CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Chuva nos sapatos

A chuva nos sapatos... não havia nada de misterioso, podia ser o titulo de um filme, uma canção longa legendada em Francês ou um crime desses idealizados contra a paciencia dos dias. Sou um pobre homem e serve-me a palavra para contestar o meu destino. Á mãe que me fez nascer e ao mundo que me faz sentir incompreendido e indigno deste palco, deste viver do lixo e da caridade. No segundo andar da santa casa a mulher com cara de buldog a Dra Silvia, nome que oiço da boca do segurança.
- Então!... tem se alimentado? parece que está mais magro. E eu que trazia e trago um album de fotos mostrei-lhe todos os caixotes do lixo da cidade.
- Encontro sempre comida e já encontrei livros.
- Temos aqui um intelectual.
E naquele momento o meu pensamento começou a falar em voz alta e chamei-lhe todos os nomes a maior parte deles em francês. A mulher chamou o segurança e eu imaginei-o a bater no peito como os gorilas de sete rios contestando o aumento do passe social.
Trabalho é a palavra mais dificil, quando tento pronunciar é muito trabalho e não há compensação, deitar e levantar, abanar a cabeça para cima e para baixo, para os lados e saber que isto resulta sempre igu al como um cão que sempre levanta a pata para mijar e que sempre faz olhos pateticos para receber o osso, pois vai chegar o momento em que lhe será pago um salário como fazem á Dra Boldogue. Estou a olhar o rio e chega junto a mim o policia municipal.
- Tem licença para pedir, que faz com uma sanita ás costas?
- É para fazer as necessidades
- Já ouviu falar de saneamento basico?!
- Sou um turista, ando sempre em viagem.
- Está a gozar com a minha cara?!
- Tem um ar muito jovem e deve ter muita força, bloquear os pneus de um carro deve ser dificil, ouvi dizer que o mundo é governado por cerebros bloqueados.
- Devia tomar um bom banho
- Trazer uma banheira ás costas ia ser dificil, se eu conseguisse fazer chover, sabe fazer chover é assim... alguém com cara de parvo a olhar para o céu, já tentou a experiência?! os poetas tem essa capacidade, os poetas são doceis e ele olha para mim e eu começo a gritar que ele me está a assediar e que me quer multar por não ter comigo o seguro de sanita turistica.
As pessoas começam a gritar com ele e o coitado olha para o ceu e começa a chover e que merda logo no momento em que me deu a vontade, esta chuva não deixa de ser abençoada, hoje comi feijoada de porco, o porco é o meu signo chinês, gosto de provérbios chinezes, já tive um porco, dei-lhe o nome de um proverbio chines. O meu porco chamavasse quem anda á chuva molhasse. Costumava ler lhe os poemas do mestre apolinair e foi com grande tristeza que o levei ao matador, aquele amigo e irmão era muito saboroso, com outros mendigos fizemos um banquete, nem na mesa de um rei se podia imaginar um prato como aquele ornamentado com rodelas de ananás e vinho do porto, mas a amizade tras sempre desapego e era preciso matar o desejo, confesso que nunca tinha arrotado tanto que até perguntaram se aquilo tinha alguma coisa a ver com a fonetica chineza.
- Estão a gostar pergunto eu, quando era pequeno gostava de comer urtigas, as urtigas são boas para os problemas urinários, eu costumo urinar nas urtigas, já comi porco com urtigas.
- Isso é bom?
- Tem muitas calorias, é uma comida para o inverno.
- A minha irmã é vegetariana, ela gosta de sopa de urtigas, dessas em saquetas, que se vende nos supermercados.
- Já pensei ser vegetariano mas não consigo, também adoro batatas, as batatas são como os acentos na gramática dos paladares, bacalhau com batatas e umas couves de preferência galegas.
- Ontem encontraram morto um transexual, tinha chuva nos sapatos
- Foi crime?
- Parece que a policia descobriu um diário secreto, um diário compremetedor.
- Uma confisão?!
- Parece que foi o amante, a policia chama a este caso a confisão de Lucio.
Volto a olhar o rio, há sempre o momento para o fim de uma história e assim adormeço sem esquecer as minhas orações e as mãos lavadas. Daqui a pouco o tejo vem ter comigo a pedir que desenhe um electrico. Acordo no quarto de hospital, há um gajo com um lençol a tapar-lhe a cabeça, coitado está no matador, o porco vingou-se dele e a solidão não para nunca mais. Á minha volta estão muitos médicos.
- Esse figado está a desfazer-se
- O senhor Doutor pode dizer isso em Francês, o figado a desfazer-se e as flores da minha despedida... costumo escrever poemas, uma noite de lua cheia feri-me, era um golpe fundo, usei a folha dos poemas para estancar o sangue.
- Deixe-me ver o pulso, agora precisa de descansar.
Lá fora está de novo a chover, a sirene das ambulancias toca ensurdeceduramente parece o guincho do porco e nunca isso foi tão parecido á aflição que se pressente antes da morte chegar

