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Bacalhau com natas

Pá… os gatos miavam o cio nos quintais, duas televisões acesas, o rafeiro do vizinho do terceiro direito a ladrar, rádios a conferir o trânsito, a gaja do rés-do-chão, boa até ao caraças na caixa do correio…
-Boa noite…
-Boa noite (comia-te toda) …
Tiro o azimute ao elevador… Sou daqueles gajos desprovidos de conversa, o que me faz passar grande parte do dia com expressões que afinei para disfarçar a falta de verbo, estilo: hum, hum, talvez, bom dia, boa tarde, boa noite, compilados com trejeitos faciais que me vão desobrigando na arte de comunicar.
O elevador a parar em todas as estações e apeadeiros, a gaja numa dinâmica, lenta, lenta, de quem está a consultar toda a obra da biblioteca nacional, entra aquele gajo com boa pinta que mora lá para cima, mais um que vai obrigado ás reuniões de condomínio.
-Então tudo bem…
Olha para o cú da gaja, olha para mim e utiliza um dos trejeitos que eu costumo usar com os olhos para confirmar o óbvio… (comia-te toda)!!!
Há um cheiro a cozinha no hall, a mim todos os prédios me cheiram a lulas guisadas e não me perguntem porquê.
A gaja tem uma tatuagem ao fundo das costas, a preta que mora no segundo entrou com as compras do mês inteiro a carregar todos os sacos de asas que estavam disponíveis no “Continente”, o gajo deixa cair a chave do carro eu apanho-as e dou-lhas, tem um Mercedes…Pôrra, este gajo tem um Mercedes!
A boa da vizinha desfila sobre os degraus que levam ao elevador, sou do tempo em que para se ir para o rés-do-chão ficava-se logo ali, mas isto foi antes de deus inventar as sub-caves...
Vai haver disputa para entrar no elevador, por ordem de chegada eu e gaja já lá estávamos, o gajo e a preta dos sacos chegaram depois, quando já haviam mais de duas televisões acesas no genérico do telejornal, os gatos continuavam a miar, o rafeiro já se tinha calado, os rádios desligados e…
Toca-me o telemóvel…
-Onde estás?
-Aqui em baixo!
Muito baixinho para a gaja boa, o gajo e a preta não ouvirem…
-Olha vai aí á pastelaria e traz pão…traz um bolinho também…
Fodasse…
Faço um daqueles trejeitos em indício de despedida, desço os degraus, entra o administrador do prédio…-oi…então tudo bem?
Seguro na porta para ele entrar, saio, pego no telemóvel…
-O que é o jantar?
-Bacalhau…com natas!
Uau, o prédio todo a comer lulas guisadas e eu a comer bacalhau com natas, os gajos todos a entrarem com a boa no elevador e eu a descer a rua…fantástico!
Entro na pastelaria, peço:
-Seis bolas de agua…
Aproveito e compro dois Ventis, saio…entro, olho para os bolos, pego no telemóvel…
-Pá que bolos é que queres?
-Não sei… vê lá tu!
Eu gosto de cervejas não gosto de bolos, cervejas com enchidos, chouriços, morcelas assadas, presunto, alheiras, gosto de chispes, ela gosta de bolos, chocolates, essas merdas que fazem mal…
Compro uma caixa com bolos que vou designando á rapariga:
-Quero este, este, aquele…
-Qual este?
-Não o outro que está atrás…
-Ah, a parra…
Um trejeito de interrogação, acho os nomes dos bolos uma cena altamente burguesa, pago e saio.
Rua acima, olho para o Mercedes do vizinho, ( fodasse, ganda máquina…puta que o pariu), entro no prédio, não há gatos a miar nos quintais, as televisões têm o telejornal a meio, os cães latem ao longe acabrunhados na noite em principio, os rádios morreram, não vejo a gaja, nem o gajo, nem a preta, nem o administrador, o elevador está cá em baixo, entro, subo, saio, entro, olho-a, ela olha-me, é mais boa que a vizinha porque é a “galinha” de outro vizinho… Beijos, abraços, outros laços…um “amo-te a acender a noite”…
Bacalhau com natas para o jantar!

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sexta-feira, março 12, 2010 - 21:12

Poesia :

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Lapis-Lazuli

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Comentários

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Re: Bacalhau com natas

Gostei do desenvolvimento, situações tantas vezes conhecidas de todos!!!

:-)

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Re: Bacalhau com natas

Também fico sempre com a sensação que o jantar do vizinho é sempre melhor que o meu...enfim.

Pá...5*

Abraço
Nuno

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Re: Bacalhau com natas

A mim, os prédios, cheiram sempre a peixe cozido...
Pá... Não me canso de o ler!
Beijinho em si!
Inês

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