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Sonhos
O cão raivoso, preso por uma trela, traduz na perfeição as pessoas que, privadas da liberdade individual pela sociedade, sentem desprezo e até terror pelos sujeitos livres. Ao ponto de, a maior parte das vezes, lhes desejarem o mesmo grau de clausura: a integração social.
Dentro do canil estava o portal. Viajei a mil quilómetros por hora através do tempo e espaço até parar ali. Restavam apenas esbatidos das memórias mais audazes que se recusavam a desaparecer por completo, como fragmentos de um sonho. A maior parte constituídos somente por cores apagadas e sombras que remontam ao subconsciente.
A montanha, a maldita montanha onde nunca havia de chegar: lá em cima, dizia-se, o tempo parava. O cume imortal, chamei-lhe, enquanto me perdia em mil tabernas e falésias e praias de crocodilos, com gente a quem quis muito bem e muito mal. A cidade acidentada, em que cada rua subia e descia sem razão, tornava impossível a orientação humana, ainda mais naquele estado.
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