Há dias abençoados

De: Luz e Sombra - Rogério Medeiros, 2012

Há dias abençoados
Em que tudo corre conforme planeado.
Recebes em troca o amor que dás
E sentes-te capaz do acto mais perspicaz.
Teu desejo de vida é voraz.

Há dias abençoados
Em que desfrutas do amor com alguém a teu lado,
Experimentas tudo o que te apraz
E não olhas atrás.

Há dias abençoados
Em que no trabalho é-se recompensado,
Dá-se o melhor em tudo o que se faz
E cada qual sente-se capaz
Do acto mais pertinaz.

Há dias abençoados.
Desfrutas da solidão num certo tempo isolado.

Dás um passeio, visitas a praia em veraneio.
Deslizas pelas águas de um rio, sobes uma montanha a fio.
Compras-te presentes, sorris às gentes.
Registas no caderno esse dia eterno.

Vais ao cinema e regressas a casa a pensar no tema.
Experimentas a comida que normalmente te está proibida.
Estás com os amigos, então estás fora de perigos.
Ouves uma cantilena, que entoa em ti, serena.

Fazes uma caminhada pelo meio do nada.
Gozas bem uma deriva campestre, colhes os aromas silvestres,
Lês alguma literatura e a sensação de prazer perdura.
Reencontras um conhecido no passado perdido.

Sobes a um miradouro, para apreciar a cidade de oiro.
Vais a uma galeria de pintura e imaginas-te dentro da gravura.
Consegues a assinatura do artista da tua loucura,
Conhece-lo pessoalmente, tão parecido ou não com o desenho na tua mente.

Vais ver o mar, para nas suas vastas águas o pensamento espraiar.
Há dias abençoados.