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CARTA A UMA AMIGA TRISTE...
Às vezes… basta um simples olhar para que imediatamente alcance com nitidez, a tristeza difusa que paira nos teus olhos. Fico inquieta instintivamente, interrogo-te algumas vezes em silêncio com um simples olhar, pergunto-te:
- Então… amiga?
E tu, olhando-me nos olhos como quem foge das reprimendas, sorris tristemente, como se decifrasses a nitidez baça da minha pergunta silenciosa, formulada com a força do pensamento.
Às vezes… ao ver pairar essa tristeza amarga nos teus olhos, que se avoluma perante os meus como se fosse um arco-íris esborratado, tento ignorá-lo, como se de repente eu me transformasse num rato com medo de um gato esfomeado. Numa tentativa ingénua de te fazer esquecer a inquietação que te mortifica o espírito, qualquer que ela seja! Sabes? Nunca gostei de ver um amigo triste porque fico pateticamente triste também. Sou refém das minhas próprias emoções e para que me sinta serena, preciso que todos aqueles que me rodeiam e a quem amo, se sintam igualmente serenos.
É confrangedor…!
É nessas alturas, então... em que adivinho no teu olhar os rios que aprisionas aos olhos, que eu tento brincar contigo, disfarçadamente feliz, para te arrancar desse marasmo envolvente, como se eu de repente fosse capaz de descobrir o sol num dia de tempestade. Faço-o numa tentativa frenética de te desviar dos maus pensamentos e arrancar do teu espírito o negativismo (como se fossem ervas daninhas) a alastrar no meio de um jardim florido. Quero arrancar de ti as sombras da tristeza, certo?
Mas para que isso seja possível preciso que me ajudes!
Às vezes… quebro o silêncio com que quase sempre te interrogo e com o olhar solícito pergunto-te, fingindo-me zangada:
>> ENTÃO… AMIGA? <<
É nesses momentos que me olhas com o olhar mortiço e me dizes o que eu já sei por antecipação:
>> Então… Vóny? Só me apetece chorar. Chorar… chorar…chorar…>>
- Chorar como se fosses um dilúvio de rosas brancas? Ou o rio Mondego poluído com barbatanas de plástico?
- Brinco…
Tu sorris. Meu Deus! Tu sorris o mais triste sorriso que já vi. Eu insisto. - Mas chorar porquê?
A minha pergunta é imbecilmente indignada. Desta vez limitas-te a olhar-me de soslaio como se fugisses da fúria aparente do meu olhar. Com a voz embargada, olhas-me de novo… agora de frente, transformada de repente numa criança perdida à espera de um afago. Num lamento, rematas:
>> NÃO SEI PORQUÊ… NÃO SEI… <<
Às vezes é difícil, eu sei, mergulhar nas profundezas do nosso espírito e tratar as feridas que sangram dentro de nós e que teimam em não cicatrizar. A amargura que se sente é uma espécie de laço apertado que nos ataram à garganta, cujo nó nos estrangula até o ar ficar irrespirável. Pomposamente chama-lhe “depressão”. Eu prefiro chamar-lhe “chatice grossa”!
Independentemente das dificuldades, dos nós que atam e desatam, é importante que nos agarremos nesses momentos dolorosos às coisas boas da vida. Não o esqueças!
A melancolia é um veneno corrosivo que nos destrói a vida e o sossego dos dias, portanto, a grande prioridade é fintarmos esse desassossego e depois de estar controlado aplicar-lhe um valente pontapé. Pontapeá-lo como se fosse uma bola e nós heróis idolatrados, como o Cristiano Ronaldo a marcar golo, percebes? Não podemos falhar o penalty.
Os pensamentos maus combatem-se com os bons, recorrendo prioritariamente às coisas belas da vida. Sempre… não o esqueças.
Experimenta pensar no mar, no chilrear extraordinários dos pássaros nos umbrais das janelas, nas flores a cegar os nossos olhos com uma beleza ímpar. Há tanta coisa que nos fascina e que nos pode alegrar o coração. É uma questão de exercício mental, percebes amiga?
Às vezes basta que nos lembremos da natureza e das crianças, para que a tristeza fuja de nós com as patas de um cavalo selvagem. E tu tens tanta coisa boa e bonita a que te possas agarrar. Tanta…
O fundamental e o primeiro motivo terá que ser forçosamente, os teus filhos. É o motivo mais reconfortante de todos! Eles são os mais belos rebentos que fazem parte dessa árvore majestosa que representas nesta vida. Nunca o esqueças! Tu és uma espécie de amendoeira em flor que apenas precisa de sol para ser feliz, por isso… não deixes nunca de procurar essa Luz divina mesmo nos dias mais nublados. É só uma questão de persistência.
- Certo amiga?
Às vezes só precisamos que nos lembremos desses pormenores, que nos agarremos ao positivismo de tudo quanto nos rodeia, para que nos libertemos da cela onde nos colocamos. A vida é uma aprendizagem constante, minha querida, sabias?
Ah… por favor… não esqueças pois estarei sempre aqui!
(VÓNY FERREIRA)
http://vony-ferreira.blogspot.com/
Registo nº3329/2008 (Último Registo efectuado em Março 2009) Soc. Portuguesa de Autores e IGAC
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Comentários
Re: CARTA A UMA AMIGA TRISTE...
Já aconteceu, e estiveste comigo. senti o teu ombro. mas por vezes os nossos ombros atingem a maturidade do cristal.
O teu texto é lindíssimo e chorei copiosamente ao lê-lo. O motivo tu adivinhas. Um dia amiga o sol brilhará no meu horizonte. A paz começa a visitar-me e um dia espero que as dores que causei se dissipem.
Espero-te a ti e ás amigas que sabes no tempo de mim.
Até lá um beijo sempre azul.