CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Poema para Luis de Camões (José Saramago)

Meu amigo, meu espanto, meu convívio,
Quem pudera dizer-te estas grandezas,
Que eu não falo do mar, e o céu é nada
Se nos olhos me cabe.
A terra basta onde o caminho pára,
Na figura do corpo está a escala do mundo.
Olho cansado as mãos, o meu trabalho,
 

E sei, se tanto um homem sabe,
As veredas mais fundas da palavra
E do espaço maior que, por trás dela,
São as terras da alma.
 

E também sei da luz e da memória,
Das correntes do sangue o desafio
Por cima da fronteira e da diferença.
E a ardência das pedras, a dura combustão
 

Dos corpos percutidos como sílex,
E as grutas do pavor, onde as sombras
De peixes irreais entram as portas
Da última razão, que se esconde
Sob a névoa confusa do discurso.
 

E depois o silêncio, e a gravidade
Das estátuas jazentes, repousando,
Não mortas, não geladas, devolvidas
À vida inesperada, descoberta,
E depois, verticais, as labaredas
Ateadas nas frontes como espadas,
 

E os corpos levantados, as mãos presas,
E o instante dos olhos que se fundem
Na lágrima comum. Assim o caos
Devagar se ordenou entre as estrelas.
Eram estas as grandezas que dizia
Ou diria o meu espanto, se dizê-las
Já não fosse este canto.

 

José Saramago, escritor e poeta luso.

Submited by

sexta-feira, janeiro 14, 2011 - 02:23

Poesia :

No votes yet

AjAraujo

imagem de AjAraujo
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 5 anos 51 semanas
Membro desde: 10/29/2009
Conteúdos:
Pontos: 15584

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of AjAraujo

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Poesia/Dedicado A charrete-cegonha levava os rebentos para casa 0 2.186 07/08/2012 - 22:46 Português
Poesia/Meditação A dor na cor da vida 0 975 07/08/2012 - 22:46 Português
Poesia/Dedicado Os Catadores e o Viajante do Tempo 1 2.249 07/08/2012 - 00:18 Português
Poesia/Alegria A busca da beleza d´alma 2 2.338 07/02/2012 - 01:20 Português
Poesia/Dedicado Amigos verdadeiros 2 3.750 07/02/2012 - 01:14 Português
Poesia/Meditação Por que a guerra, se há tanta terra? 5 1.596 07/01/2012 - 17:35 Português
Poesia/Intervenção Verbo Vida 3 3.858 07/01/2012 - 14:07 Português
Poesia/Meditação Que venha a esperança 2 1.611 07/01/2012 - 14:04 Português
Poesia/Intervenção Neste Mundo..., de "Poemas Ocultistas" (Fernando Pessoa) 0 2.040 07/01/2012 - 13:34 Português
Poesia/Intervenção Do Eterno Erro, de "Poemas Ocultistas" (Fernando Pessoa) 0 5.010 07/01/2012 - 13:34 Português
Poesia/Intervenção O Segredo da Busca, de "Poemas Ocultistas" (Fernando Pessoa) 0 953 07/01/2012 - 13:34 Português
Poesia/Dedicado Canções sem Palavras - III 0 1.398 06/30/2012 - 22:24 Português
Poesia/Intervenção Seja Feliz! 0 2.026 06/30/2012 - 22:14 Português
Poesia/Meditação Tempo sem Tempo (Mario Benedetti) 1 2.628 06/25/2012 - 22:04 Português
Poesia/Dedicado Uma Mulher Nua No Escuro 0 3.472 06/25/2012 - 13:19 Português
Poesia/Amor Todavia (Mario Benedetti) 0 2.232 06/25/2012 - 13:19 Português
Poesia/Intervenção E Você? (Charles Bukowski) 0 1.913 06/24/2012 - 13:40 Português
Poesia/Aforismo Se nega a dizer não (Charles Bukowski) 0 1.611 06/24/2012 - 13:37 Português
Poesia/Aforismo Sua Melhor Arte (Charles Bukowski) 0 1.288 06/24/2012 - 13:33 Português
Poesia/Tristeza Não pode ser um sim... 1 1.437 06/22/2012 - 15:16 Português
Poesia/Aforismo Era a Memória Ardente a Inclinar-se (Walter Benjamin) 1 1.316 06/21/2012 - 17:29 Português
Poesia/Amizade A Mão que a Seu Amigo Hesita em Dar-se (Walter Benjamin) 0 2.121 06/21/2012 - 00:45 Português
Poesia/Aforismo Vibra o Passado em Tudo o que Palpita (Walter Benjamin) 0 2.024 06/21/2012 - 00:45 Português
Poesia/Aforismo O Terço 0 1.320 06/20/2012 - 00:26 Português
Poesia/Desilusão De sombras e mentiras 0 0 06/20/2012 - 00:23 Português