Cegueta

Era uma vez um rapaz sem olhos,
Com um mundo à sua frente.
E por não saber o que seriam olhos,
Não se achou em nada diferente.

Andava sempre aleijado,
De tantos encontrões que ele dava
A tudo o que à sua frente estivesse parado,
Ou que simplesmente não se desviava.

Cheirava mais que toda a gente,
Memorizando tudo o que podia.
Apalpava o que não via à frente
E interrogava-se pelo que sentia.

Um dia sentiu mais do que o permitido,
A uma rapariga que ao seu lado passava.
Apalpou-lhe as mamas despercebido,
Que apalpar mamas era coisa sagrada.

Levou um estaladão que até viu estrelas,
Sentindo nas mãos as formas arredondadas.
Sem ver achou-as simplesmente belas.
Imaginando duas bolas almofadadas.

"Seu esútipo! anormal!"
Chamou-lhe a rapariga.
"Não consigo ver, não foi por mal."
Respondeu-lhe o rapaz em seguida.

A rapariga ficou com pena,
Respondendo-lhe num despacho.
"Se achas que em cima valeu a pena,
Então apalpa mais abaixo".