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Eternas almas escondidas

Talvez porque a alma seja transparente

e o corpo se meça com músculos e palmos de mão,

será por isso que somos sempre seres invisíveis,

quem somos fica invariavelmente por mostrar,

ou por dizer,

porque a nossa transparência

não se pinta com a cor das palavras que nos saem da boca,

nem se vê na dança dos gestos que habitam o corpo,

somos eternas almas escondidas,

como cubos de ar fechados dentro de caixas,

cativos em prisões nunca inventadas,

estátuas encarceradas em blocos de granito por esculpir.

 

A mim nunca ninguém me viu ou verá,

o que habita dentro,

e que é o sonho maior do meu coração,

é mundo incógnito para quem apenas olha,

os cotovelos roçam na multidão,

mas para esta serei sempre e só um corpo,

um corpo com uma boca que grita palavras escritas em dicionários alheios,

em nenhum deles encontrei eu algum dia a minha alma,

nenhuma palavra foi inventada para ou por mim,

nenhuma delas nasceu de dentro de mim,

todas vêm de fora e,

quando as volto a lançar para a multidão,

elas levam somente o meu cheiro,

não aquilo que sou,

o cheiro é sempre pista para algo mais,

indício daquilo que talvez não se veja ainda,

mas já se sabe existir,

quem me vê apenas sabe que aqui estou,

o meu corpo é o meu porta-voz,

mas a voz que ele transporta e que é o que se esconde por dentro,

essa ninguém procura,

sabe-se que existo, como ou porque existo?,

isso continua como um corpo de braços abertos por detrás de um muro.

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segunda-feira, fevereiro 28, 2011 - 12:43

Poesia :

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Andraz

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