CHORO NÃO CHORAR …

Choro não chorar.

Acto em grito
que traz o sabor da língua
como uma cabra de saber saltitante.

Pelas montanhas do tempo errante,
itinerância sem verbo.

Cardume estéril,
toada minguante a jusante do amanhã.
cume de paciência que colapsa sobre o ontem.

Manhã de fado destinado ao desafino,
por todo o lado desamarrado,
enchumaçados vazios frios.

Duna desgarrada
em arrepios de vermelhidão
que acossa o encantamento dos poetas.

Eco em dores carecas,
leito condutor de águas turvas,
nascente de um rio de curvas sem foz.

Tempestade a sós com a bonança.

Morte de pança cheia,
colmeia de fantasmas como estrelas pasmas
a ressonar insónias pelo silêncio da madrugada.

Olhos fechados sem fundo,
o mundo numa concha sem mar
onde desaguar as mãos do meu ser.

Catavento impulsionado
por bofetadas de sedes perversas.

Muralhas pérfidas,
demolidas saídas através de beijos às avessas
nos lábios suculentos do meu sentir.

Carnudo ir mudo,
apoquento que rasteja enroscado ao tear da noite.