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Óperas, guia para iniciantes - Cavalleria Rusticana, Mascagni - Ensaio completo
Autoria – Mascagni (Pietro – 1863-1945 – Itália).
Libreto – Giórgio Targioni Tozzetti e Guido Menasci
Personagens
Santuzza – protagonista – interpretada por uma Soprano.
Turiddu – idem. Interpretado por um Tenor.
Àlfio – interpretado por um Barítono.
Lola – interpretada por uma Mezzo Soprano.
Mamma Lucia – interpretada por uma Mezzo Soprano.
Local e Época
Aldeia siciliana – meados do século XIX
Nota de Esclarecimento.
Sem que se tenha certeza do real motivo, mas, provavelmente por equivocada aproximação fonética e gramatical, especialmente no Brasil, o tema musical dessa Ópera costuma ser associado a qualquer tipo de exercício equestre, como cavalgadas, batalhas entre cavalarias, shows de adestramento, desfiles e coisas do gênero.
Porém, como se disse, é apenas um equívoco, ainda que costumeiro; pois, em verdade, a tradução literal do título é: “Cavalheirismo rústico” ou, estendido, “fidalguia provinciana” etc.
E a história que a Ópera conta é a história de um amor mal sucedido que termina em tragédia. Bem distante, como se pode ver, de qualquer elemento equino.
Outra singularidade que merece algumas linhas é a sua exiguidade, já que ela cabe em um único ato.
Todavia, essa limitada dimensão em nada prejudica a sua grandiosidade, a qual, aliás, tornou-a vencedora de um importante concurso em sua estreia e a faz ser, ainda hoje, a favorita de uma imensa legião de admiradores.
Feitos esses esclarecimentos, passaremos ao Enredo.
Enredo
O cenário inicial do único ato da Ópera reproduz a tradicional praça de uma aldeia da Sicilia, sul da Itália, na manhã de um domingo de Páscoa.
Em pouco tempo o prelúdio executado pela orquestra a todos contagia – inclusive ao público – e apenas quando a “Siciliana” é substituída por um ritmo mais nostálgico e dolentemente amoroso é que arrefece o entusiasmo inicial.
Todos se quedam para ouvir Turiddu que canta sob a janela de Lola, o seu grande e perdido amor, na esperança de reconquistá-la.
Porém, tão logo termina a romântica ária, a orquestra volta a executar a “Siciliana” e o clima de festa é retomado, especialmente pelas jovens camponesas que não se cansam de louvar os pássaros, as flores, os laranjais etc., enquanto seus companheiros exaltam as delicias do amor. Celebra-se a Páscoa e todos estão determinados a festejar ao máximo possível.
Enquanto isso, Santuzza conversa com Lucia, a “mamma Lucia”, a respeito do filho desta, Turiddu.
Ao contrário do que diz a mamma, Santuzza afirma tê-lo visto na aldeia, durante a madrugada e não a caminho de Francofonte para buscar vinho, conforme havia sido combinado com Lucia.
Mamma Lucia se desconcerta com essa nova informação e convida a jovem a entrar em sua casa, mas Santuzza declina do convite alegando ser uma proscrita e excomungada “moça desonrada”. É um autojulgamento severo, mas, nesse momento, ela nada fala sobre os motivos daquela condenação, tampouco sobre o que torna o seu coração tão sofrido.
Nesse momento juntam-se às duas mulheres, Àlfio e alguns amigos seus. Após os cumprimentos de praxe, ele pergunta à mamma sobre o seu excelente e famoso vinho e quando Lucia diz que o seu filho foi buscá-lo, ele retruca dizendo ter avistado Turiddu na aldeia, rondando a sua vivenda.
Mamma Lucia tenta contra-argumentar, mas é impedida por Santuzza e Àlfio se despede, indagando-lhes se não irão à igreja para os ofícios religiosos.
Entrementes o Coral entoa o célebre “Hino da Páscoa” e Santuzza ajoelha-se na calçada e louva a “ressurreição de Cristo”. Em seguida, reaproxima-se da mamma e ao entoar a ária “Voi lo Sapete (Vós o sabeis)” conta de seu sofrimento, já que Turiddu era noivo de Lola até ser enviado para a guerra, quando, então, foi trocado por Àlfio. Ao regressar, triste e decepcionado, o filho da mamma Lucia, aproximou-se de si e ela se entregou completamente, para, logo depois, vê-lo desinteressar-se e voltar a cortejar a ex-noiva.
