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As Estações em Haikais: Verão

Natsu (Verão)

I.
ôta ko ni kami naburaruru atsusa kana

A criança às costas
Brincando com meu cabelo —
Que calor!

Sono-jo

II.
hashii shite saishi o sakuru atsusa kana

Saio na varanda
Para fugir da mulher e filhos.
Que calor!

Buson

III.
otoko bakari no naka ni onna no atsusa kana

Apenas homens,
E uma mulher entre eles.
Que calor!

Shiki

IV.
kumo no mine mizu naki kawa o watari keri

Cúmulos-nimbos
Atravessando os céus
Sobre o rio sem água.

Shiki

V.
samidare o atsumete hayashi mogamigawa

Recolhendo toda
A chuva do mês de maio
Corre o rio Mogami.

Bashô

VI.
yûdachi ya kusaba o tsukamu murasuzume

Um aguaceiro —
Os pardais da aldeia
Se agarram ao capim.

Buson

VII.
yûdachi ni utaruru koi no atama kana

Chuva de verão.
Os pingos batem
Nas cabeças das carpas.

Shiki

VIII.
junrei no bô bakari yuku natsuno kana

Apenas
Os bastões dos peregrinos —
Campo de verão.

Ishû

IX.
natsukawa o kosu ureshisa yo te ni zôri

O rio de verão —
Que alegria atravessá-lo
De sandálias à mão.

Buson

X.
hiya-hiya to kabe o fumaete hirune kana

Refresca um pouco
Pôr os pés na parede
durante a sesta.

Bashô

XI.
hirune shite te no ugoki yamu uchiwa kana

Ao fazer a sesta,
A mão que segura o leque
Pára de se mexer ...

Taigi

XII.
me ni ureshi koigimi no ôgi masshiro naru

Que coisa linda,
Agitando o leque branco,
É o meu amor.

Buson

XIII.
hito kitara kawazu to nare yo hiyashi uri

Oh, melões frescos,
Se alguém aparecer,
Transformem-se em rãs!

Issa

XIV.
kyô nite mo kyô natsukashi ya hototogisu

Mesmo em Quioto,
Saudade de Quioto —
O canto do cuco ...

Bashô

XV.
chôchin no shidai ni tôshi hototogisu

Se afasta a lanterna
Sumindo na escuridão —
O canto do cuco.

Shiki

XVI.
hototogisu naki naki tobu zo isogashiki

Olhe para o cuco
Que só canta, canta e voa —
Que vida ocupada!

Bashô

XVII.
uguisu no naku ya chiisaki kuchi aite

O canto do rouxinol
E seu biquinho —
Aberto.

Buson

XVIII.
tobu ayu no soko ni kumo yuku nagare kana

Salta uma truta —
Movem-se as nuvens
No fundo do rio.

Onitsura

XIX.
te no uchi ni hotaru tsumetaki hikari kana

Na palma da mão,
Um vagalume —
Sua luz é fria!

Shiki

XX.
shizukasa ya iwa ni shimiiru semi no koe

Quietude —
O canto das cigarras
Penetra nas rochas.

Bashô

XXI.
yagate shinu keshiki wa miezu semi no koe

Nada indica
Que ela vá morrer —
Canta a cigarra.

Bashô

XXII.
asakaze no ke o fukimiyuru kemushi kana

Veja o vento matinal
Soprando os pêlos
Da taturana!

Buson

XXIII.
ashimoto e itsu kitarishi yo katatsumuri

Quando é que você veio
Para junto de meus pés,
Oh, caramujo?

Issa

XXIV.
katatsumuri soro soro nobore fuji no yama

Caramujo,
Suba sem pressa
O Monte Fuji!

Issa

XXV.
hae utsu ni hana saku kusa mo utarekeri

Ao matar a mosca
A erva que tem flores
Tambem esmagada.

Issa

XXVI.
waga yado wa kuchi de fuite mo deru ka kana

Em minha cabana
É só assobiar
Que vêm os mosquitos!

Issa

XXVII.
nomi no ato kazoenagara ni soeji kana

a mâe conta
enquanto dá de mamar
as picadas de pulga.

Issa

XXVIII.
nomi domo mo yonaga darô zo sabishikaro

Também para as pulgas
A noite deve ser longa
E solitária.

Issa

XXIX.
rôsoku ni shizumarikaeru botan kana

Assim como a vela,
Mergulhada no silêncio,
A peônia

Kyoroku

XXX.
ara tôto aoba wakaba no hi no hikari

Quão glorioso,
Nas folhas verdes, folhas tenras,
O brilho do sol!

Bashô

XXXI.
yamabata o kosame hareyuku wakaba kana

Entre a roça e a montanha,
A chuvinha vai parando ...
A folhagem nova!

Buson

XXXII.
hirugane ya waka take soyogu yama zutai

Sinos da tarde —
Na passagem da montanha
Tremula o bambu novo.

Jôsô

XXXIII.
hasu no hana saku ya sabishiki teishajô

A solidão
De uma estação de trem —
Flores de lótus.

Shiki

XXXIV.
keshi saite sono hi no kaze ni chiri ni keri

Abriu-se a papoula
E ao vento do mesmo dia
Ela veio ao chão.

Shiki

XXXV.
natsugusa ya tsuwamonodomo ga yume no ato

tudo o que restou
dos sonhos dos guerreiros —
Capim de verão

Bashô

Seleções de Haikais clássicos japoneses, extraídos do site:

http://www.kakinet.com/cms/index.php

Nota do poeta: O site Caqui autoriza a divulgação dos haicais (originais e traduzidos) desde que citado o endereço do próprio site.

Como encontramos o nome do tradutor estamos também citando o seu belo trabalho: Edson Kenji Iura publicou na coluna "Um Mestre Japonês" da página "Haicai Brasileiro" do Jornal Nippo-Brasil (São Paulo), entre 1999-2003.

Os haicais originais foram extraídos de diversas fontes:
1. Blyth, R.H. Haiku. Tóquio, Hokuseido.
2. Blyth, R.H. A history of haiku. Tóquio, Hokuseido.
3. Franchetti, P. Haikai, antologia e história. Campinas, Unicamp.
4. Maruyama, K. Issa haiku-shû. Tóquio, Iwanami.
5. Matsuo, Y. Haiku jiten kanshô. Tóquio, Ôfûsha.
6. Mizuhara, S. e outros (ed). Nihon dai-saijiki. Tóquio, Kodansha.
6. Nakamura, S. Bashô haiku-shû. Tóquio, Iwanami.
7. Ogata, T. Buson haiku-shû. Tóquio, Iwanami.
8. Yamamoto, K. Bashô sanbyaku-ku. Tóquio, Kawade.

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quarta-feira, janeiro 26, 2011 - 23:02

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