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Saga nordestina.

Eis aqui uma pequena e singela homenagem a esse povo bravo e guerreiro do nordeste do meu Brasil que muitas vezes deixa a sua cidade, familiares e amigos para tentar a sorte nas grandes capitais.
Mas infelizmente nem todos conseguem se dar bem na selva de pedra. Nem sempre a saga nordestina tem final feliz.

Saga nordestina parte I.
Terra seca.

No meio da seca
Minha vida seca mais do que a terra.
Olho pro céu e não vejo vida.
Olho pra terra e vejo morte.
O gado morreu,
A colheita não rendeu,
A terra sucumbiu.

Nasci aqui,
Mas não vou morrer aqui.
Assim não!
Não vou morrer seco de esperança.
Aqui já não existe mais vida.
Aqui já não existe mais nada.
Meu nordeste padece de vida.

Arrumarei as malas pela manhã,
Vou-me embora daqui.
Meu coração irá se partir
Como terra seca no sertão.
Mas vou partir.
Aqui o meu brado já não tem eco nem sentido.
Preciso de novos ares.

Vou pra São Paulo,
Dizem que lá tem emprego e oportunidade.
Pior que aqui não pode estar.
Pior do que estou
Não posso ficar.

Vou dormir.

Acordei em mais um dia seco
Em meio a sonhos secos sem um pingo de nada.
Peguei minhas malas,
Peguei meus sonhos.
Não ficou nada para trás,
Somente as lembranças.

Lá vou eu...

Saga nordestina parte II.
Terra fria.

Cheguei moído, corpo dolorido.
Me afogo no cansaço,
Mas tenho que trabalhar
E procurar um lugar para ficar.

Ao procurar emprego
Sinto frieza no olhar do senhor.
Ele me olha com desdém,
Como se eu não fosse ninguém.
Me senti humilhado, avariado, desonrado.
Nunca fui e nunca serei um pobre coitado!
Minha mãe me fez homem,
Cabra macho de muito valor.
Não abaixarei a cabeça
Para nenhum homem
Metido a doutor.

Mas já é chagada a noite,
Não arrumei emprego
Nem lugar pra dormir.
Só me resta a luz da lua,
Só me resta dormir na rua.
Sinto falta da minha rede,
Sinto fome, sinto sede.
Mas preciso dormir.

Acordei com esperança
Hoje eu consigo!

Bati em várias portas e deparo-me sempre
Com a velha frieza do olhar.
Um povo sem carinho
Que vive correndo e não tem amor para dar.
Julgam-me pelas roupas.
Julgam-me pelo meu jeito.
Mas ninguém me conhece direito.
Me sinto como uma máquina com defeito.
Não sirvo pra nada,
Não me querem pra nada.
De fato, eu sou um nada.

Passado um ano ainda estou aqui.
Nada consegui,
Objetivos não atingi
E acabei por desistir.
Hoje moro nas ruas
E só tenho uma amiga:
A lua.

Morando nessa terra fria de almas vazias
Até consigo sentir falta da minha terra seca
Que outrora vivia.

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quarta-feira, maio 20, 2009 - 01:42

Poesia :

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Brunorico

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Comentários

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Re: Saga nordestina.

Singela homenagem à saga das nossas origens!!!

:-)

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