RIO DE LÁGRIMAS

Sem ti,
sou um mar à deriva
pela sua própria imensidade.
Uma estrela sem brilho na noite.

Vento que espera alcançar
os vales do tempo onde eras tu o sol.
Rio de lágrimas que se afunda deserto em mim.

As palavras carpem difíceis
de soletrar como pérolas negras na paisagem.
Como árvores teimam viver a sede da primavera.

O desejo borda-me os olhos com ausência.

A geografia dos meus sentidos
é uma distância que subitamente me agrafa
à sombra fria destes instantes onde não estás.

As flores converteram-se em pedra,
as nuvens em vultos que percorrem o silêncio.

A poesia secou como as rosas
que trago nos lábios à espera que tu as colhas.

Depois ti,
as minhas mãos têm de reaprender a falar,
o meu corpo desvaneceu-se em vozes caladas.

De ti,
resta-me olhar a lua sem luar,
enlouquecer ao peso desta dor sem te tocar,
caminhar sem alma pela estrada onde me deixaste.