O Portão

O Portão

Imóvel, pendurado no rosto caído de janelas cegas
sinto a imponderabilidade da vontade
Existência sentida no cascalho
Embala-me o teu som
como no sonho do ranger das tábuas
Doce salitre
Vulto da euforia das minhas emoções

Na desmaterialização do tempo
fico atolado no amarelo profundo das beiras
Vestido pelo vento quente, sou empurrado
Inércia de desejo, etéreo talvez
Na vertigem do vórtice deixo pousar
braços de cansaço
no arrepio de uma intra-realidade pélvica

Uno-me às barras do portão como um só
e deixo-o sentir, respondendo-me com pena
Eu apenas fico com o calor do metal negro
Não
Não vale a pena
preciso destes instantes
perdidos no tempo

Posso esconder-me na invisibilidade
onde a Terra me chama
pelas lágrimas secas
Não tenho tempo para a procura
Logo os juízes
fazendo-se enunciar nas retinas
não me deixarão sequer
comer no infinito

Malditos
que castram o abraço da loucura
o Voo da Fénix
que me faz nascer de novo
Implosão doce feita de caos
Mutilação que grita pela dor
Minha fonte de juventude