CONCURSOS:
Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia? Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.
Fernando Pessoa- O livro do desassossego ( V )
Nunca aprendi a existir. Tudo o que quero consigo, logo que seja dentro de mim.
Sem mim, o sol nasce e se apaga; sem mim a chuva cia e o vento geme.
Estátua interior sem contornos, sonho exterior sem ser sonhado.
…esse episódio de imaginação a que chamamos realidade.
Ah, quem me salvará de existir? Não é a morte que quero, nem a vida: é aquela outra coisa que brilha no fundo da ânsia como um diamante possível numa cova a que se não pode descer.
Quando julgo que recordo, é outra coisa que penso, que vejo, ignoro, e quando me distraio, nitidamente vejo.
Ler é sonhar pela mão de outrem. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo.
Há dois tipos de artista: o que exprime o que não tem e o que exprime o que sobrou do que teve.
Não quero ter alma e não quero abdicar dela. Desejo o que não desejo e abdico do que não tenho. Não posso ser nada nem tudo: sou a ponte da passagem entre o que não tenho e o que não quero.
Podemos morrer se apenas amámos.
Amarem-no cansava-o.
Sobre as emoções tenho curiosidade. Sobre os factos, quaisquer que venham a ser, não tenho curiosidade alguma.
Nenhum prémio certo tem virtude, nenhum castigo certo o pecado.
A vida é a busca do impossível através do inútil.
A alma humana é um manicómio de caricaturas. Se uma lama pudesse revelar-se com verdade, nem houvesse um pudor mais profundo que todas as vergonhas conhecidas e definidas, seria, como dizem da verdade, um poço, mas um poço sinistro cheio de ecos vagos, habitado por vidas ignóbeis, viscosidades sem vida, lesmas sem ser, ranho da subjectividade.
Perco-me se me encontro, duvido se acho, não tenho se obtive.
A sede de ser completo deixou-me neste estado de mágoa inútil.
Todos somos iguais na capacidade para o erro e para o sofrimento.
E, assim, alheios à solenidade de todos os mundos, indiferentes ao divino e desprezadores do humano, entregamo-nos futilmente à sensação sem propósito, cultivada num epicurismo subtilizado, como convém aos nossos nervos cerebrais.
Ser pessimista é tomar qualquer coisa como trágico, e essa atitude é um exagero e um incómodo.
Não posso ler, porque a minha crítica híper-acesa não descortina senão defeitos, imperfeições, possibilidades de melhor. Não posso sonhar, porque sinto o sonho tão vivamente que o comparo com a realidade, de modo que sinto logo que ele não é real, e assim o seu valor desaparece.
A existência do mal não pode ser negada, mas a maldade da existência do mal pode não ser aceite.
Ninguém se amaria a si mesmo se deveras se conhecesse, e assim não havendo a vaidade, que é o sangue da vida espiritual, morreríamos na alma de anemia.
A vida que se vive é um desentendimento fluido, uma média alegre entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver.
O pensamento pode ter levação sem ter inteligência, e, na proporção em que não tiver elegância, perderá a acção sobre os outros.
A força sem a destreza é uma simples massa.
A arte mente porque é social. E há só duas grandes formas de arte – uma que se dirige à nossa alma profunda, a outra que se dirige à nossa lama atenta. A primeira é a poesia, o romance a segunda. A primeira começa a mentir na própria estrutura; e a segunda começa a mentir na própria intenção. Uma pretende dár-nos a verdade por meio linhas variadamente regradas, que mentem à inércia da fala; outra pretende dár-nos a verdade por uma realidade que todos sabemos bem que nunca houve.
Sou os arredores de uma vila que não há, o comentário prolixo a um livro que se não escreveu.
http://topeneda.blogspot.pt/
Submited by
Poesia :
- Se logue para poder enviar comentários
- 1890 leituras
Add comment
other contents of topeneda
Tópico | Título | Respostas | Views | Last Post | Língua | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Pensamentos | MUTILAÇÃO DE ESPÍRITO ... | 0 | 2.066 | 03/12/2012 - 18:08 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Suprema Perfeição | 1 | 1.341 | 03/12/2012 - 18:06 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Ó Almas danadas! (parte 2) | 2 | 1.446 | 03/11/2012 - 22:13 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Ó Almas danadas! (parte 3) | 0 | 1.789 | 03/11/2012 - 21:51 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Ó Almas danadas! | 2 | 1.314 | 03/11/2012 - 13:49 | Português | |
Poesia/Pensamentos | CAVALO DE GUERRA | 1 | 2.372 | 03/10/2012 - 16:26 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Circulo de confiança | 3 | 2.218 | 03/07/2012 - 16:51 | Português | |
Musica/Metal | Crystal Gazing | 0 | 4.648 | 02/20/2012 - 00:10 | Português | |
Musica/Metal | Lunar Still | 0 | 4.645 | 02/20/2012 - 00:03 | Português | |
Musica/Metal | Capricorn At Her Feet | 0 | 5.706 | 02/19/2012 - 23:54 | Português | |
Musica/Metal | Antidote | 0 | 7.202 | 02/19/2012 - 23:48 | Português | |
Musica/Metal | Everything Invaded | 0 | 3.894 | 02/19/2012 - 23:44 | Português | |
Musica/Metal | From Lowering Skies | 0 | 5.109 | 02/19/2012 - 23:39 | Português | |
Musica/Metal | IN AND ABOVE MAN | 0 | 8.575 | 02/19/2012 - 23:34 | Português | |
Musica/Metal | Mr Crowley | 0 | 5.115 | 02/19/2012 - 23:25 | Português | |
Musica/Metal | Than the serpent in my hands | 0 | 6.946 | 02/19/2012 - 23:15 | Português | |
Musica/Metal | How became fire | 0 | 4.642 | 02/19/2012 - 23:08 | Português | |
Musica/Metal | Rapaces | 0 | 6.305 | 02/19/2012 - 22:55 | Português | |
Musica/Metal | Nocturna | 0 | 6.188 | 02/19/2012 - 22:39 | Português | |
Musica/Metal | Firewalking | 0 | 5.051 | 02/19/2012 - 22:32 | Português | |
Musica/Metal | Darkness and hope | 0 | 5.054 | 02/19/2012 - 22:28 | Português | |
Musica/Metal | NIGHT ETERNAL | 0 | 4.631 | 02/19/2012 - 15:36 | Português | |
Musica/Metal | K | 0 | 4.406 | 02/19/2012 - 15:25 | Português | |
Musica/Metal | Angelizer | 0 | 3.954 | 02/19/2012 - 15:19 | Português | |
Musica/Metal | Adaptables | 0 | 4.122 | 02/19/2012 - 15:16 | Português |
Comentários
interiorizações
(re)ler Pessoa é viajar conti_nua_mente
à descoberta do nosso interior humano e poético.
Quem não se redescobre em cada dia, será sempre incompleto,
muito mais incompleto que aquilo que deveria ser.
Um abraç0o
Abilio