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Óperas, guia para iniciantes - CARMEN - Resenha.
Autoria – Georges Bizet (Alexandre Cesar Leopold – 1838-1875 – França)
Libretto – Henri Meilhac e Ludovic Halévy
Personagens
Carmen – cigana, protagonista. Interpretada por uma Mezzo Soprano.
Don José – Cabo dos “Dragões de Alcalá” e um dos apaixonados por Carmen. Interpretado por um Tenor.
Escamillo – toureiro, amante e amado por Carmen. Interpretado por um Barítono.
Micaela – jovem camponesa e noiva de Don José. Interpretada por uma Soprano.
Frasquita – uma cigana, companheira de Carmen. Interpretada por uma Mezzo Soprano.
Mercedes – idem.
Zúniga – Tenente dos “Dragões de Alcalá”. Interessado em Carmen e rival de Don José. Interpretado por um Baixo.
Morales – Sargento dos “Dragões de Alcalá”. Interpretado por um Barítono.
Dancario – malfeitor, companheiro de Carmen. Interpretado por um Tenor.
Remendado – idem, interpretado por um Barítono.
Sevilha, Espanha, século XIX.
O seu primeiro ato é passado em uma praça da cidade de Sevilha, por volta do meio-dia, quando, rotineiramente, dois acontecimentos aumentam o movimento de transeuntes.
O primeiro acontecimento é a troca de guarda no Quartel dos “Dragões de Alcalá”, situado em um dos cantos da praça; e o segundo fato, no lado oposto, é a saída para o almoço de um grupo de operárias de uma fábrica de cigarros. São eventos diários e corriqueiros que animam o ambiente.
Nesse dia, a jovem camponesa Micaela aguarda a saída de seu noivo, o Cabo Don José; porém, o encontro entre ambos é parcialmente triste devido a noticia que ele recebe acerca da doença que acomete a sua mãe, que clama por sua presença.
Contudo, apesar disso, acontecem alguns momentos carinhosos entre ambos ao som de festivas marchas militares, acompanhadas por garotos extasiados que são representados por figurantes do elenco.
Findas as marchas marciais, a calma volta a reinar no local, mas logo é quebrada em virtude de uma briga entre uma cigana, Carmen, e uma operária, que acaba sendo ferida.
Agressiva, sensual, bela e independente, Carmen encarna o protótipo da nômade aventureira e da “famme fatale”, capaz de fazer qualquer homem apaixonar-se perdidamente. Contudo, seus encantos não bastam para livrá-la das acusações e o Tenente Zúniga vê-se obrigado a ordenar que o Cabo Don José a prenda.
Todavia, enfeitiçado por seus encantos, Don José alivia os nós e laços que a prendem, sob o pretexto de que a estariam machucando. Em seguida, concorda em fingir que ela o derruba e ludibria, deixando-a escapar para os esconderijos nas montanhas, junto com os seus companheiros.
Um erro gravíssimo, cometido com a perspectiva de que ela retribua a ajuda tornando-se sua. Mas antes que tal recompensa possa acontecer, a falha lhe custa uma temporada na prisão do Quartel.
O segundo ato é encenado na “Taberna de Lillas Pástia (taberneiro, personagem fictícia)” onde Carmen e seus amigos malfeitores bebem e se divertem enquanto ela aguarda a chegada do Cabo Don José para, enfim, recompensá-lo.
Nesse momento entra em cena o famoso toureiro Escamillo que não demora a arengar sobre os riscos de seu oficio através da célebre “Canção do Toureador”, que é acompanhada por todos.
Imediatamente Carmen sente-se fascinada por Escamillo, que, também, não esconde o seu desejo por ela. Contudo ela se resguarda e espera por Don José que, após algum tempo, surge em cena, sendo, então, convidado a seguir com ela e com a trupe de seus amigos em suas andanças e aventuras.
A princípio ele hesita em abandonar a sua vida militar, a sua noiva e a sua mãe, mas quando o Tenente Zúniga adentra o recinto e o expulsa rispidamente, deixando-lhe claro que também deseja a sua amada, ele não se contém e após desafiar o superior para um duelo, fere-o com gravidade. Esse novo delito não lhe deixa alternativa que não seja seguir Carmen para os esconderijos nas montanhas.
