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Descontroladamente
Escreves nessa página tão vazia
Quanto buracos negros a cuja densidade nem a luz escapa
Enquanto o fazes propagam-se em ti múltiplas nuances
Não na forma pensada como te interpretas e classificas
Mas nos meandros subtis da matéria que te cobre o espírito
No teu ponto zero
O limite insondável onde inicialmente te transformaste no que julgas ser
E as palavras serão apenas símbolos dispersos
Que se fundem num processo de infinita metamorfose
Algo que é tudo e nada em simultâneo
Ainda assim
No zénite dessa consciência
Continuas a escrever
A agrupar símbolos
Porque procuras uma ordem
Está-te nos genes
Recusas a impossibilidade de organizar
De definir parâmetros
E escrevendo
Crias em ti a ilusão de nomear sentimentos e sentidos
Experiencias
Guardadas numa gaveta imaginaria
A que mais tarde
Se é que isso existe
Chamarás memória
Quer sejas apenas um elemento desconhecido
Mais um humano vivo
Ou uma importante figura de toda a historia
Conhecida
De qualquer forma
Terá sido em glória a tua vida
Uma probabilidade ínfima e magnífica
Daí o desejo de deixar fluir
Ainda que a essência do que comunicas se descontextualize no exterior
Se esfume na realidade pragmática em que tudo deverá ser apenas o que parece
A alma profunda em contato com a matéria
Sem estrutura
A página já não é branca agora
Pigmentada por uma serie de infusões não generalizadas
Deixa-se preencher
Para que não tenha sido em vão
A existência de um princípio
||PSY
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