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ALCESTE, Gluck - Óperas, guia para iniciantes


 

Autoria – Gluck (Cristoph Von – 1714-1787, Alemanha)
Libreto – Ranieri de Calzabigi.


Personagens:

Admetus – soberano, prestes a morrer. Interpretado por um Barítono.

Alceste – esposa de Admetus. Interpretada por uma Mezzo Soprano.

Herácles – o semideus grego, amigo do casal. Interpretado por um Tenor.

Grão Sacerdote – interpretado por um Barítono.

Evandro – O Ministro predileto de Admetus. Idem.

Época e local

Grécia – idade mitológica.


Enredo
 
Alceste é uma das mais conhecidas “Tragédias Gregas” e Gluck e Calzabigi tiveram o cuidado de pouco alterarem a sua configuração original, numa inequívoca demonstração de respeito ao autor da mesma e ao público interessado na arte helênica.
Dessa sorte os cenários da obra não apresentam grandes alterações aos modelos conhecidos e consagrados. O primeiro ato, por exemplo, é ambientado na reprodução da tradicional praça fronteira aos palácios reais, no caso o de Admetus, com o também tradicional Templo de Apolo, ao fundo.
Uma multidão inicia a função clamando aos deuses para que curem o seu amado rei, de uma doença que sabem ser grave.
Mas é breve essa lamentação inicial, pois logo o arauto real toma a palavra e anuncia que o quadro de saúde de Admetus piorou e que pouco tempo resta ao soberano.
Com isso, o lamento recrudesce, mas, novamente é interrompido pela entrada em cena dos dois filhos do casal e da rainha Alceste, que pede à multidão que a acompanhe ao Templo para que todos juntos possam suplicar aos deuses, pela saúde do “pai da nação”.
Consternada, a massa de gente a segue e a orquestra executa uma compungida “Pantomima”, anunciando a chegada da comitiva ao “Santo Refúgio”. Presidindo o ritual, o Grão Sacerdote pede silêncio para que todos possam ouvir o vaticínio do Oráculo.
O momento é de sofrida expectativa e as profecias só confirmam as piores previsões: sim! A morte de Admetus é iminente, salvo se alguém se dispuser a morrer em seu lugar*.
Uma exigência que a todos apavora e que leva a multidão a fugir apressadamente. Ficam, apenas, o Grão Sacerdote e Alceste, que vendo a gravidade da situação e tendo consciência da importância do rei para o destino do povo e do país, dispõe-se a morrer em lugar do marido.
O Sacerdote concorda com os seus argumentos e lhe assegura que o seu desejo será concedido pelos deuses, devendo, portanto, usar o restante do dia para preparar-se para a última viagem.
Duros preparativos que ela inicia entoando a ária “Divinités du stix”, que é uma invocação e um desafio aos deuses do “Mundo Inferior”, já que eles não serão capazes de fazê-la sentir dor maior, que a que sentiria com a morte de seu amado companheiro e esposo.
É o fim do primeiro ato.

§§§

O segundo ato é encenado na réplica do grande salão do trono, onde Admetus se mostra plenamente recuperado, recebendo, por isso, as congratulações de vários súditos, de muitos Ministros e, especialmente, as de Evandro, seu dileto assessor.
O clima é de jubilo e o público é brindado com uma bela série de bailados.
Ainda extasiado com a saúde e com o vigor restabelecidos, Admetus questiona Evandro como se deu aquela recuperação milagrosa e o Assessor, desavisadamente, revela-lhe a profecia do Oráculo e a existência de um voluntário para morrer em lugar do bom rei.
Para Admetus tal exigência é inaceitável. Ele não pode suportar a ideia de que alguém se ofereça para tamanho sacrifício. Contudo, o seu desconforto encontra algum alivio quando Alceste se aproxima e demonstra o quanto está feliz com a sua recuperação.
Ao fundo, o belo Hino, entoado pelo Coral, acentua a felicidade dos cônjuges, mas a euforia pouco dura, pois Alceste não consegue deixar de pensar que em breve será afastada do esposo e dos filhos e não consegue impedir que uma grande amargura domine-lhe a alma e se mostre no semblante.
Notando o sofrimento da esposa, Admetus tenta consolar-lhe através da vigorosa ária “Banis la crainte et les larmes (Afaste o temor e as lágrimas)”, mas é surpreendido com a confissão da mesma que será ela quem morrerá em seu lugar.
O espanto e a tristeza do rei são enormes e veementemente ele recusa permitir que ela concretize aquele gesto extremo. Por fim, dominado pelo mais agudo desespero, recolhe-se em seus aposentos.
Todos prorrompem em sentidas lamentações e Alceste entoa a sofrida ária em que diz: “Malgrado meu, meu débil coração partilha de vossas ternas lágrimas”.
É o fim do segundo ato.

