CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

À Linha

O tempo se arrastava e a casa demorou a ficar vazia. Uma ansiedade insana me consumira alongando as horas. Esforçava-me para não aparentar agitação. O que era quase impossível! Parecia estar prestes a cometer um pecado mortal e não queria testemunhas, ninguém para me condenar. Repetia com instância

:- Não careço de juízo! Não agora!

Estava finalmente decidida a dispensar à lógica…… Era loucura!…. Eu sabia!…..Porque não me importava?

Até pouco tempo ele era apenas um desconhecido com o qual, vez ou outra, trocava algumas palavras bem comportadas. Nada demais! Pouco a pouco alargaram-se as conversas, avolumara-se o interesse gratuito e aquele menino que sorria na fotografia, tornara-se íntimo, embrenhando-se irremediavelmente no meu cotidiano. Não me perturbava saber-me ridícula. Ainda porque nessas horas todos os pensamentos parecem clichês..... E a paixão um devaneio tolo.

O silêncio foi tomando conta da sala e um mal-estar prazeroso me estremecera a alma. Conferi todos os cômodos…..Não havia ninguém….Fechei os olhos por alguns segundos….Respirei fundo…. Hesitei….. Claro que hesitei! Mas a ideia se fixara tirando-me o sossego.

Atravessei o corredor, fechei a porta do quarto e bisbilhotei pela janela a rua deserta. Fitava o telefone inerte à mesa de cabeceira e a insegurança….Porque não atendê-la?…. Retornara me acobardando..... Era uma chance…. Desapercebi e dei de ombros ….O que falar?.... Como falar? A respiração acelerada entorpecia o raciocínio, improvisava desculpas... Não queria desistir.... Porque ninguém atendia aquele maldito telefone? Quando finalmente, do outro lado da linha

: - Alô......

O som de sua voz se propagou dentro de mim. Naquele instante me perdi num arrepio gelado e apenas pronuncie meio sem jeito

: - Não fala nada.....

Porque me obedeceu? Sentia-me inteiramente desarmada do pudor habitual, dos velhos preconceitos e sussurrava-lhe caricias inesperadas ao pé do ouvido. Desejava perdidamente aquele menino que amava sem pressa. Um amor honesto e tresloucado feito apenas de palavras.... Sem gosto nem cheiro..... Definitivamente era loucura e não tinha mais como voltar atrás. Um gemido abafado, um suspiro e o silêncio, nessa exata ordem, abancaram-se no meu ouvido e um prazer inaudito congelou o tempo. Nem percebi que anoitecera. Logo a casa ficaria povoada novamente e precisava me despedir, apagar os vestígios daquela tarde do meu rosto e pronunciei seu nome com certa ternura....

:- Felipe...

A fala macia interrompeu…..

:- Desculpa meu bem. Mas, aqui não mora nenhum Felipe.

E só me restou morrer por um breve momento... Ressuscitar.... Mastigar o espanto... Porque a voz do outro lado esperava... O quê?..... Eu balbuciar

:- Perdão. Foi engano.

Submited by

quarta-feira, novembro 25, 2009 - 22:40

Prosas :

No votes yet

BeatrizSalinas

imagem de BeatrizSalinas
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 12 anos 45 semanas
Membro desde: 11/25/2009
Conteúdos:
Pontos: 14

Comentários

imagem de Angelo

Re: À Linha

Perdão foi engano...
Claro que não foi engano nenhum BeatrizSalinas.
O teu texto está excelente.
Parabéns gostei muito

Um beigo amigo Angelo

imagem de BeatrizSalinas

Re: À Linha

mas enganos acontecem
Obrigada pelo comentário

imagem de Mefistus

Re: À Linha

BeatrizSalinas;
Um conto genial, com magia e desilusão.
Muito bom este momento de te lêr!

Gostei!

imagem de RobertoEstevesdaFonseca

Re: À Linha

Parabéns pelo belo texto.

Gostei.

Um abraço,
REF

imagem de BeatrizSalinas

Re: À Linha

Obrigada
Um abraço

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of BeatrizSalinas

Tópico Título Respostasícone de ordenação Views Last Post Língua
Fotos/ - 2204 0 1.306 11/24/2010 - 00:46 Português
Poesia/Geral Todavia 0 356 06/06/2011 - 11:57 Português
Prosas/Contos À Linha 5 349 12/10/2009 - 23:21 Português