Mamma Lucia mostra-se estupefata com tais revelações, pois ao contrário da maioria dos aldeões, ela de nada sabia. E tal é o seu estupor que ela mal percebe a chegada de seu filho, a quem cumprimenta rapidamente antes de deixar a cena.
Ficam apenas Santuzza e Turiddu e quando ele responde à sua indagação, dizendo que foi, sim, em Francofonte, ela explode de indignação e raiva e o acusa de mentiroso, traidor e de tolo, por continuador apaixonado pela traidora Lola.
Antes, porém, que ele possa retrucar, aproxima-se do casal a própria Lola perguntando se viram o marido Àlfio e se eles não irão à igreja? Em resposta, Santuzza diz rispidamente que: “só vai à igreja quem não tem pecados”.
Lola afasta-se e Turiddu fala furiosamente com a jovem, não se acalmando nem quando ela diz que ainda o ama. Cego de fúria, ele chega a empurrá-la com violência antes de se dirigir ao Templo, na tentativa de se aproximar da mulher que o trocou por outro.
Ferida e humilhada, Santuzza chora e amaldiçoa Turiddu e quando Àlfio se aproxima ela não titubeia em dizer que a sua mulher, Lola, o trai com o ex-noivo. Contudo, antes de sentir o prazer da vingança, um medo terrível a assalta, pois conhecendo o temperamento explosivo de Àlfio, ela pressente que abriu as portas para uma tragédia enorme. Ressoa-lhe permanentemente a ameaça que ele deixou no ar: “até o fim do dia, estarei vingado” e o arrependimento se instala definitivamente em seu coração.
Um clima de extrema tensão permeia por todo o teatro e só é suavizado pelo interlúdio que a orquestra executa enquanto o cenário é modificado.
Agora, está-se na réplica da entrada da igreja onde os devotos assistiram a Missa de Páscoa. Há um clima ameno, com todos cumprimentando-se e se preparando para os festejos da tarde e da noite.
Entre outros, Turiddu aborda Lola e lhe pergunta se nem ao menos ela o cumprimentará. Temerosa do julgamento dos presentes, ela tenta disfarçar e pergunta sobre Àlfio. Todavia, Turiddu não desiste e a convida a acompanhar-lhe, juntamente com outros amigos, até a taberna.
Ela aceita, imaginando que a presença dos demais impedirá que a sua conduta seja considerada indevida, porém, na hora do brinde tradicional, a todos fica claro a paixão que ela ainda sente pelo ex-noivo.
O ambiente alegre e festivo repete o estereótipo desse tipo de ambiente e situação, mas logo as sombras invadem o local graças à chegada de Àlfio que não esconde o ódio e o ciúme que sente do rival.
O pressentimento de que uma tragédia é iminente toma conta de todos e os tons lúgubres que a orquestra executa acentuam o clima sombrio.
Turiddu tenta demonstrar calma e convida Àlfio a beber em sua mesa, mas o marido de Lola recusa e insultuosamente joga o vinho ofertado ao solo. Está lançado o desafio.
Nisso, Lola e outras mulheres deixam o bar e os dois inimigos se abraçam ritual e friamente, até que Turiddu morde a orelha direita de Àlfio, demonstrando que aceita o desafio.
Estranhos, porém, inequívocos ritos que confirmam o duelo mortal.
Para Turiddu a vida sem Lola não tem sentido e ele se deixaria matar docilmente, mas como dele dependem a mãe Lucia e a jovem Santuzza, enfrentará a luta, no mínimo, para que não recaia sobre ambas a infâmia de uma suposta covardia do filho e namorado.
Assim, através da sentida ária “Addio Alla Madre”, ele pede que mamma Lucia o abençoe como ela fez quando ele foi para a guerra. Ela, sem saber do duelo, estranha o pedido, mas faz a sua vontade, após ele mentir-lhe dizendo que está agindo apenas por efeito do vinho que tomou. Em seguida, volta a se exaltar e despede-se novamente antes de seguir para o local do combate.
