CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Cravado de fogo

Um fogo cravado e revolto nas íntimas palavras que tenho em meu nome…
Nisto, estou de corpo presente e em registo gravado na terra nascido, baptizado, público, ao alcance de ver.
Do que trouxe e do que levo nada fez falta senão a alguns…ficará portanto o secreto, no universo incolor das minhas ausências.
Deste nome que acha o meu corpo finito e lembrado, ficará o murmúrio que nas horas do tempo morrerá em silêncio.
Sou talvez o que tinha de ser para existir fora de mim.
Tantas vezes um fogo cravado e revolto nas íntimas palavras que tenho em meu nome, gritou a razão das cinzas do povo onde nasci.
Assim a correr para o cerco onde me findo…não levo nada.
O que deixo?
A substância intacta no chão dos mundos, que abordei com os meus dedos para transformar matéria bruta em transpiração.
Deixo o toque, sem herança, sem filhos, sem fortuna, que a luta é o espólio dos deserdados.
E os meus sonhos?
Que é feito do cosmos e das noites de lua que cresciam comigo a adivinhar os futuros…?
Era o eu inventor, o genérico, o homem dos sete instrumentos, arqueólogo, saltimbanco…palhaço de deus numa súplica de aplauso.
Queria ser tanto, entre o tudo e o nada, que acordado do sono ficou só o meu nome.
O meu nome, são 37 anos de histórias que conto de mim para mim, com finais inventados, cinzeiros solitários, bicas de água, sirenes de fábricas, relógios de ponto e abraços da malta que me fez camarada.
Evaporo para fora de mim…segundos;
Leve, vazio, cristalino como água fresca, que livre cascata em charco…
E venta nos pinheiros e nos carvalhos secretos pelo breu que se manta pelos campos na serena brisa nocturna…
Nos corgos levita o átomo que pinga num chá dançante sob o coaxar das rãs…
È o mundo dos silêncios que aventa a mansidão e olvida o burburinho que troa na boca dos homens.
Aqui a eternidade é uma rua comprida que se encaminha na escuridão e acaba em horizontes a meio metro do centímetro onde já não é a luz a candeia dos meus passos.
Estalam traços nos meus pés de caruma em mutação, transpiram pelo ar, grilos, cigarras e tons que se erguem em sinfonia a consagrar a paz do cosmos.
E cheira…cheira a terra, cheira a rio, a útero, cheira à exultação do mundo a encantar-me de magias que me lembram o amor…
Tenho de voltar a mim, à cidade e ás horas que sabem meu nome.
Cravado de fogo quero saber a força e a causa...
Nunca me deu para isto dos operários…dos tintos e das pataniscas ao final da tarde, dos tascos a abarrotar de suor proletário, de corpos luxados dentro de fatos-macacos…mas tenho de ser assim, lutar para ser assim, acordar de madrugada, provar da dor e da fome que escurece os braços dos homens de um fumo perfumado de diesel, tenho de vestir como eles, já que o fogo cravado e revolto nas intimas palavras que tenho em meu nome…
È herança de um orgulho…
Orgulho da classe que me pariu, orgulho da classe que me alimenta, orgulho da classe onde me visto… todas as manhãs de fato-macaco

Submited by

terça-feira, fevereiro 23, 2010 - 23:40

Poesia :

No votes yet

Lapis-Lazuli

imagem de Lapis-Lazuli
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 9 anos 40 semanas
Membro desde: 01/11/2010
Conteúdos:
Pontos: 1178

Comentários

imagem de rainbowsky

Re: Cravado de fogo

Cravado de fogo e de cheio de alma!
Parabéns Lapis-Lazuli!

rainbowsky

imagem de MarneDulinski

Re: Cravado de fogo

LINDO E MAIS SUAVE SEU POEMA, QUE MUITO GOSTEI!
Meus parabéns,
Marne

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of Lapis-Lazuli

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Fotos/ - 3517 1 3.632 03/13/2018 - 20:32 Português
Poesia/Aforismo In Vapore Sano 4 2.766 03/13/2018 - 20:32 inglês
Poesia/Aforismo Era só isto que eu queria dizer 1 2.408 02/27/2018 - 09:22 inglês
Poesia/Aforismo salgo :33 Isaías sonha que aos fala aos camones 0 2.003 06/20/2014 - 14:41 inglês
Poesia/Geral Boca Do Inferno 0 5.558 07/04/2013 - 21:44 Português
Poesia/Pensamentos veludo 3 2.566 05/15/2013 - 16:34 Português
Poesia/Aforismo Segundo Reza a Morte 0 2.463 10/04/2011 - 16:19 Português
Poesia/Meditação Fumo 0 2.350 09/23/2011 - 11:00 Português
Poesia/Aforismo De olhos fechados 3 2.792 09/20/2011 - 21:11 Português
Poesia/Aforismo Tundra 0 2.369 09/20/2011 - 15:36 Português
Poesia/Meditação Vazio 3 2.408 09/16/2011 - 10:00 Português
Poesia/Aforismo Intento 0 1.978 09/05/2011 - 15:52 Português
Poesia/Aforismo Palma Porque sim...Minha Senhora da Solidão 0 2.269 08/29/2011 - 10:13 Português
Poesia/Aforismo Editorial 0 2.428 08/29/2011 - 10:08 Português
Poesia/Pensamentos Ermo Corpo Desabitado 0 2.615 08/29/2011 - 10:04 Português
Poesia/Aforismo Dos passos que fazem eco 1 2.089 06/21/2011 - 21:06 Português
Poesia/Meditação Autoretrato sem dó menor 3 3.713 03/28/2011 - 22:34 Português
Poesia/Aforismo Todo o mundo que tenho 2 2.404 03/09/2011 - 07:23 Português
Fotos/ - 3516 0 4.247 11/23/2010 - 23:55 Português
Fotos/ - 3518 0 3.946 11/23/2010 - 23:55 Português
Fotos/ - 2672 0 5.425 11/23/2010 - 23:51 Português
Prosas/Outros A ultima vez no mundo 0 2.434 11/18/2010 - 22:56 Português
Prosas/Outros Os filhos de Emilia Batalha 0 2.658 11/18/2010 - 22:56 Português
Poesia/Desilusão Veredictos 0 2.366 11/18/2010 - 15:41 Português
Poesia/Intervenção Nada mais fácil que isto 0 2.401 11/18/2010 - 15:41 Português