CHET

Terça-feira passada eu dedicava o meu tempo livre, após o meu trabalho, para ensaios para o meu próximo show. Nessas levadas acústicas - não sei porque - fui tomado pela lembrança de Chet Backer. E lembrei-me da sua história, dos seus extremos e da beleza de sua obra.

Não irei aqui tratar de sua biografia (existem livros suficientes para isso!). Apenas comentar sobre minhas impressões sobre ele.

Pode parecer estranho estar falando sobre jazz music. Sou um cara que cresceu ouvindo - no rádio a pilhas Sanyo, de minha mãe - Rita Lee, Raul Seixas, e mais um sem número de artistas radiofônicos que o tempo escondeu. Como então Chet apareceu na minha vida?

Eu acredito que tudo tem um porquê e nada é sem razão. Até escrevi uma canção que fala sobre isso. Há alguns anos atrás, o baterista que tocava comigo me presentou com um LP (vinil mesmo, bolachão). Não havia muita informação na capa, apenas "Chet Backer" e uma imagem estilizada do artista. Escutei sem dar muita importância. Afinal, os tempos eram outros e eu me interessava, basicamente, por rock n roll. Não havia sentido em perder meu tempo tentando decifrar aquele tipo de música.

O tempo passou e o meu interesse pelo jazz aumentou. Então, redescubro o LP em meu armário. Coloquei para tocar um sentimento diferente tomou conta de mim. Algo leve. Algo que me transportou para algum lugar que não era o meu quarto. Parecia que eu estava em algum bar ouvindo o papo de um velho amigo. Parecia que Chet Backer falava comigo.

Com algumas audições a mais a coisa foi se esclarecendo. Então, com a ajuda da internet, um novo mundo foi apresentado. Um mundo onde o amor era expresso por um cara sem dentes mas que tinha uma voz marcante. Um cara que tocava coração e não trompete.

É necessário que as gerações tomem conhecimento de artistas como CB. Estamos posicionados em um tempo aonde tudo se torna líquido. As emoções são mascaradas por instantâneos virtuais. Nossos amigos nos brindam com "curtidas" e "compartilhamentos" que, muitas vezes ou, na maioria delas, nada mais são do que apenas conveniências.

Será que Chet pode parecer ultrapassado nesse contexto de mundo? Será que ele ainda pode ser ouvido e entendido como foi há décadas atrás?

Não sei. E também não me importa. Em meu entender, ainda ganho muito quando ouço o trompete que flutua sobre as nuvens. E, a cada nova audição, acredito que a humanidade teria esperanças maiores se seguisse o caminho do amor expresso nas linhas melódicas de Chet Backer.