CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Memento Mori

Memento Mori

É me o ar agreste neste travesseiro de varas moles. Sim, sei.
Fustiga-me o rosto, há navalhas mais suaves. Sei, sim.
Gélidas palavras para um EGO colossal!
Salva-se o lençol, as polainas, e este encosto.
Tudo quanto talvez tenha… e quero.
Ao termo o horizonte. Grite-se?
Estas espigas ressequidas, já as vi e conheci.
Quão tenebroso era esse meu olhar de outrora. Essa fera.
É preciso vontade para sentir saudade.
Vagueia (Corria!)… Descansa na memória de outros tempos.
Sobre mim, o céu. Sonhe-se? Essa tela de projecções? Só.
Só actos humanos imperecíveis.
Hoje esverdeia-se como um prado.
Réstias de azul. E verde? Um pouco por todo o lado.
Alguém consente e espera mais dessas vontades risíveis.
“A doce esperança que lhe acalenta o coração acompanha-o,
Qual ama da velhice – a esperança que governa,
Mais que tudo, os espíritos vacilantes dos mortais.”
Esta é já a única que ainda flui por estes campos.
Mas que outras? Porque o querer quando se tem casa?
Fontes de ódios e angústias vãs.
Sois ingénuos crentes no sentir e na bonança.
Este céu é vosso e não mais meu.

Floresta, bem-vindo abismo velado que toco em folhagens de sensação!
Corrente aberta em que cavo para mim os mundos que não inspiro!
Cada passo ruma ao exterior das rotineiras paredes brancas da função.
Fujo o regresso para os caminhos da aura em que vem e vai nosso retiro
E nas entrelinhas, o sonho bagageiro em coma na citadina monotonia
A consumir a inércia do banco traseiro a que me entrego em conformismo!

Os horizontes, ainda não avistados, oxigénio que me asfixia a agonia!
Vontade! O éter a correr-me nos pulsos expirantes de estoicismo!
Mil folhas por cair para um dobro por subir! O ar a vencer ao debaixo do mar!
Acelero para a respiração que quero capturar, instantes palpitantes no visor!
Sou o êxtase explosivo de ter o rasto mais curto que um terço da perna!
É a metade maior em que vou conhecer a que me liberta de qualquer dor!
Sou a natureza a milhões de ponteiros do cataclismo de não ser eterna!

O que em mim ainda é jovem és já só tu, memória triste.
Reavivas outros tempos num só acto de indisciplina.
Enfeitas e projectas sem que te peça ou queira.
Percebo agora que foste a única que não tratei.
Foste aquela que jamais ousei sonhar! Como te haveria eu de sonhar?
Sempre te tive e com esse engenho.
Agora, és a fonte do meu conforto. Só minha. Um presente para este EGO.
Resguardo-me em ti, nesse fluir de divinos pictogramas.
És o meu Deus nesta terra de enganos.
És me o recoste, o coberto, o calçado.
Podia bem morrer agora… Morreria feliz.

E tropeço! Desabo na megalomania de ser eu o significado absoluto!
Observo no rio o fluxo do tempo de volta à montanha-mãe.
Em dois globos de emoção, a primeira árvore a desvanecer-se em luto,
Segundos analépticos de fotografias a descer a virgindade dos ramos.
Ah, tanto sentido nas penas tombadas que me trazem de novo à Terra…
A pele macia de ascendentes desmaiada na retaguarda destes anos…
E eu, já desguarnecido do cristalino sentimento de nem pensar em tal guerra…

Ferido mas vivo, remoto mas menos, apaixonado mas mais…
Uma lágrima para semear outra torre verde de proléptica melancolia.
Ergo nela e com ela as recordações inconscientes que verei no meu cais.
Vencibilidade, aceito. Neste bosque ouvirei mais espantos imortais de melodia.
Este simples reconhecimento, logo fruindo, daguerreótipo crescente.
Num relógio decrescente, a consolação matutina de idear por um melhor dia
E a autoproclamada autodestruição de ter esperança em ser descrente.

Mais do que a morte, relembra no que te tornarás.
Relembra o erro que é querer.

