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NASCER

Nascer

 

Silêncio que eu vou nascer,

Não sei porque choro nem sei dizer,

Não tenho conhecimento,

Sou um inocente neste momento,

Fui concebido sem pedir,

Agora não sei o que vem a seguir,

Não sei se existo, estou aqui,

Neste mundo que ainda não vi.

 

Tenho o instinto da vida, choro,

Para mamar no peito de quem adoro,

Sinto o seu afecto, o seu calor,

Dizem que a isto se chama amor,

De barriga cheia fico calado,

Sinto frio e sou tapado,

Durmo sem saber o que faço aqui,

O que será que vai ser de mim?

 

A pouco e pouco vou conhecendo,

Quem me abraça e me vai beijando,

É a minha mãe que me pariu,

Vai cuidando de mim, me cobriu,

De beijos e palavras meigas,

Eu gosto dela e das suas seivas,

Que eu vou engolindo para viver,

Para me continuar a ver crescer.

 

A minha mãe dá-me de comer,

De vez em quando se ela tiver,

Passo fome, choro, ela chora comigo,

Dependo dela, não sei se viver consigo,

Dá-me amor mas não paro de chorar,

A fome é muito má faz-me gritar,

Sinto a minha mãe muito ansiosa,

Nada tem para me dar, fica nervosa.

 

Silêncio, a minha mãe reza a Deus,

Para que não me leve para os céus,

Deu-me resistência para viver,

Com a minha destreza a correr,

Pelo chão frio e os meus és despidos,

Enfrentando os meus perigos,

Mas a vida me fez gente,

Que a minha alma agradece e sente..

 

Estou aqui, já sou velho, sobrevivi,

Agora recordo mas ainda não esqueci,

O passado de que é feita a minha história,

Que nunca me saiu da memória,

Não saí vencido da luta pela vida,

Em mim ela continua, bem aguerrida,

Tenho-a comigo e com ela eu vivendo,

E com a esperança que vou tendo.

 

 

 

Tavira, 31 de Janeiro de 2011 - Estêvão

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terça-feira, maio 7, 2013 - 09:42

Poesia :

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José Custódio Estêvão

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