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Amigo,

Você nem sabe como eu fiquei quando ouvi que você iria voltar. Voltar, depois de tanto tempo, pra essa cidade perdida no meio do nada que você abandonou faz tantos anos. Mas eu queria que você soubesse que as coisas andam diferentes por aqui. O prefeito falou há alguns anos de progresso, e parece que ele chegou por aqui, mesmo sem você. Mas amigo, eu não vejo por que chamaram de progresso, não. Lembra do campo de futebol que a gente ia depois da escola? Botaram tudo abaixo, as traves, a arquibancada, e até aquela árvore que ficava perto. A árvore em que costumavamos deitar, já caídos de exaustão de tanto jogar. Agora, ali tem um supermercado. Mas não foi só isso não, amigo. Parece que o tal do progresso não gosta de árvore, terra ou vida. Arrancaram o bosque, agora é um aterro. Não tem estrada de terra por aqui, mais. Tem é asfalto, asfalto quente pra todo lado. A BR tá cortando a cidade, passando por cima de tudo. Tem iluminação nas ruas, também. Mas agora não tem mais aquela montoeira de estrela que tinha quando você saiu. Naquela época era raro passar um carro por aqui, não era? Hoje não passa um dia sem trânsito. A gente aqui não gosta muito não... Mas só gente do meu tempo. Acho que estou ficando velho, amigo. Os dias não passam mais como passavam no nosso tempo. As coisas andam depressa demais, é tudo rápido, tudo assim. Ninguém mais para pra olhar o céu, as nuvens, escutar os pássaros. As pessoas tão com medo de sair de casa, amigo! Ninguém mais senta na calçada de tarde, nem conversa com os vizinhos. Acho que eles nem conhecem os vizinhos, ninguém mais se conhece aqui. A gente, no nosso tempo não era assim. Ainda hoje eu falei com o Zé, lembra do Zé? Aquele do futebol, o goleiro. Hoje eu falei com ele. Nós somos tudo o que restou do nosso tempo, não tem mais as marcas que a gente fazia nas árvores, ou o nosso nome escrito no cimento da calçada do Seu Manoel. Agora tudo aqui leva a marca do progresso. Mas saiba que quando você voltar, eu quero muito te ver pra conversar um pouco, lembrar de tudo. Eu posso fazer um café, igual antigamente. E a gente pode sentar na calçada a tarde, junto com aquele time do futebol que ainda tá por aqui.

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terça-feira, novembro 29, 2011 - 21:02

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