Para assim esquecer e à beira do termo ser teu não ser?
À fantasia brado, cama de óbito que me chamas à tua hora!

Mas quem te julgas, con-de-na-do?
Este vento que me arrefece é mais sábio que o teu ardor.

Madrugada dos teus versos, um sismo na pedra que te fixaste!
O escudo e espada atracados na adrenalina dos meus actos!

Ilusões de cego!
Prepotência de EGO!
Lunatismo do destino!
Poço de desejo luciferino!
Vereda sem futuro!
Trapo imaturo!

Aprende, meu jovem, o fatalismo do rumo.
ARDE, premonição reduzida a cinza e fumo!

(O suspiro do derrotado é grito de guerra para quem vence.
Mas como se vence quando o inimigo somos nós?
Quando o pergaminho destruído é a nossa construção?
Como se arquitecta um porvir soterrado em carpe diem?
Nunca mais, memórias! De ontem, hoje ou amanhã… Liberdade!)

(29-11-2012)

(Fran Silveira e João Fazendeiro)

Submited by

quinta-feira, novembro 29, 2012 - 04:25

Poesia :

Your rating: None (1 vote)

Fran Silveira

imagem de Fran Silveira
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 10 semanas 2 dias
Membro desde: 09/29/2012
Conteúdos:
Pontos: 177

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of Fran Silveira

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Poesia/Soneto Azul Perfeito (Mondrary Fields) 0 97 02/20/2025 - 23:40 Português
Poesia/Desilusão Aurora 0 81 02/14/2025 - 23:37 Português
Poesia/Amor Um Quarto 0 192 12/07/2024 - 01:17 Português
Poesia/Haikai Ex-Haiku Do Além 0 392 06/11/2024 - 09:20 Português
Poesia/Comédia Eu Somos, Eles É 0 402 06/11/2024 - 09:12 Português
Poesia/Pensamentos Como Voltar Um Lugar A Mim? 0 1.264 12/28/2018 - 21:00 Português
Poesia/Meditação Horror Ao Vazio 0 1.391 05/08/2018 - 05:18 Português
Poesia/Comédia Super-Pouco (Dêem-me Um Pouco De Atenção, Por Favor, Se Faz Favor) 0 1.693 03/14/2017 - 23:07 Português
Poesia/Paixão Adoração 0 1.494 02/25/2017 - 12:48 Português
Poesia/Pensamentos (Turquesa '98) 0 1.135 12/29/2016 - 07:09 Português
Poesia/Fantasia Avelãs & Libélulas 1 1.086 12/08/2016 - 13:53 Português
Poesia/Amor Ganchos 0 1.140 10/26/2015 - 03:13 Português
Poesia/Fantasia (En)Canto Do Cisne Laranja 0 1.408 11/23/2013 - 02:57 Português
Poesia/Paixão 14 0 1.379 11/11/2013 - 01:12 Português
Poesia/Paixão Quimono Circunflexo 0 1.317 11/01/2013 - 03:28 Português
Prosas/Pensamentos Espiral 0 1.386 08/16/2013 - 01:44 Português
Prosas/Pensamentos Ecrã 0 1.264 08/15/2013 - 20:42 Português
Poesia/Fantasia Alba Atroz / Panda Crónico 0 1.259 07/31/2013 - 23:50 Português
Prosas/Pensamentos Transcorrer 0 1.320 02/11/2013 - 00:31 Português
Prosas/Outros Manifesto Depurista 0 1.121 02/09/2013 - 17:29 Português
Poesia/Pensamentos Memento Mori 0 1.217 11/29/2012 - 04:25 Português
Poesia/Pensamentos Rosa Em Azul 0 1.105 10/28/2012 - 20:22 Português
Poesia/Pensamentos Lanterna De Papel 3 1.208 10/15/2012 - 22:41 Português
Poesia/Pensamentos Anos De Chocolate 1 1.222 10/06/2012 - 16:17 Português
Poesia/Pensamentos Palavra Puxa Silêncio 0 1.024 10/06/2012 - 15:13 Português