Sombras

- Sombras -

As luzes do sol enfrentavam as grades
formavam sombras as quatro e quinze da tarde

Quase tudo é impermanente segundo o budismo
presos viram heróis, abandonam o ateísmo

As sombras das grades escorregam pelas paredes
mais um dia finda, outro pôr- do- sol não visto
fumaças de cigarros se dissipam pelo ar
buscam a ligeira liberdade

Esqueço coisas da cidade
nomes de ruas, caminhos das casas de amigos
um calor infernal espalha o ventilador dentro das pequenas celas

Dezessete, dezoito, dezenove
vinte minutos para as visitas saírem
as lágrimas começam a cair

Na próxima semana
muitas esposas e filhos não poderão vir
nasce um novo dia...
as sombras das grades escalam as paredes
todos estão trancados esquecidos

Corações pulsam em peitos despedaçados
o tédio tudo desanima
nas cadeias tudo é rotina
dez vezes pior que nas grandes cidades

No meu pensamento duas tristezas me invade
uma o  amor que perdi outra o gosto da liberdade.