Assim, junto dela, de Frasquita, de Mercedes, de Dancario e de Remendado, embrenha-se em um novo mundo.
O terceiro ato é encenado no esconderijo dos ciganos, onde Don José sofre a saudade de sua família, de seus amigos, de sua noiva; e sofre o arrependimento por ter abandonado o Quartel. É grande a sua dor e ele já nem tenta escondê-la de Carmen, que, em contrapartida, sente uma aversão cada vez maior por ele. A atração que ela havia sentido pelo toureiro não lhe abandonara completamente e ressurge a todo instante.
Em certo momento, ela e as amigas ciganas “leem a sorte nas cartas”, as quais só profetizam maus presságios para ela e para Don José, indicando, inclusive, a proximidade da morte.
Findas as “leituras”, a cena se esvazia e em seguida adentra o toureador Escamillo que veio em busca de sua desejada Carmen. Sua súbita aparição provoca o ciúme e a ira de Don José e ambos se engalfinham em uma luta feroz, que só a muito custo é apartada pelos demais e, também, pela chegada da jovem Micaela com a triste noticia do agravamento da doença da mãe de Don José.
Ainda transido de ódio, ele se prepara para partir em visita a mãe, mas antes vocifera que voltará em breve e que espera que Carmen o aguarde, pois irá matá-la caso isso não aconteça.
Mas tais ameaças não amedrontam a cigana e não surtem o efeito que ele esperava, pois o interesse dela pelo toureador é mais forte que qualquer temor. Ademais, se ela já lhe tinha aversão, essa só aumentou, tornando-se ódio verdadeiro.
A segunda cena desse terceiro ato acontece no pátio fronteiriço à Arena das Touradas. O clima festivo impera enquanto se espera o início da tourada. Pouco depois, em atitude triunfal, chegam num carro aberto Escamillo e Carmen. Logo depois, começa o duelo entre o homem e animal.
Nesse ínterim Don José reaparece à procura de sua amada.
O encontro entre ambos é marcado pelas súplicas dele e pelo desprezo dela, que reafirma veementemente o asco que ele lhe causa. Por fim, para lhe causar a máxima humilhação, ela atira no lixo um anel que ele lhe presenteara. A violência do gesto, a dor da rejeição, do orgulho ferido e a vergonha pelo menosprezo sofrido cegam o amante, que, então, investe e a golpeia fatalmente.
Enquanto isso, Escamillo obtém novo triunfo na Arena e chega carregado em triunfo pela multidão em delírio, mas a euforia logo é substituída pelo horror quando se vê Don José entregando-se à “justiça divina”, junto ao corpo sem vida de Carmen.
As personagens principais da Ópera, Carmen e Don José, foram foram criados originalmente pelo escritor Prosper Mérimée (França, 1803-1870) que em um longo romance contou a história de Don José Lizarrabengoa, que após se envolver em um sangrento episódio em sua terra natal, no País Basco, reaparece na região da Andaluzia, no posto de oficial dos “Dragões de Alcalá” e com o nome alterado para Don José Navarro. Sediado em Sevilha, ele conhece a cigana Carmen, sendo, então, conduzido novamente para o caminho da violência e da marginalidade que resulta na tragédia final.
Os libretistas Halévy e Meilhac ao fazerem a adaptação descartaram os fatos precedentes ao encontro com a cigana Carmen e com isso rebaixaram a personagem de Don José para um plano inferior, já que todos os holofotes iluminam a voluptuosa beleza exótica da mulher que tantas paixões despertou.
Hoje, seria difícil imaginar a obra sem essas alterações, pois de tal forma ela foi acolhida pela crítica e pelo grande público que se tem a impressão de que a sua forma foi sempre essa, sem vínculos com trabalhos anteriores.
Carmen, tornou-se, sem dúvidas, a embaixatriz do gênero, sendo, geralmente, a porta de entrada para todos que desejam aventurar-se pelo universo da “Grande Arte” ou da “Arte sem limites”.
Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, Verão de 2015.
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