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Mutação
Mutação
Passei tantos anos sob o olhar infecundo da luz
Que comecei a acreditar não haver forma, distinção e equilíbrio na escuridão
Porém, em poucos e insensatos minutos, as aparências fáceis se transformam
Em delineamentos perfeitamente disformes, depurados e apurados
À mostra está unicamente a máscara da perfeição
Estúpida, monstruosa, egocêntrica e ilusoriamente independente
Não consegue sequer transpor a barreira das aparências
E desenvolver uma percepção transmutada, aguçada e expandida
Focalizo o espaço em que me encontro, extraído de mim mesmo
Cem vezes mais vasto, absurdamente amplo e copioso
Redimensiono as minhas perspectivas para chegar perto daquilo que busco
E ganho nova alma para compreender o que está sempre além
Inusitadamente a obviedade torna-se um insulto insuportável
Fugindo das similitudes, não sinto-me atraído por qualquer oposto
Agora nada pode guiar-me senão a voz da intuição
Desvendado pela lupa do auto-conhecimento, tornei-me eu mesmo
Indefinível, inimitável, irreproduzível, insondável e ambíguo
Um vulto cintilante na claridade sombria
Bernardo Almeida
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