Pressentindo que algo terrível está para acontecer, mamma Lucia chama Santuzza e ambas se abraçam vertendo copiosas lágrimas. É uma cena dolorosa e que, geralmente, causa sentidos prantos na plateia.
Pouco depois, um terrível alarido chega às duas mulheres e após alguns instantes elas conseguem decifrar o que grita desesperadamente uma mulher: “mataram Turiddu!”.
É o fim da Ópera.
Em pouco tempo o prelúdio executado pela orquestra a todos contagia – inclusive ao público – e apenas quando a “Siciliana” é substituída por um ritmo mais nostálgico e dolentemente amoroso é que arrefece o entusiasmo inicial.
Todos se quedam para ouvir Turiddu que canta sob a janela de Lola, o seu grande e perdido amor, na esperança de reconquistá-la.
Porém, tão logo termina a romântica ária, a orquestra volta a executar a “Siciliana” e o clima de festa é retomado, especialmente pelas jovens camponesas que não se cansam de louvar os pássaros, as flores, os laranjais etc., enquanto seus companheiros exaltam as delicias do amor. Celebra-se a Páscoa e todos estão determinados a festejar ao máximo possível.
Enquanto isso, Santuzza conversa com Lucia, a “mamma Lucia”, a respeito do filho desta, Turiddu.
Ao contrário do que diz a mamma, Santuzza afirma tê-lo visto na aldeia, durante a madrugada e não a caminho de Francofonte para buscar vinho, conforme havia sido combinado com Lucia.
Mamma Lucia se desconcerta com essa nova informação e convida a jovem a entrar em sua casa, mas Santuzza declina do convite alegando ser uma proscrita e excomungada “moça desonrada”. É um autojulgamento severo, mas, nesse momento, ela nada fala sobre os motivos daquela condenação, tampouco sobre o que torna o seu coração tão sofrido.
Nesse momento juntam-se às duas mulheres, Àlfio e alguns amigos seus. Após os cumprimentos de praxe, ele pergunta à mamma sobre o seu excelente e famoso vinho e quando Lucia diz que o seu filho foi buscá-lo, ele retruca dizendo ter avistado Turiddu na aldeia, rondando a sua vivenda.
Mamma Lucia tenta contra-argumentar, mas é impedida por Santuzza e Àlfio se despede, indagando-lhes se não irão à igreja para os ofícios religiosos.
Entrementes o Coral entoa o célebre “Hino da Páscoa” e Santuzza ajoelha-se na calçada e louva a “ressurreição de Cristo”. Em seguida, reaproxima-se da mamma e ao entoar a ária “Voi lo Sapete (Vós o sabeis)” conta de seu sofrimento, já que Turiddu era noivo de Lola até ser enviado para a guerra, quando, então, foi trocado por Àlfio. Ao regressar, triste e decepcionado, o filho da mamma Lucia, aproximou-se de si e ela se entregou completamente, para, logo depois, vê-lo desinteressar-se e voltar a cortejar a ex-noiva.
Mamma Lucia mostra-se estupefata com tais revelações, pois ao contrário da maioria dos aldeões, ela de nada sabia. E tal é o seu estupor que ela mal percebe a chegada de seu filho, a quem cumprimenta rapidamente antes de deixar a cena.
Ficam apenas Santuzza e Turiddu e quando ele responde à sua indagação, dizendo que foi, sim, em Francofonte, ela explode de indignação e raiva e o acusa de mentiroso, traidor e de tolo, por continuador apaixonado pela traidora Lola.
Antes, porém, que ele possa retrucar, aproxima-se do casal a própria Lola perguntando se viram o marido Àlfio e se eles não irão à igreja? Em resposta, Santuzza diz rispidamente que: “só vai à igreja quem não tem pecados”.
Lola afasta-se e Turiddu fala furiosamente com a jovem, não se acalmando nem quando ela diz que ainda o ama. Cego de fúria, ele chega a empurrá-la com violência antes de se dirigir ao Templo, na tentativa de se aproximar da mulher que o trocou por outro.
Ferida e humilhada, Santuzza chora e amaldiçoa Turiddu e quando Àlfio se aproxima ela não titubeia em dizer que a sua mulher, Lola, o trai com o ex-noivo. Contudo, antes de sentir o prazer da vingança, um medo terrível a assalta, pois conhecendo o temperamento explosivo de Àlfio, ela pressente que abriu as portas para uma tragédia enorme. Ressoa-lhe permanentemente a ameaça que ele deixou no ar: “até o fim do dia, estarei vingado” e o arrependimento se instala definitivamente em seu coração.
