Múmia Sadia

Fechei as portas que me fizerem tremer de medo.
Não quis mais perder algo que nunca foi meu.
Mentalizei-me que não existe na terra um céu
E que o mais próximo do bom é o degredo.

Tornei-me bruto, prático imoral,
Não tive mais propósitos do futuro,
A cada passo que dava existia um muro,
Intransponível, duro e artificial.

Talvez fosse apenas uma maré de azar,
Talvez amanhã o dia pudesse correr pelo melhor,
Mas todos os dias a falta daquele amor,
Batia com tanta força que não chegava a sarar.

Cheguei a um ponto em que quase não vivi,
em que ambição de algo era menos que pequena,
em que alma permanecia impávida e serena

E nada me movia.

 E nada me agradava.

Até que veio dia
que cansei de ser uma múmia sadia
e nasci.