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DESEJOS
Não são tão macias as palavras quanto o toque
de tuas pernas sobre as minhas pernas,
em noites que me parecem eternas,
onde me levanto antes que me sufoque,
o desespero de saber de tudo
que me revela o teu gesto mudo,
mas que em medo me nego a falar.
Que não me desespere a palavra tanto quanto o ato,
sempre a nos unir neste silente quarto,
onde pouco de amor se fala ou se faz,
pois que o medo sempre nos rodeia,
sentando-se conosco a nossa ceia,
como a sombra de um animal feroz,
que se debate tanto quanto nos
e que na longa noite geme e solta ais,
dentro da jaula onde as barras o separam,
de sentimentos que tanto o abalam,
como os nossos que nos desesperam,
como daqueles que teimam e esperam,
pelos seus mortos que não voltam mais.
E assim seguimos pela longa noite,
nos enlaçando a nos debater,
nos debatendo a nos enlaçar,
e por maior que seja o castigo,
quero beber de tua fonte amigo,
cujo sabor jamais vou esquecer,
por mais que venha o tempo a passar,
como se passa essa noite eterna,
onde descansar sobre a minha perna,
a tua perna como a me ninar.
Paulo Nunes
New York,
3 de Agosto de 1982
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