Mundos e Memórias

No meu reino de sombra e de loucura,
Abrigo de silêncios esquecidos,
Mil mundos de demónios e fantasmas
Nascem do nada e em sombra ganham vida,
Como o ausente exército do passado
Que derrubou muralhas de inocência
E conquistou todo um novo universo.

No mundo dos meus sonhos incompletos,
Mil sombras nascem do vazio da dor,
Murmúrios de memórias quase mortas,
A sangue escritas no meu pensamento,
Fantasmas de silêncio e desventura
Quebrados na flor da quase existência,
Tal como os sonhos não concretizados
E as vidas que ficaram por viver.

E apenas a memória me persegue
Entre os meus mundos de silêncio e dor,
Vulto de demoníaca aparência
E de negro e sinistro coração,
Tormento de consciência subjugada
Pelo peso do que ficou por fazer,
Breve fantasma de um destino vão.

Aqui, onde os meus medos ganham asas
E pela morte suspiro a cada dia,
Velo o cadáver da magia morta,
Putrefacção da minha fantasia,
Enquanto sonho ainda com o regresso
De uma paz que nunca mais voltará,
A calma da inocência inconsciente
Que, sob o peso do eterno remorso,
Fechou os olhos e desfaleceu.

Apenas a memória do meu tempo,
Tão perto de um término tão distante,
Suspira ainda por um pensamento
Que possa justificar a verdade,
A injustiça da sua decadência.
Apenas ela espera pela clemência
De um imperfeito regresso ao passado,
Sem saber que a vida que ainda recorda
Não poderá jamais voltar a ser.

E, aqui, onde mil mundos se entrecruzam
Nas memórias da minha solidão,
Espero também um verso fugitivo,
Uma palavra que me diga ainda
Que não vivi em vão, que não morri,
E que, ainda que morra nesta hora,
Aquilo que vivi e que criei
Será mais que a sombra de uma ilusão.

Aqui… Onde esqueci a minha vida…