Um clima de extrema tensão permeia por todo o teatro e só é suavizado pelo interlúdio que a orquestra executa enquanto o cenário é modificado.
Agora, está-se na réplica da entrada da igreja onde os devotos assistiram a Missa de Páscoa. Há um clima ameno, com todos cumprimentando-se e se preparando para os festejos da tarde e da noite.
Entre outros, Turiddu aborda Lola e lhe pergunta se nem ao menos ela o cumprimentará. Temerosa do julgamento dos presentes, ela tenta disfarçar e pergunta sobre Àlfio. Todavia, Turiddu não desiste e a convida a acompanhar-lhe, juntamente com outros amigos, até a taberna.
Ela aceita, imaginando que a presença dos demais impedirá que a sua conduta seja considerada indevida, porém, na hora do brinde tradicional, a todos fica claro a paixão que ela ainda sente pelo ex-noivo.
O ambiente alegre e festivo repete o estereótipo desse tipo de ambiente e situação, mas logo as sombras invadem o local graças à chegada de Àlfio que não esconde o ódio e o ciúme que sente do rival.
O pressentimento de que uma tragédia é iminente toma conta de todos e os tons lúgubres que a orquestra executa acentuam o clima sombrio.
Turiddu tenta demonstrar calma e convida Àlfio a beber em sua mesa, mas o marido de Lola recusa e insultuosamente joga o vinho ofertado ao solo. Está lançado o desafio.
Nisso, Lola e outras mulheres deixam o bar e os dois inimigos se abraçam ritual e friamente, até que Turiddu morde a orelha direita de Àlfio, demonstrando que aceita o desafio.
Estranhos, porém, inequívocos ritos que confirmam o duelo mortal.
Para Turiddu a vida sem Lola não tem sentido e ele se deixaria matar docilmente, mas como dele dependem a mãe Lucia e a jovem Santuzza, enfrentará a luta, no mínimo, para que não recaia sobre ambas a infâmia de uma suposta covardia do filho e namorado.
Assim, através da sentida ária “Addio Alla Madre”, ele pede que mamma Lucia o abençoe como ela fez quando ele foi para a guerra. Ela, sem saber do duelo, estranha o pedido, mas faz a sua vontade, após ele mentir-lhe dizendo que está agindo apenas por efeito do vinho que tomou. Em seguida, volta a se exaltar e despede-se novamente antes de seguir para o local do combate.
Pressentindo que algo terrível está para acontecer, mamma Lucia chama Santuzza e ambas se abraçam vertendo copiosas lágrimas. É uma cena dolorosa e que, geralmente, causa sentidos prantos na plateia.
Pouco depois, um terrível alarido chega às duas mulheres e após alguns instantes elas conseguem decifrar o que grita desesperadamente uma mulher: “mataram Turiddu!”.
É o fim da Ópera.
Histórico
A exemplo do que ocorre nos dias atuais, algumas popularidades são conferidas instantaneamente a indivíduos que, além de sua capacidade, estão no lugar e na hora certa.
É o caso, por exemplo, desse autor, que de obscuro professor provinciano de música, atingiu o estrelato em 1890, logo após a sua obra ter sido apresentada em Roma.
Pietro Mascagni tomou conhecimento pelos jornais de um concurso operístico promovido pela Editora Sonzogno, para uma Ópera de apenas um ato.
Apoiado num Romance (Novela, para o público de língua espanhola) escrito pelo naturalista Giovanni Verga, seis anos antes, e com a ajuda dos libretistas Tozzeti e Menasci, em pouco tempo compôs a sua grande obra, sem imaginar que ela lhe daria o primeiro lugar e a consagração definitiva.
Hoje, a Ópera é uma das mais executadas, tanto pelo equívoco de ser associada a exercícios equestres, quanto por simbolizar o vigor e as cores da típica vida italiana.
Contudo, para além das representações e equívocos, resta o fato inelutável da extrema beleza da composição, que a fez ser um clássico do gênero.
Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, inverno de 2015.
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sexta-feira, julho 10, 2015 - 14:25
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