§§§

O terceiro ato é representado inicialmente no pátio fronteiriço ao Palácio real, onde uma multidão lamenta a morte de seus querido regentes, pois Admetus não pôde suportar a dor e a culpa pela morte de sua amada Alceste e também seguiu para o “Mundo Inferior”.
Há um clima fúnebre, pesado e a consternação geral logo atinge o recém-chegado semideus Herácles (Hercules, no plágio romano) que ali veio para comemorar com o amigo Admetus a sua exitosa conclusão dos célebres “Doze Trabalhos”.
Porém, em lugar da festa que imaginava, tem apenas a companhia de Evandro, que lhe relata as funestas circunstâncias ocorridas. Contudo, sendo um ente quase divino, ele se recusa a se deixar abater e decide reagir e descer ao “Mundo Inferior” em busca de seus amigos.
Jurando ao povo que restituirá os seus soberanos, logo inicia a longa marcha e com isso a primeira cena é encerrada.
A segunda cena tem como cenário o pátio que antecede as “Portas do Inferno”.
Ali, ainda sozinha, Alceste implora aos deuses malignos que a deixem entrar no “Mundo dos Mortos”.
Logo depois, Admetus chega e lhe suplica que volte ao “Mundo dos Vivos” e o deixe cumprir a sua sina, pois os filhos de ambos sofrerão todas as maldades que rotineiramente são aplicadas aos órfãos, ainda que sejam reais. Apenas a ele cabe cumprir a tenebrosa pena. Alceste, porém, reluta e retruca com uma longa e pertinente série de contra-argumentos.
É um belíssimo Dueto que expressa a discussão do casal e a sua execução é pontilhada por dramáticos acordes que a orquestra toca.
Por fim, surge a poderosa voz de Tânatos, “deus da Morte”, exigindo que decidam logo quem será sacrificado.
Ambos voltam a argumentar e contra-argumentar com veemência e o impasse se prolonga por algum tempo. Antes, porém, que Tânatos volte a exigir uma definição, surge Herácles e os avisa que veio para resgatá-los.
Admetus, então, saca de suas armas e se junta ao herói no violento combate que travam contra as hordas infernais. Após muito esforço, vencem a luta e se aproximam da reconquista da liberdade.
Nesse momento surge o próprio deus Apolo, que em face da proeza de Herácles, assegura-lhe um lugar definitivo no Olimpo, junto com os outros deuses; e anula a sentença de morte que pesava contra Admetus.
Um novo Sol parece brilhar no horizonte enquanto Admetus e Alceste voltam para casa. Mais que quaisquer outros, eles poderão testemunhar o poder da lealdade, da coragem e do amor.
E assim termina a segunda cena.
A terceira cena volta a ser encenada na praça fronteira ao Palácio de Admetus, onde os súditos festejam a volta de seus soberanos. Herácles, unindo-se ao casal, se junta à multidão e todos entoam em alegre Coro um belo Hino de celebração à vida.
É o fim da Ópera.

Histórico

Para a maioria dos estudiosos, com essa Ópera Gluck resgatou a grandiosidade do gênero, que aos poucos vinha sendo arruinada pela vaidade excessiva de autores e de interpretes, fato que tornava o espetáculo enfadonho, indecifrável e de duvidosa qualidade. E, por isso, progressivamente desinteressante ao grande público.
Com efeito, já em seu prefácio, Gluck reafirma a sua disposição em fazer de “Alceste” uma obra isenta dos artifícios que vinham sendo agregados ao gênero por obra do pernosticismo de cantores (as) que, cada vez mais, mostravam-se ávidos em exibir as suas virtuoses, fossem elas reais ou apenas imaginadas pelos mesmos.
E, ainda, a de certos autores que buscavam criar efeitos fabulosos, cenografias ultraelaboradas e coisas quetais, apenas para garantirem o “status de gênios” que alguns incautos, ou áulicos, davam-lhes a granel.
Veleidades, exageros e declinante qualidade que por pouco não arruinaram a “Grande Arte” de maneira definitiva. Nas palavras de Gluck: “enfim, procurei abolir todos os abusos contra os quais o bom-senso e a razão têm chamado longamente e em vão”.
E o enorme sucesso de que a obra desfrutou desde a sua estreia em Viena, Áustria, em 26.12.1767, confirmou o seu acerto.
A ele, portanto, deve-se a revitalização, a contínua melhoria e a consequente expansão da arte operística em todos os quadrantes do mundo.

Nota do Autor – na Tragédia original, essa substituição não é aceita pelo pai e nem pela mãe do rei; tampouco por qualquer outro súdito, vassalo ou amigo. Alceste aceita-a apenas por motivos egoístas e não por razões mais nobres.

Produção e divulgação de Vera Lucia M. Teragosa
Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, inverno de 2015.

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sexta-feira, agosto 14, 2015 - 13:26

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