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Abismos

Vi-te hoje ao passar da esquina, enxovalhado, dobrado, encarquilhado, pela dor de não conseguires voltar a tua verdadeira face para a lua. São fases distintas que ela suporta nestes becos ensanguentados. Mas, nunca mostra ela também a sua verdade, nas noites em que uma das suas faces brilha sobre as águas que correm, serena e tranquilamente em baixo da ponte. Nesses escombros onde te deitas, já não há nada, a não ser um pedaço de chão que te aceita. De uma forma ou de outra, o chão que pisamos é de todos, mas aceitavelmente, pertence a quem por direito o ocupa, já que são as noites e os dias, os pilares que o sustêm. Há noites que são calmarias nos teus desejos, e dias que são como feixes de luz a queimar as entranhas da terra. Não sabes para onde te dirigir, e gastas o tempo a correr desenfreadamente, e sem forças para saberes discernir, se o dia ainda é manhã tardia, ou se a noite é ao entardecer, a caminhar para o abismo onde te deitas.

Lembro-me de olhar para ti, e tu sentado naquele banco de jardim, onde eu passava sempre acompanhada. Via-te, mas como não te conhecia, seguia o meu caminho, sempre na esperança de te encontrar mais à frente, quando tivessem cessado todos os olhares. Mas as vozes que te seguiam eram expostas às chuvas do fim do verão. Passei por mais um filão, e à beira rio, um beco estreito, que se deleita às costas de um sol que só espreita por entre as casas onde já nada sobrevive. Lamentos, choros de crianças e os pais são como os saltimbancos, em busca do pão que a seara já deixou de fabricar, faz tempo. Eu, inundava-te os passos de utopias, e lembranças de outros tempos em que também eu ocupava o mesmo chão.

Como sinalizar os espaços? Estremá-los de modo a que possamos ficar inteiros na terra de ninguém?
Há só um caminho! Baptizá-lo e delimitá-lo com as marcas que os nossos corpos contêm. Os trajes verdadeiros são sempre manufacturados pelos olhares da alma, e vesti-la, é um gesto que nos cabe por inteiro, mesmo que nos falte um pedaço de chão.

(A Voz do Silêncio)

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segunda-feira, janeiro 18, 2010 - 00:31

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ÔNIX

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Comentários

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Re: Abismos

ônix,

Adorei ler. A sequência da narrativa o encadeamento dos fatos e o final. Espetacular.

BJ

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Re: Abismos

Olá Flávia

Um gosto ter-te também por aqui.

Beijos e obrigada

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Re: Abismos

ÔNIX ;
Lindissimo registo, metódico e conciso.
Prende a leitura, preenche os espaços.
Espantosa a transição

"sempre na esperança de te encontrar mais à frente, quando tivessem cessado todos os olhares".

Muito bom

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Re: Abismos/Mefistus

Olá Mefistus

Gosto de te ter como leitor.

Adoro o que escreves

beijos e obrigada

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