Duarte poeta

Submited by

quarta-feira, agosto 12, 2009 - 11:36
No votes yet

lobo

imagem de lobo
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 7 anos 2 dias
Membro desde: 04/26/2009
Conteúdos:
Pontos: 2592

Comentários

imagem de ÔNIX

Re: Chuva nos sapatos

Um texto bem escrito com uma certa dose de humor onde se lê algo mais como critica social.

Onde é mesmo a gruta em Lisboa?

Gostei

Beijos

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of lobo

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Poesia/Intervenção como é o tanto faz 0 1.251 03/24/2011 - 01:16 Português
Poesia/Amizade Muitas vezes a gente não conta 1 1.176 03/24/2011 - 00:01 Português
Poesia/Aforismo se na outra margem 2 1.485 03/23/2011 - 20:57 Português
Poesia/Aforismo E se o mar lhe pega a saia 1 1.098 03/23/2011 - 20:48 Português
Poesia/Amor Até parece que o mar se esconde 1 1.062 03/22/2011 - 22:48 Português
Poesia/Aforismo cão de plástico 0 2.052 03/14/2011 - 01:21 Português
Poesia/Aforismo A tempestade comeu a rima 0 1.864 03/09/2011 - 17:32 Português
Poesia/Canção O prato não tem feijão 1 1.283 03/07/2011 - 21:18 Português
Poesia/Aforismo Há um poema atracado nas palavras 0 958 03/07/2011 - 17:49 Português
Poesia/Canção Quem pegou no grito 3 2.092 03/04/2011 - 22:10 Português
Poesia/Aforismo Noticia de jornal 0 1.452 03/04/2011 - 12:47 Português
Poesia/Aforismo Antes de morrer 0 2.282 03/04/2011 - 12:20 Português
Poesia/Aforismo O gato roeu o sapato 2 1.736 03/03/2011 - 23:38 Português
Poesia/Dedicado O beijo tinha aquele travo 2 981 03/03/2011 - 20:21 Português
Poesia/Geral O amor sempre dorme... 1 1.078 03/02/2011 - 18:09 Português
Poesia/Aforismo Não posso ficar triste 2 1.594 03/01/2011 - 22:55 Português
Poesia/Aforismo Naquele prédio 1 1.106 03/01/2011 - 04:24 Português
Poesia/Aforismo Ficar á espera 1 1.768 03/01/2011 - 03:37 Português
Poesia/Dedicado Vem o rei 1 1.320 03/01/2011 - 03:23 Português
Poesia/Aforismo A madrugada essa carne 0 1.206 02/28/2011 - 02:07 Português
Poesia/Canção Mexeu o saco 0 2.180 02/28/2011 - 01:48 Português
Prosas/Pensamentos Sabe o que é a tristeza? 1 841 02/28/2011 - 00:59 Português
Poesia/Aforismo O homem esgoto 1 1.490 02/25/2011 - 15:07 Português
Poesia/Aforismo Agora e na hora da nossa morte 3 2.383 02/23/2011 - 12:46 Português
Poesia/Amor O que está dentro da minha alma 0 1.348 02/22/2011 - 15:52 Português