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A ÚLTIMA VEZ
Era uma noite fria e a neblina tornava a noite mais escura e densa. Suzana chegou em casa e tirou a capa prateada que sempre usava em dias chuvosos. Colocou a capa no cabide atrás da porta de entrada e dirigiu-se à sala de estar, esfregando as mãos
úmidas e frias. Abaixou-se para pegar a lenha na caixa próxima à lareira e acendeu o fogo,com os gravetos mais finos que encontrou.
Assoprou um pouco,até se certificar de que a brasa iria se alastrar e assim aquecer um pouco mais o ambiente gelado. Dirigiu-se ao bar,serviu um cálice de licor e sentou-se na poltrona próxima à lareira. As chamas crepitavam agora e ela sentiu o calor do fogo começando a aquecer o ambiente. Ficou pensativa,a observar as sombras que a luz do fogo projetava na parede. Por um momento, deixou-se seduzir por aquela sensação de bem estar. Lembrou-se de uma outra noite igual aquela. Era inverno e ela não estava só. Felipe havia estado com ela naquela noite e os dois ficaram por um tempo interminável observando o fogo.
Beberam champagne,dançaram descalços em cima do tapete macio e depois deitaram-se em frente à lareira. Foi uma noite mágica, como nunca houvera outra igual. Fizeram amor várias vezes e Suzana sentiu que o amor que sentia por Felipe era tão intenso que fazia seu corpo todo estremecer, quando sentia as suas mãos tocarem o seu corpo nu. Felipe era um homem sedutor. Seu corpo másculo a fazia sentir-se ainda mais protegida, quando deitava a cabeça no seu peito e se aconchegava nos seu braços. Quando o dia amanheceu, Felipe se despediu com um beijo e disse a Suzana que voltaria na noite seguinte. Ele mesmo iria preparar um prato gostoso para os dois saborearem, regado a um bom vinho e depois teriam mais uma noite maravilhosa para passarem juntos. Foi a última vez que Suzana viu Felipe. Quando tocaram a campainha da porta e ela abriu, sentiu uma estranha sensação a dominar. Soube que Felipe havia sofrido um acidente e nunca mais voltaria para ela. E tinha sido numa noite igual aquela... fria e chuvosa. Suzana ficou mais alguns instantes fitando o vazio, sentindo aquela sensação estranha que invadia a sua alma e lhe trazia novamente as imagens daquela noite que ela nunca mais iria esquecer. Adormeceu e não percebeu uma fagulha da lareira cair no tapete.O fogo a se alastrar pela casa toda. Acordou num quarto de paredes brancas.Uma enfermeira ao seu lado, dizia-lhe que estava tudo bem. Não conseguia entender o que havia acontecido. Sua mente entorpecida pela fumaça inalada a impediam de raciocinar. Não sabia o que havia acontecido, nem ficaria sabendo jamais. Parte de sua memória se apagou e ela esqueceu quem era e as lembranças daquela noite nunca mais voltaram. Suzana deixou de ser quem era, para tornar-se alguém que ela desconhecia.
Débora Benvenuti
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Comentários
Re: A ÚLTIMA VEZ
A memória prega peças em qualquer um , mesmo ao perde-la parcialmente somos capaz de sentir o dejavu .
E quando achamos que jamais somos capazes de lembrar de algo eis que surge na mente como uma sombra em noite escura de inverno.
Bom conto !!!
Beijos
Susan
Re: A ÚLTIMA VEZ
Gostei :)
ás vezes mais vale esquecer, e tornarmo-nos desconhecidos