Quem mais está no vazio?

Quem mais está no vazio?

Quem mais além de mim sofre por nada?
Quem sente silêncio como tortura não provocada?
Quem vê o mundo como uma tela inacabada?
Quem perde tempo entre paredes de uma sala fechada?
Quem fica a escrever por não querer dormir de madrugada?
Quem sonha acordado já que na cama o sono a chegar tarda?
Quem escreveu em poesia história não antes contada?
Quem mora mas não vive e tem casa mas não morada?
Quem pensa que felicidade está longe de ser alcançada?
Quem busca incessantemente que esta seja encontrada?
Quem pensa que a distância é soberana e malvada?
Quem olha e não vê mesmo com uma lâmpada ligada?
Quem na estrada acredita que a vista é bela na chegada
E por ela vale a pena continuar na caminhada?
Quem se sente só na multidão, com tristeza acumulada?
Quem sufoca com tanto ar em terra abandonada?
Quem tenta transformar em raiva depressão vivenciada?
Quem fala demasiado e cala na hora errada?
Quem chorou pelo passado ter passado e agora sofre por nada?

Quem perdeu a energia, pessoa gasta e cansada?
Quem se farta do vazio, com já pouca esperança aliada?
Quem tem como banda sonora da vida uma balada
Não de amor, mas de dor, de quem sofre por não ter nada?

Quem fala para um papel sem uma resposta ser escutada?
Quem deixou sua essência em folha amachucada?
Quem acredita que parte da alma pode ser transmitida e dada?
Quem afirma alcançar a imortalidade pela arte realizada?
Quem só tem como objectivo uma vida mais desorganizada?
Quem há noite questiona porque a luz está apagada?
Quem só se sente desperto á noite com uma vontade incontrolada
De fazer alguma coisa? Durante o dia aprisionada
Está a vontade e só o cansaço prevalece, é abafada
A liberdade de viver fora da rotina programada
Sem algo de bom, algo de novo, quem mais sente a vida parada?
Quem mais além de mim sofre por nada?