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Poema de Agosto
Tudo passa nesta estrada
e pouco fica, de cada passo
muito pouco, talvez uma balada
ou o risco de um traço...
Todos correm como loucos
em traiçoeiras curvas,
a "alferir" tempo
e a morte chega primeiro, como sempre
Ao longe restam somente
as cinzas do tragico passado,
amanha renascem as flores
dizimadas que foram, erguem de novo o jardim.
Será preciso correr para ganhar o tempo?
Que se escoa na ampulheta,
que se perde em nossa ambição.
Pois na primavera florescerao rosas
Porque morrer para amar o que já nao mais existirá para si...
Em cada passagem, uma paisagem,
que desaparece aos pesadelos fúnebres,
e os olhos escalonam uma ultima lembrança,
como que da orbita saem a alertar, como uma derradeira esperança.
Tudo pede, tudo conspira para parar,
o acostamento e amplo, so resta ver,
muitos descansam na calma brisa norturna,
vendo o luar e estrelas luzindo em sua amarga solidao.
Uma prece hindu, um mantra, um choro de criança,
nada traz a realidade,
uma magoa sentida pela perda, se transforma em cachoeira,
nos precipícios dos sonhos de amor.
Mas, tudo passa nesta estrada,
E fica pouco, pouco que consome
e como louco, na tenue linha entre razão e emoção,
neste pouco verdadeiro que fica, e treme, teme...
O sol já nasce por trás dos montes,
Só ver essa cega luz noturna, das noites de insônia,
não vinda de astros, nem de seres lunáticos,
Interior, puramente interior, se expandindo, jorrando sob a consciência...
Existe algo mais forte que tudo que passe na vida,
fecundo como um viver conduzido e amado as maximas intempéries.
Réstias de luz sobre as ondas do mar, o farol,
No coraçao, de sangue, febre e calafrios, vivo e caio...
Que o pouco que restou,
do muito que ficou,
seja o bastante,
para prosseguir a caminhada,
continuar a viver,
etéreo viajante...
AjAraújo, o poeta humanista. Escrito em um tempo de palavras cifradas, em Agosto de 1975, na UFRJ.
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