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O carpinteiro
Quando a carpete vermelha da sala
se cobre de cinzas da lareira
deixo os chinelos de pano azul junto à porta dourada
esculpida à pressa por um carpinteiro
deprimido e encarcerado
pela viuvez que lhe bateu nas pálpebras
numa manhã de geada.
.
Sento-me no sofá verde onde me tocam losangos
que não respiro,
onde visualizo triângulos azuis
como os círculos dos olhos da enfermeira
que se encontrava de serviço naquela noite fria de Primavera.
.
Talvez agora que o coração amainou
e o sangue flui com naturalidade
ela pudesse soprar as cinzas
e envolver-me na sua bata branca;
derreter este gelo que se acumula na pele
quando chove
e injectar-me no pulso uma solução
de harmonia e tranquilidade.
.
O carpinteiro há-de vir de novo à minha casa
para fazer as medidas
para a mesa de jantar.
Quero-a sobre a carpete aspirada,
embora eu não aspire a ter aquela perícia
com que ele talha a madeira.
.
Quando ela chegar já terei as velas acesas,
os copos a brilhar.
A lareira incendiada à espera de um rubor
ainda mais intenso.
Sorrir-me-á.
.
Ouço um ruído cada vez mais ténue
do outro lado da rua.
Lascas finas de madeira talhada
por umas mãos trémulas
são levadas por um pequeno tornado
formado por um coração errante.
Espero-a, mas não esqueço
aquelas pálpebras inchadas, o rosto pálido
e a roupa escura, volátil, revoltada.
.
Hoje sei que a dor mais profunda que sinto
é pequena como um pedaço de madeira.
Há almas com ramos onde o oxigénio é mais escasso
e ainda assim resistem ao naufrágio da viagem
solitária.
rainbowsky
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Poesia :
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Comentários
Re: O carpinteiro
Um poema com arte, razão e sentimento!!!
:-)
Re: O carpinteiro
Olá poeta
Nunca tinha lido um poema com tanta
inspiração (devido ao título), cada
verso chega a ser um poema...
Realmente é embriagante... Meus Parabéns
está belíssimo
Beijinhos no coração
O carpinteiro
As palavra fogem para comentar este poema...
Sem palavras, numa escala de 10 a 20, para mim tá 21. :-)
Re: O carpinteiro
palavras que resistem ao tempo e que entram nas mentes de forma perfeita. Parabens pelo belo poema
beijinho*