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Entre Anjos

Sou um anjo negro. Minhas asas
Sempre viveram em mim 'scondidas,
Os meus olhos são como brasas
Que queimam as vãs almas perdidas.

É negro este meu coração.
Foi desabituado a sentir,
Mesmo quando o 'smaga 'quela mão,
Mesmo quando cresce o triste carpir.

Eu só gosto do que é insolito:
Deliro co'o sangue e co'o macabro;
Os pensamentos bons eu evito,
Jamais o coração eu abro.

Eu sou uma alma triste, medonha.
Fui educado para somente agir
E nunca me tornar num que sonham
Que segue o caminho a sorrir

Satisfeito co'o bem que provocou.
Contudo sinto-me diferente:
Houve algo em mim que se modificou
Sinto que meu coração já sente.

Conheci um anjo dos celestes.
Suas asas 'stão sempre visíveis
-Como é hábito nos celestes!-
Seus olhos calmos e irresistíveis.

Eu dvo-me ter apaixonado
Por aquele doce coração,
A quem fadas tecem o Fado
E não deixam chegar o sermão

Daqueles negros anjos como eu.
Modifiquei meu comportamento,
Tentei tornar-me num anjo do céu,
Mas para meu grande sofrimento,

Descobri uma triste verdade:
Um anjo das trevas não pode amar
Nem ser amado. A realidade
É que esse vil amor pode matar.

Mascaro-me de um bom amigo
Tentando enganar assim a fada.
Mas ela vê-me como perigo
E termina com a mascarada.

Volto para o meu canto em lágrimas
Sentidas. Clamo para o alto
Palavras nas alturas máximas;
Contra uma parede bato e salto.

Tudo em vão. Nenhuma resposta.
O Anjo celeste ignora-me.
Ela de mim apenas desgosta
Ignorando-me pro mais que eu clame.

O ter mudado das trevas para o Céu;
O ter renegado minhas crenças;
O ter oferecido o sangue meu;
O ter adoecido co'a doença

Que faz o coração ficar louco
E renunciar a velha vida,
Puxando p'la voz 'té ficar rouco
De gritar a palavra perdida:

"Amor". Anjo sou, já fui e serei!
Anjo negro sem capacidade
P'ra amar. Da escuridão sou rei.
Esta é a única verdade!

Sou a saúde e a pior peste;
Sou o amor e o triste ódio
Sou aquele que te usei, Reste,
Tanto sentiu o amor vazio

De amar sem nunca ser amado.
Mas o que um ajo podia esperar,
Sabendo que o seu corpo cansado
Era negro, tão negro como o mar?

Sou um anjo negro. O meu Fado
É uma vil corrida constante,
Através da escuridão de mim
Onde não há nenhum verde jardim.
Tudo, desde o primeiro instante
Responde a uma 'stranha lógica
Guardada há muito no passado.

Sou aquele cuja a alma é rica
Pois nada tendo senão o amor
Tudo tem num leito de doce dor.

13-07-1997
 

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sábado, março 26, 2011 - 00:52

Poesia :

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gaudella

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Comentários

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Comprido, mas lindo, bem escrito, "sou uma alma triste, medonha, foi educado , só para reagir e nunca bucscar algo de bom para si, é isso?muito bom.

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