"Amor simplesmente"

“Amor simplesmente”
(historia contada em rima após uma reflexão sobre o Afeganistão)
                    
Em terra do oriente passado
Um dia como qualquer outro
Num jardim de minas plantado
Um futuro que parece morto

Nos destroços de um quintal
Brincavam dois garotinhos
Seus pais doentes por sinal
Todos comiam pior que mal
De esmolas de alguns vizinhos

Ouviu-se por ocasião
Um trote silencioso
Três homens e um ancião
Todos com armas na mão
De semblante pouco amistoso

Eles garantem subsistência
A família do afortunado 
Abeiraram-se sem clemência
Com soberana prepotência
E o mais velho foi recrutado

Voltou-se meio a chorar
Olhou para o seu irmão
-Com quem vou eu brincar?
Murmurou a soluçar
Agarrando-lhe pela mão

-Não fiques triste baixinho,
por não te poder levar,
agora que és homenzinho,
olha pela mãe e pelo paizinho,
que eu prometo que vou voltar

Aquele olhar de ternura
Na cara de um menino
Num instante se adulterou
Foi-lhe traçado o destino
Pela gentes que o levou.

Entregou-se com firmeza
A religião e ao seu regime
Promessas de riqueza
E mais honra em cada crime

A inocência foi embora
O ódio tornou-se razão
O carinho ficou de fora
O final já tinha hora
Para aquela criança de então
.
No dia por eles marcado
Para a grande consumação
De explosivos todo ligado
O jovem mártir é aclamado
E partiu para a execução

Por entre a multidão
De consciência meio vazia
Escutou no seu coração
A voz do seu irmão
Que em pranto lhe dizia

-Eu sonho em ser soldado
O resto da minha vida
Quero ficar a teu lado
Não suporto outra partida

Sua alma estilhaçada
Regada com aquele amor
Não estava abandonada
Tinha apenas sido roubada
Pelo ódio e pelo rancor

Pegou no colo o menino
E bem pronto se afastou
Traindo um falso destino
Que um dia alguém lhe traçou

John Contreiras