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BEIJO NECRÓFAGO

Rudes telhados
me abrigam os açudes da alma
da têmpora da tempestade musa de precipícios.

Amaldiçoada calma,
enxofrada de culpa chorada
em palavras mutiladas de tempo morto.

Ontens são cápsulas
ejaculadas sulco ao sempre,
museus de portas derrubadas.

Amanhãs
são misericórdia de olhos fechados,
acordes de cabeça doída em senão.

Linhas abalroadas
em estéticas sozinhas,
belezas capotam a clavícula da voz impaciente.

Invernos escoados
em pêndulos oscilados
entre o gume da utopia e o espeto da vida.

Corrente de nada nadado
contra o vento de frente envelhecida
na ponta da língua mordida por ecos sem refúgio.

A saliva salva-se ninho de víboras letais.

Montanhas enfaixadas
na polpa da carne que amamenta o passo
rumo à invenção do deleite que padece.

Poemas escravos
de tramas alcunhadas de beijo necrófago
buscam na boca da morte o invólucro do apocalipse.

O pôr-do-sol é um deserto de azeite
onde a noite é água sem candeia na penumbra do Eu.

Alpendres
fatigados em fatias bolorentas
no tubo de uma espingarda apontada ao ovo dos amantes.

Luz de luas sem rodas,
triangulares luares untados por carumas
oradas tronco de uma floresta cujo corpo transpira o fim.
 

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domingo, janeiro 30, 2011 - 20:46

Poesia :

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Henrique

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