissera sobre ele exatamente isto, mas ela não acreditara pensando que a amiga quisesse apenas consola-la. Então ela se levanta e oferece a ele um vinho, o mesmo Carbernet que beberam antes da briga.
- Espero que este vinho desta vez não seja prenúncio de uma briga, diz ele sorrindo.
- Não será. Diz ela.

- Pois é encontrei com Mirela há um mês, quando voltei a Santa Rita. Ela me falou de você disse que seu casamento tinha terminado, deu-me seu endereço e desde então quero vir vê-la a cada instante, mas temia pelo modo que você me receberia. Ontem entretanto, tive um sonho com você. Você estava em um poço e gritava por socorro acordei desesperado, me troquei imediatamente e peguei a estrada para cá. Quando você apareceu na janela percebi que de fato não estava bem, mas depois que voltei e a vi assim tão deslumbrante fiquei até confuso. Diz ele sorrindo.
- Um brinde a nós, ao seu sonho ou pesadelo, a Mirela. Diz ela sorrindo alegremente.
- Tim tim. Diz Otávio levando a taça à boca. Em seguida ele a olha e a beija com ternura e logo em seguida ambos começam a beijar-se com loucura, inflamados pelo clima e possibilidades de estarem juntos depois de tantos anos. Línguas que se enrolam, mordidas, abraços, carícias. Em movimentos bruscos e selvagens vão despindo ao outro e ardendo em excitação. A paixão é tamanha que nem se apercebem o quanto aquela namoradeira é pequena e desconfortável para aquele ato de amor selvagem, que os faz cair no tapete e mesmo assim não param, prosseguem implacáveis em uma luxúria incontida, incessantes, como se a idade não lhes fosse peso algum. Êxtase após êxtase se entrenrolam ao outro e recomeçam como da primeira vez. Depois, ainda deitados no tapete macio com os pés sobre a namoradeira ficam por alguns minutos parados, enamorados, apaixonados, ela com a cabeça sobre o peito dele, ele com os braços envolvendo o corpo dela riem e lembram-se dos velhos tempos. Quando Sandra o chama:
- Vamos tomar um banho e deitar na cama?
- Sim vamos. Diz Otávio. Que tal sairmos para jantar?
- Tenho uma idéia melhor. Que tal pedirmos uma pizza e ficarmos por aqui?
- Perfeito? Além de linda você sabe das coisas, diz ele sorrindo.
Pedem a pizza e prolangam à noite o máximo que podem. Na manhã seguinte Otávio levanta-se vai a Padaria mais próxima e prepara um lindo café da manhã para Sandra. Em clima de romance passam mais um dia ali sozinhos, enamorados.
No dia seguinte Otávio deve voltar a Santa Rita, pois tem compromissos pendentes. Então ele chama Sandra para ir com ele e ambos saem para uma viagem ao passado, onde reencontram Mirela a amiga e madrinha deste amor.
No almoço com Mirela, Sandra está divinamente vestida, pele cremosa e macia, olhos brilhantes de quem está vivendo um grande amor, então Otávio não se contém, ajoelha-se defronte a ela. A amiga fica surpresa com a rapidez que tudo caminha. Sandra pergunta:
- O que é isto querido? E ele com um olhar apaixonado diz:
- Case-se comigo Sandra. E em um ímpeto de volúpia Sandra se levanta os deixa ali no Restaurante e caminha para o Estacionamento.
 

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quarta-feira, junho 8, 2011 - 00:04

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