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CICATRIZ DE AMOR NOS MEUS OLHOS


A madrugada está dentro de mim como gelo absorto.
Estrelas como ouro morto sem brilho. Sujo de desgosto.

Ténue esperança como veneno fatal.
Qual rio sem foz me corra espinhoso nas veias
como fantasma debaixo da cama grunhe os meus medos.

Mortalha de destino escabroso. Absinto.
Pântano onde meus pés são tempestade que sinto
como lobo faminto a devorar-me as entranhas do corpo.

Ave que bate as asas em voo incerto,
mais do que morto. Vulto desperto por frios
que choram zumbidos de agonia como catarro na garganta.

Inverno em grito, como eco de barro às cegas
numa gruta cuja escuridão ecoa brechas nos meus ossos
embrandecidos por lágrimas. Onde canta a lua o eclipse da vida.

São os sonhos um barco à deriva pelo deserto da paixão
que não desfrutei. Cemitério de afectos onde me fundeei em silêncio.

Sentimento de luz negra.
Névoa como cave onde fede a infância do passado
cujo alçapão é um velório em cicatriz de amor nos meus olhos.

Olhar mudo, semente de ventos numa canção
de rugas roucas. Loucas seivas onde mente moída a noite.

Breu em lâmina como piano de sofrimentos na minha alma.

Dama de tormentos. Bafos de esterco
como chuva insípida sacie as flores de insónia que dói
em poesia. Vampira de cores escritas pelo vinho da morte.

Caminho de fossos por onde se ab-roga o sol
em saudade. Como cadáver que rasteja sobre o fel
da minha pele incrustada de cornos em fogo satânico.

São as palavras a urna da minha culpa. Poemas como voz
da morte que me avermelha os lábios com sangue repugnante.

Minhas mãos são florestas despenteadas pelos horrores
dos pesadelos que me adereçam o corpo de cobras e sombras.

O tempo é uma sepultura
que uiva deuses na solidão cujo vácuo tem sede do meu ser
que nada como poeira à tona de um mar de lamentos lodacentos.

Sinto-me criança que se afoga num poço incendiado por tristeza.

Qual trovão sem rumo caia como pedra
que jaz no ângulo do inferno em que me desaprumo.

Poeta como fumo sem oxigénio
numa candeia de feridas cujas larvas são musas
de nudez verme que me beija em ilusão borboleta.

 


 

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segunda-feira, setembro 26, 2011 - 13:18

Poesia :

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Henrique

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Comentários

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Henrique, Pelo belo título:

Henrique,

Pelo belo título: "Cicatriz de amor nos meus olhos" somos capturados e com a leitura, mergulhamos na profundidade dessa cicatriz, desnudada no poema de uma verdade crua, nua e bela...

Maravilhoso!smiley

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