INTERROGAÇÃO

A minha pantera

Pintei uma pantera, negra é a sua cor,

Envolvida no seu verde de amor,

Fui eu que a criei, olha sempre para mim,

Tem o seu semblante sempre muito carregado,

E quando olho para ela me sinto assustado,

É apenas uma pintura, não posso ficar assim.

Criei – a numa tarde de verão de muito calor,

Nas minhas pinceladas, deixei lá o meu amor,

Quando me sento, não posso deixar de olhar,

E duvido de mim, parece que não a pintei,

Mas efectivamente fui eu que a criei,

É a minha pantera negra nunca a vou apagar.

Os seus olhos brancos realçam do seu negro,

Parece que olham para os meus e me alegro,

Por ter sido eu o seu pintor,

Passo muito tempo a olhar para ela,

Pois a sua cor negra me parece a mais bela,

Estou orgulhoso por ter sido o seu criador.

E amo tanto aquela minha pantera,

Parece – me viva, mas é uma quimera,

Que ilude os meus olhos diferentes dos seus,

Às vezes penso que queria ser uma pantera,

Para ter assim também uma cara austera,

Para meter medo aos inimigos meus.

No meu silêncio eu falo sempre com ela,

Quando olho para aquela pequena tela,

Onde expressei toda a minha imaginação,

Sei que ela nunca me vai responder,

Mesmo que falasse nunca a ia entender,

Mas ela fala através do meu coração.

Tavira, 15 de Julho de 2010 - Estêvão