CONCURSOS:
Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia? Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.
-O corte do costume, se faz favor –
-O corte do costume, se faz favor –
“ – É o costume?” – Digo eu, perguntando como sempre faço, embora sem esperar pela resposta, como se fosse um ritual castiço – O costume, se faz favor – é a réplica espontânea, mesmo nas tascas das s’quinas ou no restaurante onde se almoça quase todos os dias do ano e na taberna do copo de três, que infelizmente já não existe ou apenas nas historias do “era uma vez”.
“ – É o costume!” Costuma servir de resposta e é lançado como um dado, prontamente e na primeira frase, depois do cliente sentar lento e logo a seguir ao bom dia ou à boa tarde, ditos como numa praxe que nos habituámos no ocidente.
São fundamentais estas palavras que trocamos com qualquer cliente conhecido numa qualquer e normalizada oficina de barbeiro e também a frase mais comum, rotineira até à exaustão e dita no local onde trabalhamos eu e meu pai desde que me lembro, tenho cinquenta e poucos anos, ele oitenta maduros e muitos mais de sagacidade, a memória mais activa e infinita do mundo, enquanto a minha, a imediata me basta pois é dele, em si mesmo como homem bom, que me lembro desde sempre, do meu atencioso pai, atenciosamente atendendo clientes acostumados à sua cadeira de barbeiro, bem ao lado da minha, apesar de não falamos muito somos “unha com carne” desde sempre; houve um tempo em que eramos três, três cadeiras sendo a do meio pouco usada ou foi usada por um curto espaço de tempo, agora apenas duas, sendo menor o número de clientes “do costume”, menor o vulgar protocolo cliente/ barbeiro-de-bairro.
Faço a viagem diária do costume, tomo o pequeno-almoço do costume, janto o jantar costumeiro com a família com que costumo sem excepção, partilhar as minhas refeições à beira, os meus humores e as minhas ralações costumeiras, não me costumo desacostumar de um casulo que me proteja do exterior e dos outros, pois tenho sempre os mesmos costumes seja qual for o dia a semana o mês ou o ano, sou um ser naturalmente enfático sem ser autista, assim como qualquer outro normal ser humano de costumes ditos fixos.
Tenho um cliente autista profundo, com o qual troco apenas meia dúzia de palavras ou nem isso, não costumamos falar demais nem demasiado, nem posso, não exagero no que digo nem quando afirmo serem meia-dúzia as palavras com que conversámos faz até esta data mais de vinte anos, vinte anos em que é e tem sido cliente habitual; fui e sou das poucas pessoas em quem ele confia para trocar certas curtas palavras e para lhe prestar ou proporcionar um serviço mensal ou bimensal dependendo da ápoca dos meses e do anos serem menos quentes, mais húmidos ou mais frios.
Também ele se protege num casulo invisível, indivisível e bidimensional, à sua medida e à do mundo exterior, cria rotinas talvez para subverter a ânsia que é sobreviver numa “super-colectividade” de ansiosos eficientes, não dizemos as palavras da rotina, “é o costume” ou o “está um dia de sol”,” como vai a saúde” etc. Entende-nos o tempo que nos conhecemos, igualmente sem palavras, assim como nós os dois, dirimidos intérpretes, dirimidas actuações sem conversas do – O costume, se faz favor – como sempre, perdurará noutra gente, noutros tempos “como-de-costume”, autistas ou não, pais de filhos, filhos com pais, tal e qual como sempre.
Se faz favor, etc e tal …qual e tal gregos na liturgia papal Romana ou da antiga Pérsia, ainda não Otomana e no sal do mar, que habitualmente sabe muito a peixe.
Joel Matos (2018 Junho)
Submited by
Poesia :
- Se logue para poder enviar comentários
- 1386 leituras
Add comment
other contents of Joel
Tópico | Título | Respostas | Views | Last Post | Língua | |
---|---|---|---|---|---|---|
Ministério da Poesia/Aforismo | 2 | 1 | 3.320 | 03/01/2018 - 10:56 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | A alegria que eu tinha | 23 | 212 | 12/11/2023 - 21:29 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | A casa das coisas. | 0 | 543 | 02/23/2018 - 14:02 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | A casa das coisas. | 10 | 813 | 03/20/2018 - 16:57 | Português | |
Poesia/Geral | A casa dos sonhos | 0 | 1.291 | 11/15/2013 - 16:50 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | A confissão | 10 | 1.115 | 03/21/2018 - 11:51 | Português | |
Poesia/Geral | A Confissão ( A Neruda) | 13 | 2.805 | 10/16/2018 - 08:54 | Português | |
Prosas/Contos | A cruz (enxerto) | 1 | 1.901 | 03/01/2018 - 10:59 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | A dança continua | 0 | 226 | 11/24/2023 - 10:23 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | A desconstrução | 38 | 1.815 | 02/06/2021 - 22:18 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | À dimensão do horto … | 347 | 6.876 | 04/11/2019 - 09:45 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | A dor é púrpura … | 0 | 692 | 02/01/2018 - 10:59 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | A essência do uso é o abuso, | 1 | 459 | 11/25/2023 - 12:02 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | À excelência ! | 160 | 3.703 | 03/30/2019 - 12:08 | Português | |
Poesia/Geral | A hora é ,do tempo,a gorra. | 0 | 1.237 | 02/10/2014 - 18:10 | Português | |
Poesia/Geral | A ilusão do Salmão ... | 544 | 3.582 | 04/14/2019 - 19:45 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | A importância de estar … | 0 | 175 | 11/24/2023 - 10:17 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | A lembrança do que vou pensar | 1 | 361 | 02/20/2018 - 17:38 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | A lucidez na loucura ou Os cabelos de Berenice | 10 | 1.012 | 03/28/2018 - 16:40 | Português | |
Poesia/Geral | A margem de Ti | 0 | 1.570 | 12/16/2010 - 22:57 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | À margem de ti | 10 | 1.962 | 03/21/2018 - 16:17 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | A Mariposa e Eu… | 1 | 220 | 03/01/2018 - 09:57 | Português | |
Ministério da Poesia/Geral | A Mariposa e Eu… | 10 | 513 | 03/20/2018 - 18:25 | Português | |
Ministério da Poesia/Aforismo | A matilha | 0 | 4.595 | 11/19/2010 - 19:13 | Português | |
Ministério da Poesia/Dedicado | A minha Pátria | 0 | 11.177 | 11/19/2010 - 19:18 | Português |
Comentários
.
.
.
.
.
.
.
.